VAR. Versão brasileira: Vão Arrumar Rolo!

VAR Arte: Toque de Bola

 Vão Arrumar Rolo!

 Para mim, esta pode ser a tradução, no Brasil, até aqui, do VAR.

  O recurso de vídeo que seria a solução de todos os nossos problemas de arbitragem, anunciado pelos otimistas de plantão como “Visão Auspiciosa, Resolvedora e Reveladora”, um VARR com dois “erres” como o lendário Mário Vianna com dois “enes”…

  Queremos menos injustiças durante uma partida? Claro! 

  Que o melhor vença por méritos próprios e sem erros de avaliação da arbitragem? Claro também!

   Ocorre que infelizmente no Brasil o VAR é tão mal conduzido – por mais incrível que seja afirmar isso – que tem sido talvez até mais injusto que no tempo da arbitragem “artesanal”.

  Na sala da justiça

  Você eu não sei, mas quando mostram antes de o jogo começar aquele monte de gente diante daquele monte de monitor minha vontade é sumir para um monte ermo, isolado, sem TV ou internet. Lembra até aquele desenho dos super herois, quando entrava o bordão “enquanto isso, na sala de justiça…”

   Fragmentos

   Mas neste novo desenho, com a prateleira de cenas recortadas e isoladas, a nossa percepção é: os lances deixaram de ser analisados dentro de um contexto, de uma continuidade. E nesta fragmentação deixamos de ter um jogo de verdade e passamos a ser espectadores de uma infeliz mesa-redonda (sem som para a plebe rude) que atrasa a nossa vida, represa nossa emoção e tira a pulsação que existia nas quatro linhas.

  Orientação ao erro?

  Neste contexto burocrático, quando se erra os comentaristas de arbitragem logo se defendem (?) justificando: “foi uma decisão errada mas a orientação agora é esta”.

  Uai, a orientação agora é para errar??? Repararam como ficou tudo surreal e o que assistimos hoje não é mais jogo de bola?

   Mão é mão, não é não?

   O toque na mão ser pênalti obrigatório é um exemplo claro. O gol do Sport contra o Botafogo é um entre centenas de exemplos. Nenhuma intenção de tocar a mão na bola. “Ah, mas na câmera lenta…” Poxa! Câmera lenta não é visão periférica e completa do lance. É só uma possibilidade de desfazer dúvidas sobre alguma situação de jogo. Não é prova de crime.

  Quer que desenhe?

   Outra situação irritante: a torta linha nacional de impedimento que não esclarece coisa alguma (foi, aliás, uma das pouquíssimas confissões de erro da comissão de arbitragem da CBF, que adora se arvorar e citar porcentagens espetaculares de acerto do VAR).

   Então virou rotina (maioria dos casos). Há uma análise técnica e burocrática de imagens paralisadas que vão e voltam até serem novamente paralisadas, e uma transferência surreal de responsabilidade.

   Nada do que foi será

   O árbitro de campo está em cima do lance. Ok. Interpretou e mostrou cartão amarelo por simulação ao atacante. Pera. Para. Mão na “zoreia”, pede calma, corre na “telinha do arrependimento”, volta atrás saltitante. Marca pênalti com aquele gestual de “conosco ninguém podosco” e ainda manda ver no cartão ao zagueiro, anulando o do atacante, que, acredite, até tinha recebido uma bronca. Na boa? Aí só pode ser questão oftalmológica.

  E o assistente, neste VAR, tem muito mais possibilidades de atrapalhar, antecipando um impedimento que não existe para depois ser desmentido, do que ajudar. “Calado é um poeta”, diria Romário.

  Para aumentar o repertório de cenas dantescas, temos os treinadores enchendo a cabeça do quarto árbitro, que passa a ser advogado de seus companheiros de campo e de vídeo, sem saber de fato qual réu está defendendo. 

   Sentimento preso

  Além das injustiças, o VAR (aqui não é só o nacional) não nos deixa comemorar ou lamentar os gols do nosso time no momento exato. Perdemos a indescritível oportunidade de extravasar, seja comemorando ou malhando quem veste a “nossa” camisa.

   Vão nos desculpar os seus defensores, mas até aqui, fevereiro de 2021, o modus operandis do VAR brasileiro, com exceções e  convivendo com uma crônica e não punida deseducação de comissões técnicas, jogadores e dirigentes (aliás, que comportamento tosco o destes senhores naquelas cadeiras dos credenciados!), virou sinônimo/tradução de:

Vão Avacalhar o Resultado

Virão Anúncios Ridículos

Você Acredita ou Ri?

Verdade Absoluta ou Relativa?

Viu Aquilo no Replay?

