Não sei quem inventou a frase “quem sabe faz ao vivo”. Sei, no entanto, que podemos substituir fácil pela frase “complicou, tem gafe ao vivo”.
Estamos nos referindo a uma breve lembrança do tanto de confusão que já arrumamos no veículo mágico chamado rádio. O dia da publicação deste texto (13 de fevereiro) foi instituído Dia Mundial do Rádio.
Logo na primeira participação no programa Super Bate-Bola, às 18h, do então estúdio no auditório da B-3, na rua Santo Antônio, o professor da UFJF e chefe da equipe de esportes Márcio Guerra determinou quais seriam as primeiras participações deste humilde locutor que vos fala (corrigindo o próprio texto: um estudante do quinto período do curso de Comunicação Social, nada de locutor).
Repórteres mais experientes falariam dos quatro clubes de maior torcida do Rio ou dos nossos clubes aqui de JF. O estreante aqui ficou incumbido de pesquisar (na época, a pesquisa não ia muito além de ouvir a Rádio Globo e ler os jornais) e apresentar um resumo das principais informações do América, primeiro, e em outro momento do Bangu.
Pesquisa feita, é chegada a retumbante hora. “Agora as informações do América com Ivan Elias”. Beleza. Lá vem o calouro: “Boa noite, Márcio Guerra, amigos ligados no Super Bate-Bola, o América pá, pá, pá e pá”. Pronto. Olhares de aprovação de quem estava no estúdio (bem, safanão pelo menos não lembro de ter levado).
Rodam os outros repórteres e volta pra essa simpatia aqui. “E agora o noticiário do Bangu”. Ocorre que eu só planejei aquele boa noite decoradinho para discorrer sobre o América. E quando o microfone se abriu para um Brasil de audiência ouvir as boas do Bangu, bateu o branco, rapaz. Eu não sabia como entrar nas notícias sem uma outra introdução.
O que faz, então, este suprassumo da inteligência? Repete o mesmo “boa noite decoradinho” do América pro Bangu e dali segue o jogo: o clube de Moça Bonita pá, pá, pá e pá. Sob olhares de nem tanta aprovação (mas, ufa, ainda sem safanão) chamam os reclames comerciais.
E, fora do ar, vem a pergunta que eu não queria ouvir: afinal, por que você deu duas vezes boa noite? Sem resposta para aplacar a curiosidade geral, só encontrei uma saída: “É que alguém pode não ter escutado as notícias do América e aí perdeu meu primeiro boa noite”.
Se a resposta colou? Sei lá. Ou vocês teriam, mais de 30 anos depois, algum plano B diante de um professor-chefe?
Bem, feio feio, horroroso, não foi. Esquisito? Bastante. Aí, no dia seguinte, encontro com o saudoso carijó tio Rafael, na verdade irmão do meu avô, e ele primeiro cumprimenta pela participação: “Ô, Ivan, parabéns! Estava ouvindo. Falou bonito”.
Agradeci, mas sem muito tempo para ouvir uma outra pergunta indefensável: “Mas por que você falou gritando daquele jeito?” “Ô, tio, não sei explicar. Sei é que quando começou o programa já achei meio gritado, quando continuou, mais gritado ainda. Achei que se eu falasse mais baixo ninguém iria prestar atenção”…
Pronto. Assim começa a nossa trajetória diante do microfone. Depois conto mais um tanto dessas pérolas para os amigos. Quem sabe alguém que está lendo agora ouviu dois boas noites deste intrépido e gritante calouro da rua Santo Antônio? Já pode usar o segundo boa noite como cash back (não sei direito o que é, mas achei legal encerrar a crônica com esta “promoção retroativa”. Tô falando que esse pessoal de rádio é tudo maluco?)
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola
Foto: Toque de Bola
observação:
- segundo o site “Calendarr”, “a data foi criada e oficializada em 2011, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). O primeiro Dia Mundial do Rádio foi celebrado apenas em 2012”.
- Para quem ainda não conhece, dentro do Portal Toque de Bola temos uma web rádio chamadas Nas Ondas do Toque. Além disso, nas redes sociais do Toque (face, youtube, Instagram) em diversos momentos estamos por lá, muitas vezes citando histórias do rádio
- Não localizei aqui uma foto do estúdio do auditório da Super B-3 citado na crônica. Caso algum antigo companheiro tenha, pode nos enviar?
- daqui a pouco o espaço das observações fica maior que o da crônica
- não fique com preguiça de comentar algo sobre o texto na área de comentários do Portal. Valeu!
Grandes histórias belas lembranças, é assim que caminhamos. O aprendizado do dia/dia nos faz melhor, mas recordar é viver, por isto gostaria de deixar meus parabéns para você ter entrado neste canal, e por mais que gritasse e por mais de 2 boas noites, isto fica, isto marca, é história sua, massageia o ego, nos traz coisas boas, parabéns e siga em frente, estarei te seguindo, abraço
Se “valeu”…? Sem você tudo no rádio, nos esportes e no coração de Mônica teria sido de outra maneira, rapaz!!!! Vai daqui meu mais amplo abraço de parabéns… (e olha que “amplo abraço” tratando-se de mim não é brincadeira…)
Eu não me lembro se tive a sorte de ouvir esses dois “boa noite”, mas é muito gratificante constatar que você valoriza esse meio de comunicação que ainda é minha companhia por vários momentos durante o dia. Parabéns para você que nos motiva a manter o rádio ligado.
O importante foi o conteúdo que você passou para os ouvintes, bem provável que só teu professor no estúdio reparou o repeteco do boa noite. A tua saída foi excelente, fosse um atleta de futebol, teria sido uma ótima finta de improviso próximo a linha lateral do campo.