Quando o Palmeiras de Marcos venceu a Libertadores de 1999, Alfredo Alves Mendes Fumo tinha 9 anos. Mais de duas décadas depois, nem uma pandemia foi capaz de impedir o comerciante paulista de sair de Juiz de Fora, onde mora desde 2015, e fosse para o Rio de Janeiro.
Mais especificamente, ficar no entorno do Maracanã, para acompanhar como fosse possível a decisão contra o Santos no dia 30 de janeiro de 2021. “A gente está tão perto e tão longe, ao mesmo tempo. Foi ótimo. Consegui bater umas fotos na frente do estádio, dei entrevistas para algumas emissoras. Tentei arrumar credencial. Só que, como estava meio em cima da hora e os ingressos eram contados, acabou não se concretizando.”
Filho e neto de palmeirenses e de uma família de descendência italiana, o dono de um estacionamento em Juiz de Fora contou ao Toque de Bola como foi a experiência de viver a final e celebrar o título da Libertadores 2020 sem poder entrar no estádio.
Confiança no título
Palmeiras e Santos, as duas equipes de melhor campanha, chegaram à decisão da edição 2020. No entanto, para Alfredo, a confiança na vitória ficou mais sólida na primeira partida da semifinal.
“Os 3 a 0 contra o River, a tranquilidade que cadenciou o jogo, os dribles que o Gabriel Menino estava dando, chapéu, caneta. Esse jogo já fez sonhar em relação ao título. Porque vários programas esportivos estavam falando que o campeão devia sair desse chaveamento, entre River e Palmeiras. O que foi concretizado”, analisou.
“Não podia perder”
Uma pergunta obrigatória é se o comerciante não teve medo da pandemia do novo coronavírus, que há cerca de um ano transformou a vida e os protocolos de eventos em todo o mundo.
“A situação da covid-19 está realmente bem complicada no país. Tomei todos os distanciamentos. Até no bar em que fiquei, as mesas estavam com bastante distanciamento uma das outras”, conta.
Ao pesar os prós e os contras, ele explicou o que foi determinante para encarar a viagem para o Rio de Janeiro. “Era uma final. Fazia 21 anos que eu estava esperando por isso. Deu a sorte da final ser no Rio de Janeiro, não ser em outro país. Como é perto, 3h de Juiz de Fora para o Rio, achei que era uma oportunidade que não podia deixar passar. Acabou dando tudo certo, não aconteceu nada além do título e da grande vitória“, afirmou.
Turista torcedor… no bar
Os bares ao redor do Maracanã foram fechados para evitar aglomeração. Alfredo encontrou um casal de palmeirenses que estava a caminho de um bar, na Tijuca, a duas ou três quadras do palco da final. Eles foram para lá e ficaram em meio a outros torcedores do Palmeiras e do Santos, acompanhando a decisão pela transmissão de TV.
“Tudo valeu a pena mesmo estando fora (do Maracanã). Você vê toda a preparação, vê os ônibus chegando, então é outra magnitude de emoção do que estar em casa. Você sente o ambiente, o que é a Libertadores e o que era aquilo para o torcedor palmeirense, o desejo de conquistar a glória eterna”, narrou Alfredo.
Truncado
A falta de gols deixou os torcedores tensos ao longo dos 90 minutos. Nos acréscimos, Alfredo disse que o clima era de conformação com a certeza de que o jogo não acabaria quando o juiz apitasse.
“A maioria dos palmeirenses e santistas estava esperando uma prorrogação e futuramente pênaltis, porque o jogo estava bem truncado, não tinha posse de bola, uma jogada mais ofensiva de nenhum dos lados”, relembra.
“Teste para cardíaco”
Até que houve a expulsão do técnico Cuca, do Santos. E, logo em seguida, aos nove minutos de acréscimo – ou 99 de jogo, se preferirem o cronômetro com o tempo total -, Breno Lopes deu o motivo para os palmeirenses celebrarem.
“Aí de repente, aconteceu esse cruzamento meio improvável, um chuveirinho na área e culminou no gol. Ali foi uma explosão. Mostrou o que é a Libertadores, emoção até o último minuto, é raça, determinação, suar sangue. Fazer um gol no último minuto do acréscimo é teste para cardíaco. Foi excelente!”, confessou Alfredo.
Os pilares do título
O comerciante que elenca entre seus favoritos, Ademir da Guia, maior ídolo da história do clube; Marcos, em especial pela Libertadores de 1999 e Evair, de 1993, apontou os destaques da equipe na campanha que festejou a “glória eterna”, como afirmou o slogan da competição de 2020.
“Principalmente o Weverton, nosso goleiro. No segundo jogo contra o River, se não me engano, fez dez defesas difíceis, número bem grande para uma semifinal. E o Rony que, mesmo em alguns jogos do Brasileiro deixou a desejar, na Libertadores foi bem, um dos artilheiros do time junto com o Luiz Adriano”, enumerou.
Festa fora do Maraca
Alfredo destacou que, ao final do jogo, não houve problemas com a torcida santista presente nas ruas da Tijuca. E os torcedores campeões queriam festejar, até com quem não estava ali.
“Os palmeirenses começaram a sair para soltar os fogos de artifício, o povo ligando para família, mandando mensagem, cantando o hino. Depois, todo mundo foi para o redor do Maracanã na esperança de ver o time sair e mostrar a taça. Foi uma experiência única e inesquecível”, relatou.
Para gerações futuras
De volta à Juiz de Fora, ainda recuperando a voz de tanto comemorar, Alfredo Mendes, de 30 anos, espera pela chance de compartilhar tudo que viveu no dia 30 de janeiro de 2021 com as próximas gerações da família.
“É uma história que dá para contar para os filhos, netos, bisnetos. Final de Libertadores, sendo um jogo único e você é campeão, é um momento único que marca a sua vida. E o Palmeiras mais uma vez marcou a minha. se eu pudesse faria tudo de novo, porque valeu a pena cada minuto ao redor da grande final.”
Texto: Toque de Bola: Roberta Oliveira
Fotos: arquivo pessoal/Alfredo Alves Mendes Fumo; Cesar Greco/@palmeiras; @libertadoresbr/ divulgação