 

 Texto: Ivan Elias

 Arte: Toque de Bola

Ivan Elias

Ivan Elias, associado do Panathlon Club de Juiz de Fora, é jornalista, formado em Comunicação Social pela UFJF. Trabalhou por mais de 11 anos no Sistema Solar de Comunicação (Rádio Solar e jornal Tribuna de Minas), em Juiz de Fora. Participou de centenas de transmissões esportivas ao vivo (futebol, vôlei, etc). Apresentou diversos programas de esporte e de humor, incluindo a criação de personagens. Já foi freelancer da Folha de S. Paulo, atuou como produtor de matérias de TV e em 2007 e 2008 “defendeu” o Tupi, na Bancada Democrática do Alterosa Esporte, da TV Alterosa (SBT-Minas). Criou, em 2010, ao lado de Mônica Valentim, o então blog Toque de Bola que hoje é Portal, aplicativo, Spotify, Canal no Youtube e está no Twitter, Instagram e Facebook, formando a maior vitrine de exposição do esporte local É filiado à Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE) e Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (Abrace).

Este post tem 36 comentários

  1. Ivan Elias

    Pois é, Waninha. Estão querendo criar o “chatobol” no Brasil com esse jeito errado de usar o recurso de vídeo, que teoricamente seria excelente. Abraço e obrigado pela mensagem!

  2. Wania

    Concordo, Ivan. Ficou td mto sem graça!!!

  3. Ivan Elias

    Muito obrigado, Paulo! Sua opinião é muito importante, seja como presidente da Liga de Futebol de Juiz de Fora ou como desportista que gosta do esporte com disciplina. Abraço!

  4. Paulo César Durães Luiz

    Parabéns Ivan , texto esclarecedor e de facil entendimento para que possamos emitir uma opinião .

  5. Ivan Elias

    Valeu, Schmidt! Muito obrigado pela mensagem e participação. Abraço!

  6. Sérgio Schmidt de Andrade

    Concordo em gênero , número e grau.

  7. Ivan Elias

    Obrigado, Luiz! Também fico com essa impressão. Antes, cobrávamos de certa forma uma arbitragem com critérios. Agora, com o VAR, segue em linhas gerais a falta de critério e, para piorar, o jogo (no Brasil) não “anda”. Abraço!

  8. Luiz Henrique

    Muito bom o título e a matéria, VAR (Vão Arrumar Rolo). Sou a favor do VAR, mas em linhas gerais a impressão é que ele trouxe para arbitragem brasileira mais insegurança do que segurança. Ficam com receio de serem desmentidos pelo VAR, marcando ou não a infração percebida no calor da disputa. No jogo isolado de ontem (sem clubismo), teve um lance que poderia ser revisado. Penso que as vezes o árbitro deixa por conta da sala da justiça (boa também), mas aí ela não chama e a insegurança permanece. Chama para um determinado lance, mas para outro semelhante não chama.

  9. Ivan Elias

    Vamos confiar que alguém terá bom senso para reconhecer que está tudo fora do lugar, Vicente. Abraço, saudações!

  10. Vicente Ferreira

    É isso mesmo Ivan, precisamos melhorar muito e quando não admitimos os erros fica ainda mais difícil concertar-los!
    Um grande abraço e Sd Tricolores!

  11. Ivan Elias

    É verdade, Gilmar. A impressão é que ao contrário de ficar melhor eles se perderam de vez com o VAR. Saudações tricolores

  12. Gilmar Quaresma

    Texto como sempre perfeito, acho que um ship na bola prá ver se entrou ou não no gol e profissionalizar a arbitragem de verdade prá melhorar a condição. Mas, teria que se proibir as TVs de mostrarem o seu VAR, errou tá feito, depois a gente chora ou ri. O futebol tem a interpretação da regra em tudo, mão na bola ou bola na mão, por exemplo, excesso de força na falta ou maldade. Para o futebol ou é isso ou coloquemos robôs para arbitragem. Saudações tricolores.

  13. Ivan Elias

    Tornaram o jogo, que era divertido, num compromisso chato. Abraço, Peralva!

  14. Sérgio Peralva

    Sensacional e realista ao extremo o texto, amigo Ivan Elias. O futebol perdeu muito de seu encanto com esse mal fadado VAR.

  15. Ivan Elias

    Esse VAR nacional está de lascar, Wagner. Sua sorte é que nas nossas peladas eu sempre deixava você na cara do gol e nenhum VAR teria coragem de anular aqueles lances espetaculares. Abraço!

