O dia 18 de janeiro de 2014 marcou a data da oitava derrota seguida da UFJF na Superliga Masculina de Vôlei na atual temporada. O jogo em questão foi contra a equipe de Montes Claros, insucesso por 3 sets a 1 na casa do adversário. Uma fase de apatia dentro de quadra, percebida por todos que acompanhavam o time em sua trajetória. Foram sete rodadas sem marcar um ponto sequer, que apontavam para um desastroso final de campeonato.
Entretanto essa mesma data marcou o momento de reviravolta na competição. Uma virada nítida no modo de jogar de uma equipe que tinha valores e não merecia aquela situação. A partir de então, foram sete partidas: seis vitórias, sendo quatro seguidas sem perder um ponto, em um total de 17 pontos conquistados.
Além da forte entrega dos atletas dentro de quadra, outro componente somou ao time da UFJF sua grande experiência no ramo da psicologia no esporte, o que trouxe de volta o equilíbrio emocional necessário para o caminho das vitórias. O professor da UFJF, Renato Miranda, a convite da Comissão Técnica do Vôlei UFJF, exerceu um papel determinante junto aos jogadores e membros da equipe.
“Foi um mês de trabalho, pautado em diálogos e exercícios práticos, abordando a disciplina, concentração e motivação dos atletas. Ajudando-os a conviver com a pressão, para que eles pudessem voltar o foco no jogo de vôlei, que estava faltando à equipe durante o torneio”, afirmou Renato Miranda.
Para o diretor técnico do Vôlei UFJF, Maurício Bara, o acompanhamento feito por Renato Miranda foi fundamental na virada dentro de quadra. “Sozinho a gente não ia conseguir, ele (Renato) deu o suporte necessário para a equipe chegar com esse astral no final. Um profissional com a rodagem dele, que viveu o esporte de alto rendimento, só poderia contribuir para o nosso projeto” reforçou.
A UFJF não conseguiu a classificação aos playoffs, mas atingiu sua melhor campanha na história da Superliga Masculina. A nona colocação do torneio deste ano representou uma campanha vibrante e vencedora na reta final, com um trabalho conjunto que deixou claro, para a torcida e para quem acompanhou o time, que existia a possibilidade de se chegar a um grupo focado e equilibrado para representar a cidade na elite nacional.
Aplicação do trabalho
“Esse trabalho só foi possível porque os atletas tiveram um comportamento profissional. Foram compreensíveis, entendendo que há uma possibilidade de caminho diferente, que extrapola a parte técnica e a parte física”, frisou o professor Renato Miranda.
Segundo ele, os desgastes ocorridos pelas derrotas em série, a falta de coesão do grupo e o desânimo causado por esses fatores eram de certa forma normais, mas que precisavam ser trabalhados para que os atletas pudessem suportar a cobrança externa e se aproveitar dessa situação para a equipe voltar a vencer. “Tivemos que administrar a parte técnica, tática, física e a questão psicológica em benefício da equipe. Melhorar a concentração dos atletas, a coesão, a harmonia interna do grupo, em termos de participação, solidariedade, união e energia.”
“O que eu passei, e eles compreenderam muito bem, é que no esporte de alto nível a pressão é cotidiana, e eles não estavam se dando muito bem com ela. O que deveria ser feito era aproveitar essa pressão, que tanto a torcida quanto impressa gostam no jogo, e fazer dela um elemento a mais para jogar com vibração, e poder concentrar esse fator para chegar à vitória”, explicou Renato Miranda.
Ainda de acordo com Renato, esse trabalho foi posto em prática não apenas no diálogo com os jogadores, mas também dentro dos treinamentos, com exercícios práticos de concentração antes e durante cada atividade, buscando uma interação maior entre os jogadores e o aproveitamento máximo do acompanhamento.
Relacionamento com os membros da equipe
Lidar diretamente com os jogadores e membros da equipe do Vôlei UFJF era o principal objetivo do trabalho de Renato Miranda. Alguns atletas do elenco, como o experiente Jardel, que vinha enfrentando problemas com parte da torcida, foram motivados a continuar com seu trabalho e rendendo mais, puderam ajudar a equipe da forma que era esperado.
“Conversei com o Jardel e disse para ele que a melhor repercussão psicológica que existe é você jogar bem e o time vencer e, para isso, está faltando você se preocupar basicamente com as suas tarefas. Com isso, ele começou a incorporar que o esporte existe para fazer bem às pessoas, e seu jogo voltou com mais serenidade para ajudar a equipe”, revelou Renato sobre seu contato com o central, que passou a jogar de oposto para se encaixar melhor nas pretensões do time.
Para Renato Miranda, o desgaste que ocorreu entre os jogadores do elenco foi normal, e o trabalho de recuperação dependeu muito do treinador Chiquita. “Com um treinador mais enérgico como o Chiquita, que já viveu várias situações como esta no esporte, fica mais fácil recuperar o grupo. Trabalhei junto com ele, para reverter aquela fase complicada e o time confiou também no nosso trabalho, e tudo deu certo porque a equipe era muito boa também, e sobre aproveitar do momento ruim para conseguir coisas boas”.
Renato ainda destacou outros jogadores, como Deivisson, Japinha, Vitor Hugo e Lucão, que não estavam rendendo o esperado, mas que foram de extrema importância na reta final. “O Deivisson, por exemplo, um jogador muito vibrante, mas que jogava sozinho. Não partilhava dessa alegria com o grupo. Faltava a ele jogar mais com o time, concentrar essa vibração e passar isso para os companheiros, foi o que corrigimos juntos com basicamente todos eles também” finalizou Renato.
Larga experiência para ajudar a UFJF
A indicação de Renato Miranda para o trabalho de recuperação emocional e psicológica do elenco do Vôlei UFJF foi credenciada pela extensa atividade profissional na área da psicologia esportiva. Com mais de 30 anos do meio acadêmico, o professor da Federal de Juiz de Fora já foi atleta de modalidades como handebol e futsal, e trabalhou com vários atletas do esporte nacional, como o ex-jogador da Seleção Brasileira de Vôlei, Giovane Gávio, e também em outros esportes, como no automobilismo, na Formula Stock Car e na Formula Renault, e ainda com outras equipes de Handebol e Vôlei.
Renato Miranda também tem textos e livros publicados, abordando a prática benéfica do esporte e falando sobre saúde física e mental, com o objetivo de tornar mais amplo o conhecimento do público sobre hábitos relacionados ao esporte e ao lazer.
Ainda sobre o projeto da equipe local na Superliga Masculina, ele se diz pronto para continuar no trabalho com os atletas para a próxima temporada, uma vez que faz parte como professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e por concordar que o futuro do esporte no Brasil deve muito a projetos como esse realizado pela instituição.
Texto: Gustavo Fonseca