Integrante do quadro de arbitragem da FIFA, assistente pela segunda vez, na Rússia, em uma Copa do Mundo, Marcelo Vangasse foi o convidado da reunião mensal do Panathlon Club Juiz de Fora, promovida na noite desta segunda-feira, dia 20.
Satisfeito pelo desempenho do trio brasileiro no Mundial, Vangasse revelou que faltou muito pouco que ele e seus companheiros não tivessem sido escalados para uma das semifinais, entre França e Bélgica.
Com atuações consideradas muito boas, Marcelo, Sandro Meira Ricci e Emerson Carvalho tinham muitas chances de reaparecer, mas o árbitro principal foi vetado pelo departamento médico por ter sofrido uma contusão no encontro entre Croácia e Rússia – um 2 a 2 nas quartas-de-final que eliminaria os anfitriões nos pênaltis. Antes, os brasileiros estiveram em ação em França x Dinamarca e Croácia x Nigéria.
Tudo no papel
Sobre os bastidores do Mundial, Vangasse destacou a enorme gama de informações que as equipes de arbitragem recebiam da FIFA antes de cada partida.”Entramos em campo com todas as informações possíveis sobre as equipes que estariam em ação. E hoje acreditamos que os jogadores mais atentos e interessados também entrem em campo já cientes do comportamento daquele trio de arbitragem escalado”, observa o assistente, do quadro da Federação Paulista.
VAR sem volta
Assim como havia se manifestado antes do Mundial, Marcelo entende que a introdução da equipe da arbitragem de vídeo foi uma medida acertada e que não tem mais volta. “Quem vai pagar, como se discute no Brasil ou a qualidade do equipamento, que é diferente na Europa ou no Brasil, são questões que devem ser solucionadas com o tempo. É inegável que o número de erros diminui”, diz.
Oito câmeras no impedimento
Para exemplificar, comenta: “Eram oito câmeras só para a linha de impedimento”. Para um assistente, nada melhor. Questionado sobre a polêmica que ainda persiste para casos de interpretação, voltou a dizer: mesmo alertado pela equipe de vídeo sobre eventuais infrações, o árbitro principal pode, ao ver câmeras diferentes, manter a decisão que ele tomou no campo, em fração de segundos”.
Pressão “futura”
Sobre o comportamento de atletas em jogos na Europa e no Brasil quanto ao árbitro de vídeo, Vangasse entende que no Brasil há uma certa cultura de se pressionar a arbitragem, talvez não por aquele lance que acabou de ocorrer, mas já para se pressionar sobre uma atitude mais adiante, na mesma partida. Os jogos da Copa do Brasil, porém, segundo ele, são bons exemplos que a situação pode mudar. Se o árbitro diz: “Calma, estou conversando com o árbitro de vídeo”, o jogador já aceita, não tem o que contestar enquanto ele tem esse diálogo.
“Um árbitro toma 200 decisões durante uma partida, e se em uma ou duas delas interfere no resultado, não tem perdão. Já um atleta pode não ter feito praticamente nada, mas se assinalar um gol salvador aos 45 do segundo tempo vira herói”, compara.
Neymar em pauta
Como se esperava, a mini-palestra do assistente da FIFA rendeu diversos comentários e polêmicas sobre decisões da arbitragem.
Vangasse confirmou que o comportamento de Neymar (cair no gramado ou rolar em demasia, por exemplo, reclamando de dores) foi muito ironizado até por crianças e adolescentes nos bastidores do Mundial. “Às vezes, na rua, um jovem perguntava se eu era brasileiro, e quando eu respondia que sim, ele caía, para fazer referência ao Neymar”.
Sobre a questão da profissionalização de arbitragem no Brasil, Vangasse informa que a Lei já está sancionada, mas que por algum motivo ainda não entrou em vigor.
Arbitragem “caseira”
Um agradecimento especial à esposa, Eliana, também ganhou espaço ao final da apresentação de Vangasse. “Tenho que agradecer muito á minha esposa. Há situações em que estamos longe e ela precisa resolver. Numa véspera de semifinal de Campeonato Paulista, meu filho teve que ser internado e eu não tinha como voltar sábado, a partida era no dia seguinte. Nessas horas precisamos desse suporte”.
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola e Panathlon Club Juiz de Fora
Foto: Toque de Bola