  16. Wagner Alves

    A tecnologia funciona no vólei, no tênis…quando que que no futebol será útil???
    Concordo com vc meu amigo ivan elias

  17. Ivan Elias

    Obrigado, Fernando! Valeu mesmo pelo comentário. Vamos torcer para alguém entender também que estão errando na mão. Abraço!

  18. Fernando Costa

    Bela crônica, Ivan. Divertida, sucinta , e verdadeira. Acho que representa bem o sentimento de todos nós amantes do bom futebol. Abraços

  19. Ivan Elias

    Por aí, Ricardo. A situação só piora. Custam a admitir erros, pelo menos publicamente, e não vemos resultado ou evolução. Obrigado pela mensagem, abraço!

  20. RICARDO PRATA RODRIGUES

    Parabéns pelo belo e verdadeiro texto,Ivan. Infelizmente a autocrítica da comissão de arbitragem não existe. Ainda se vangloriam achando que fazem um bom trabalho.

  21. Ivan Elias

    Valeu, Cláudio e Jéssica! Erro zero também concordo que seja utopia. Mas acreditava que diminuiria bem mais a injustiça de decisões erradas. Abraços!

  22. Jessica Tepedino

    Verdade, melhor que o VAR seria a profissionalização da “arbitragem artesanal”. Se os árbitros treinassem como os goleiros de futebol por exemplo, com certeza o percentual de erro seria menor. Embora erro zero no futebol seja utopia.
    Cláudio Rogel

  23. Ivan Elias

    Isso, meu amigo Moysés. No Inglês, pelo que acompanhamos, é bem diferente. Obrigado pela participação e atenção de sempre com o Toque de Bola!

  24. Moysés Andrade

    Mestre das palavras.
    Resumiu tudo o que foi o VAR, no Brasil, pois na Inglaterra é excelente por exemplo.
    Parabéns meu amigo !!!

  25. Ivan Elias

    Valeu, ponta-ponta Claudinho! Obrigado pela atenção de sempre

  26. Luiz Claudio

    Perfeito! Perfeito!! Aguardando ansioso pelo próximo. 🤝⚽️

  27. Ivan Elias

    Está complicado, né, Betinho? Muito obrigado pela sua participação, por tantos anos de futebol sabe o que está falando. Abraço!

  28. Carlos Alberto Inhan

    A verdade ,é que o var tem a sua importância para várias situações e melhorias para arbitragem ,mas infelizmente esse pessoal, demonstram que nunca entenderam nada de futebol !

  29. Ivan Elias

    Obrigado, Igor! Vamos torcer por este aprimoramento. Sua opinião é importante por toda a sua trajetória na arbitragem. Abraço

  30. Igor Monteiro

    Parabéns pelo texto, Ivan! Você trouxe uma importante reflexão. Creio que a utilização do VAR ainda necessita de aprimoramentos mesmo. O debate é o caminho para se chegar nos avanços almejados. Essa crônica foi mais um golaço do Toque de Bola.

  31. Ivan Elias

    Verdade. No vôlei também acredito que o desafio é interessante. Cabe aos treinadores indicar lances específicos de revisão. Há um critério. Obrigado pela mensagem. Abraço, Kiko!

  32. Mário Kiko

    Acabei de ler a crônica. Para mim o VAR tinha que ser semelhante ao do tênis. Duas possibilidades de consulta por time a cada tempo e não acumulativa, isto é, se não usou perdeu a chance. No caso de consulta, se acertou na reclamação continua com a oportunidade de pedir duas revisões. A decisão já viria pronta da mesa revisora e passaria no telão

  33. Ivan Elias

    Obrigado, Samir!

  34. Samir felippe Jabour

    Tamos Juntos!…👏👏👏

  35. Ivan Elias

    Álvaro, o seu comentário é muito importante para nós por tudo que você já fez também nas quatro linhas pela arbitragem brasileira. Será que as “autoridades” do nosso futebol não estão enxergando como está mal conduzido o VAR? Abraço!

  36. ALVARO DE AZEREDO QUELHAS

    Muito boa Ivan!!!
    Parabéns!!!
    A arrogância, a soberba, a cultura autoritária, desmoralizaram o VAR no Brasil.
    A arbitragem brasileira está entregue nas mãos de gente muito vaidosa, que não quer ouvir as críticas, agarrada à cargos que rendem boa remuneração para poucos, como Leonardo Gaciba, e outros têm necessidade de afagar sua auto estima pela exposição midiática e certo poder de que desfrutam.
    Eles estão no comando e no poder há mais de uma década, e até hoje não colocaram a arbitragem nacional no nível das mais desenvolvidas, mantendo uma estrutura arcaica e ultrapassada perpassada por fortes ingerências políticas.
    Parabéns.
    Abraços

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