Tupi: questões e respostas sobre a permuta do Salles!

O Salles Oliveira será permutado com construtora

  Desde o fim de 2019, o Tupi encaminha a permuta do Estádio Salles Oliveira, em Santa Terezinha, com a Construtora Rezende Roriz. Aprovada nos conselhos Consultivo e Deliberativo entre o fim de janeiro e o início de fevereiro deste ano, a efetivação da troca do local histórico para os alvinegros por um centro de treinamentos moderno estava em vias de ter seu contrato assinado e cerimônia de lançamento realizada logo antes da pandemia do novo coronavírus.

  Apesar de os trâmites terem sido afetados pela crise sanitária mundial, mesmo a passos lentos, o processo ainda está em andamento. Mas a iniciativa ainda desperta dúvidas em torcedores e sócios do Carijó.

  Para tentar elucidar pontos levantados pela torcida alvinegra e associados do Tupi, o Toque de Bola ouviu com exclusividade o presidente do Clube, José Luís Mauler Júnior, o Juninho, e o responsável pelo projeto na Rezende Roriz, o diretor de incorporação, Marcus Rezende.

Cálculo de valores

  “A permuta está caminhando. Claro que alteraram-se datas, pagamentos e compromissos assumidos por conta da pandemia. Mas está concretizada e assim que tudo se normalizar, vamos fazer o lançamento do centro de treinamentos”, garante Juninho.
  Rezende dá pista de onde deve ser o empreendimento. “Estamos aguardando a liberação da área para construir esse novo CT. Já demos entrada na informação básica em dois lugares, mas a tendência é que seja em Grama. Que é um bairro que está crescendo muito e tem uma estrutura melhor para receber os jogadores, que ficarão alojados no local, e o estádio.”

Local em Santa Terezinha será da Rezende Roriz

  O valor da construção do novo CT estádio para cerca de cinco mil pessoas, dois campos de futebol para treinamento, alojamento, clínica de fisioterapia, ginásio, quadra de areia, academia e piscina. O custo estimado  é de cerca de R$ 17 milhões. Já o Salles Oliveira entra na permuta com o valor de R$ 12 milhões. “Foi usada uma formula técnica para se calcular o valo do terreno. Determinou-se o valor do metro quadrado, tendo como base o empreendimento que foi feito ao lado. Chegamos à conclusão, obviamente não só da área, mas também das dependências, e fechamos”, explica Juninho.

Valor maior

  Segundo Marcus, a Rezende Roriz até mesmo considera valor acima do mercado para a entrada do terreno de mais de 12 mil metros quadrados em Santa Terezinha no negócio. “O contrato ficou com o valor de R$ 1 mil o metro quadrado, apesar de avaliações de perito de que valeria R$ 700″, conta.

  Ainda no negócio, a construtora vai assumir dívidas do clube.”Estamos entrando com a quitação da dívida trabalhista, mais um valor em dinheiro para o clube restabelecer as contas que estão em aberto. Totalizando R$ 2 milhões. O restante será investido no CT. A diferença (entre o valor do terreno e o investimento no CT) ainda está em aberto. Vamos avaliar como será feito. Pode ser com sócios-torcedores, que  clube irá atrair a partir da inauguração do CT, ou mesmo patrocinadores, que iremos ajudar o clube a buscar, futuros negócios”, revela Marcus.

Ilustração do projeto novo estádio do Tupi

Como manter?

  Com o encaminhamento da permuta do Salles Oliveira, torcedores levantam questões, como a do conselheiro da principal torcida organizada do clube, a Tribo Carijó, Daniel Santos.
  “O clube sempre teve dificuldade em arrumar patrocínios, nunca se sabe se vai ter verba nem para pagar a folha salarial. Queria entender a questão de que o Tupi vai ter que dispor de dinheiro de patrocinadores para poder pagar o restante do investimento no CT, colocando isso como garantia. Como isso seria feito e até quando?”

  Em linha semelhante, o historiador carijó, Léo Lima, levanta se o destino do novo centro de treinamento não será o mesmo do atual estádio. “A permuta do Salles e a construção do novo CT trará novas despesas para o clube. Gastos de manutenção depois de o local construídos serão constantes. Quais os recursos que o clube terá para mantê-lo? Se não, vai acontecer o que houve com o Salles. Com o tempo, o local não teve o cuidado necessário, foi abandonado e sucateado. Corre o risco de ocorrer o mesmo com a nova instalação”, avalia.

