Coragem.
Esta pode ser a expressão para definir a iniciativa do alteta juiz-forano Thiagus Petrus, titular do Barcelona, da Espanha e da seleção brasileira.
Em artigo forte, sem rodeios ou meias palavras, publicado em sua página no Instagram, ele questiona e critica duramente atitudes tomadas recentemente pelos dirigentes da Confederação Brasileira de Handebol.
Sem medo de “se molhar”
Assim que tomou conhecimento do artigo, o Toque de Bola conversou com Thiagus, que justificou sua posição:
“Fiz o texto porque acho que chegou um momento insuportável. Eu achava que precisava expor meus pensamentos, minha opinião… Que a comunidade, especialmente do handebol, soubesse o que eu sinto. É importante porque na real a maioria dos jogadores tem medo de se molhar, com razão, e ser cortado da seleção. Esse é o caso porque muita gente não se posiciona. Mas eu entendo. Em algum momento também já fiz isso para não me queimar, para não ter problemas. Mas chegou um momento que está difícil a situação. Por me posicionar, não perco nada”.
Questionado pelo Toque de Bola se ele acredita que possa haver um movimento de outros atletas apoiando a sua manifestação, respondeu: “Não sei. Acho difícil justamente pelo medo de se molharem”.
Mudanças de treinador
De acordo com o que revelou, no último dia 7, o site 7M Handebol Total, “o técnico multicampeão por Taubaté Marcus Tatá é o mais novo técnico da seleção brasileira masculina adulta e deve comandar os Guerreiros na fase em Portugal já em novembro e no mundial do Egito, em janeiro de 2021. Tatá esteve com a seleção no mundial da Alemanha como supervisor e agora, substitui o técnico Washington Nunes que claramente ficou na linha de fogo política da CBHb. Washington Nunes havia “reassumido” a seleção após o retorno de Manoel Luís ao comando da CBHb e agora, com a saída definitiva do dirigente, CBHb fica sob gestão de Ricardinho que novamente tira Washington e toda comissão do cargo.”
O artigo de Thiagus
Confira a íntegra do artigo de Thiagus Petrus (ele autorizou a publicação pelo Toque de Bola):
Título: Minha opinião sobre a atual situação da seleção adulta masculina
Na última semana fui surpreendido com mais uma mudança de técnico na Seleção Brasileira de Handebol masculina adulta. É a terceira ou quarta alteração em um ano. Tudo indica que a posição de técnico deixou de considerar as competências profissionais e esportivas, passando a ser – sobretudo – uma posição política.
Após as Olimpíadas de 2016 ficou mais que evidente a necessidade de um técnico estrangeiro, no entanto, o único a assumir o cargo – desde então – perdurou nele por menos de um mês.
É triste para o esporte – e especialmente para mim – que a posição de técnico da seleção tenha se tornado uma moeda de troca, priorizando-se sentimentos pessoais e interesses individuais em claro detrimento do interesse coletivo e nacional. O cargo de técnico da Seleção Brasileira deve ser ocupado visando ao fortalecimento da equipe e ao desenvolvimento nacional da modalidade, sendo condenável qualquer manobra que desrespeite tais finalidades. O bem coletivo deve vir na frente de tudo e de todos. Infelizmente não é o que temos visto na nossa Confederação.
Ao saber que tínhamos – mais uma vez – mudado de presidente e de técnico, meu sentimento foi de tristeza e de revolta. Parece que todo o trabalho que fazemos na Seleção não é levado em consideração.
É triste a situação que estamos vivendo na nossa modalidade, como se já não fosse suficiente a pandemia mundial que a todos afetou. Ainda não sei que sentimentos tenho em relação ao momento atual da Seleção masculina. Sinceramente acredito que o melhor caminho seria buscar um técnico estrangeiro que possa contribuir, efetivamente, na evolução dos jogadores e no desenvolvimento da modalidade no Brasil, como foi feito no passado. Mas não é apenas isso! Necessitamos, urgentemente, dar uma continuidade efetiva nos acampamentos regionais e nacionais e cuidar das categorias de base – que são o futuro do nosso esporte a curto, médio e longo prazo.
Já a opinião dos atletas e principais atingidos pela mudança de técnico – que deveria ter enorme relevância – nunca foi levada em consideração na história da modalidade ou, pelo menos, desde que eu faço parte da Seleção principal. Em um período em que, mundialmente, a comunicação e transparência fazem parte da política da maioria das empresas e organizações esportivas, o handebol vai na contramão, já que não sabemos o que realmente acontece na nossa modalidade.
O maior exemplo da ineficiência da atual gestão do handebol nacional foi o ocorrido recentemente com as categorias de base. Embora classificado para os mundiais das categorias de base, o Brasil não pôde ser representado por falta de recursos. Os atletas sequer tiveram oportunidade e tempo hábil para juntar dinheiro – por conta própria – para representarem o nosso país, a exemplo do que aconteceu com o handebol de areia em que os atletas arcaram com a maior parte dos custos e voltaram com excelentes resultados.
Os atletas da Seleção necessitam apenas do básico para a prática do Handebol em alto nível. Um alojamento com cama e alimentação adequadas, uma quadra limpa e apta para a prática do esporte, bolas e cola de qualidade, além de um técnico qualificado e capaz de ajudar no desenvolvimento dos atletas e da equipe como um todo.
Por temer retaliação é que grande parte dos jogadores deixa de se posicionar e de cobrar da Confederação medidas em prol do Handebol. O receio de falar algo que desagrade certas pessoas – e ser cortado da equipe principal por isso – assombra os atletas. É inadmissível que o atleta, estando no nível exigido para a Seleção, possa ser excluído da equipe principal por buscar o melhor para a modalidade.
“Jogador tem que se preocupar em jogar”. Essa é uma das afirmações mais corretas que já escutei. No entanto, é necessário que se tenha o mínimo de respeito com os atletas, o que não temos visto no Brasil.
Seguindo minha consciência, continuarei lutando pelo melhor do handebol e defendendo a Seleção, quando convocado, com o meu máximo. Como sempre fiz.
Diante de toda a má política em que o handebol está envolto, vejo um cabo de guerra de diferentes partes. Não sabemos quem vai ganhar, mas sabemos sempre quem vai perder, o handebol.
Thiagus Petrus
Texto: Toque de Bola
Arte: Toque de Bola
Informações complementares do site 7M Handebol Total