Fórmula incerta e ajuda

  “Não vai ser sustentado por patrocinadores. Existem interesses de empresas de colocarem sua marca no CT, a Roriz é uma delas. Por si só, o local vai ser locado para times que vierem jogar em Juiz de Fora, terá também um hotel de trânsito que vai gerar renda para o clube. Ele está sendo feito com o objetivo principal de formar atletas, emprestá-los e vendê-los, além de municiar o time principal”, explica o presidente do Tupi, que terá ajuda da construtora no expediente, apesar de não falar em co-gestão do local.

Terreno é avaliado em cerca de R$ 12 milhões

  “Eles nos ofereceram profissionais para nos ajudar no clube, fazer os levantamentos, de débitos fiscais inclusive. Uma vez que eles têm obrigação de pagar parte desses débitos, além de quitar as ações trabalhistas”, detalha Juninho. 
  “O interesse da empresa não é só comercial. É ajudar o Tupi. Não adianta só colocar o clube com o CT e ele não ter condições de administrar e manter o que irá receber”, completa Rezende.

Perda de patrimônio?

  Alguns sócios do Tupi foram pegos de surpresa pela permuta, não concordam e gostariam de mais esclarecimentos, como Luiz Fernando Siqueira. “Fiquei surpreso quando soube da negociação. Não vi vantagem. As dependências dos Salles são no Centro da cidade e, com algumas melhorias, poderia ter sido feito um CT legal. Isso sem dispor de mais um patrimônio que não é só do Tupi, mas de seus associados”, considera o associado que chegou a sugerir uma assembleia geral para que o negócio fosse discutido amplamente.

  De acordo com Juninho, o Tupi não está perdendo patrimônio, mas se modernizando. “Não tem como ser uma perda de patrimônio porque estamos recebendo um local que será praticamente duas vezes o valor do Salles Oliveira. Se queremos crescer e nos modernizar, nada melhor do que ter um centro de treinamentos. É uma estrutura que todo grande clube almeja e muitos ainda não têm. Vamos pegar um patrimônio muito mais moderno e utilizável do que o que atualmente o clube tem.” 

Torcedores e sócios questionam o negócio

  Sobre a discussão mais ampla com os associados, Juninho explica que esta não é uma obrigação pelas regras do clube. “Estamos cumprindo o estatuto. Não existe previsão estatutária para convocar assembleia neste caso. Ele prevê que seja consultado o conselho consultivo e o deliberativo. Caso houvesse divergência entre esses dois conselhos, aí sim teria que ser convocada uma assembleia. Não houve, então não há nada de errado nisso.”

 Necessidade tem peso maior 

  O mandatário carijó considera modernizar o Salles impossível. “Transformar o Salles em CT é totalmente inviável. Um centro de treinamento moderno tem que ter, no mínimo, três campos. Lá só cabe um, como se pode facilmente perceber. Além disso, tem todas as dependências de infraestrutura como piscina, quadra de areia, ginásio, academia e fisioterapia. Para reformar Santa Terezinha, o Tupi não teria dinheiro e nem como atrair um parceiro por não ter nada a oferecer em troca da reforma.”

  Juninho reconhece a importância do estádio historicamente, mas acredita que ele está superado. “O valor sentimental existe, é importante e é histórico. Mas não pode inviabilizar um progresso do clube. Um projeto que vai servir para termos um futuro melhor, mais promissor e mais sustentável dentro do futebol. O Salles foi feito muito bem, com muito carinho e serviu muito bem ao Tupi. Atualmente, não atende aos padrões da Federação, da CBF e da Fifa para ter jogos, por exemplo.”

Rezende Roriz vai ajudar a captar patrocinadores

  Para o presidente, o novo empreendimento aponta para o futuro alvinegro. “O que estamos fazendo é um projeto para que o clube fique autossustentável no esporte que é seu carro chefe. Queremos fazer em um nível diferente, com outra estrutura. Para que não fiquemos todo ano mendigando patrocinadores, não tendo onde treinar categorias de base que não é forte o suficiente para sustentar um time. Com o CT isso vai ser solucionado e vamos poder entrar em outro patamar.”   

Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos

Fotos: Toque de Bola; divulgação Rezende Roriz

Este post tem um comentário

  1. José Inácio Ferreira de Almeida.

    O Americano de Campos dos Goytacazes fez isso. Cedeu seu estádio Godofredo Cruz, por um centro de treinamento. Mas a construtora só tomaria posse do terreno do estádio quando o CT estivesse pronto. Acho que o Tupi deveria fazer o mesmo com a sede social. Fazer uma permuta com uma construtora e no terraço do empreendimento fazer sua sede social. Secretaria, salão de festas, piscina e outras coisas à mais.

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