Nesta mesma época do ano passado, a juiz-forana Luísa Campos nem sonhava em se dedicar à modalidade na qual se tornou, no último dia 30, vice-campeã brasileira. Após se encontrar no salto com vara, a local tomou de assalto o ranking mineiro da divisão sub-16, no qual termina a temporada em primeiro, e fez a segunda melhor marca do país em sua divisão etária, no Campeonato Brasileiro de Atletismo, em Fortaleza.
Logo no início do ano, em maio, Luísa já mostrou seu talento no Festival Aberto de Atletismo, da Federação Mineira, em Belo Horizonte, fazendo a melhor marca do estado, saltando 2,65m. Mas ela podia e queria mais. No Brasileiro, última competição da temporada, melhorou a marca, saltando 2,70m. Assim, termina na segunda colocação do ranking nacional sub-16, atrás apenas da cearense Fernanda Macera, que saltou 2,80m também no Nacional 2018.
Encontro no salto
Os bons resultados surpreenderam até mesmo a própria atleta que, com pouco tempo de treino, conseguiu marcas expressivas. “Esse ano, meu treinador, Renato Siqueira, disse para entrarmos de cabeça no salto com vara. Estou há seis meses treinando e já consegui esses títulos. Foi realmente uma surpresa e uma temporada excelente. Estou muito grata”, comemora Luísa, atleta do Cria/UFJF.
A juiz-forana, que antes de se dedicar ao salto com vara treinou e competiu nos 80m com barreira, 1000m e salto em distância, disse que se encontrou na modalidade. “Estou tendo uma percepção melhor de mim. Eu me cobrava muito, saia mal dos treinos. No salto com vara, me encontrei”, garante.
O futuro é agora
Com o fim da temporada deste ano, as disputas acabaram, mas não os treinamentos. Isso porque 2019 já vai começar para a atleta local. “Terminaram as competições, e acabei alcançando um nível que não estava previsto. Mas agora, para manter e buscar melhorar, vai entrar o período da base. Farei treinos de força, um pouco de técnica. Trabalhos mais puxados. A parte básica para o próximo ano todo”, explica.
Para 2019, os planos são ainda mais ambiciosos. Com mais uma temporada na atual faixa etária, a local vai atrás dos recordes. “Para o ano que vem, vou dar tudo de mim, me esforçar até o último pedacinho para conseguir bater os recordes mineiro e brasileiro sub-16”, deseja a juiz-forana. Atualmente, a melhor marca do estado em todos os tempos é de 3,02m, de Ana Carolina Oliveira, em 2015. Já a nacional é de 2013, da paulista Nicole Barbosa, com 3,63m.
Desde cedo
Se já pensa no futuro, Luísa pode agradecer ao passado por estar no esporte. Foi acompanhando o pai, Edson, desde cedo em competições de ciclismo, duathlon e triathlon, que a saltadora tomou gosto pela vida esportiva. Ele também foi o responsável por apresentá-la ao atletismo, que acabou tomando conta de sua rotina.
“Comecei muito cedo no esporte por influência da minha família. Mas nunca foi forçado. O início foi por conta deles, mas gostei e sempre pratiquei. Passei por várias modalidades e nunca me encontrava. E quando encontrei o atletismo, por meio também do meu pai, me apaixonei. Pelos treinos, por estar lá, convivendo, tendo essa rotina. Tenho a vida voltada para isso. Minha vontade é ter o esporte como carreira”, deseja a atleta.
Orgulho e participação
Segundo Edson, o esporte vem de uma tradição familiar, e a introdução de Luísa ao meio foi natural. “Esporte na minha família sempre foi um hobby e é importante na questão da saúde. Tenho irmão ciclista, fui criado praticando diversas modalidades. Assim, passei isso para ela. Começando a levar nas provas de duathlon, corridas e triathlon. Até mesmo para desenvolver a consciência corporal”, conta.
Apesar de já conhecer a aptidão da filha para os esportes, a escolha da modalidade e os resultados rápidos surpreenderam até o pai. “Surpreendeu ela escolher o salto com vara, até mesmo pela dificuldade. Também não esperava esse resultado agora, embora já conhecesse e soubesse da aptidão. São 11 anos que ela pratica atividades. Tem experiência em competir. Tudo isso influencia. O importante é que ela faz o que ela gosta”, destaca Edson.
Dedicação e inspiração
Luísa concorda com o pai sobre a dificuldade do salto com vara, mas sabe que os segredos estão nos detalhes. “É uma das modalidades mais difíceis do atletismo por conta da técnica. Você pode ser muito forte, mas sem ela, não adianta nada. Concentração é importante também, tanto no treino quanto nas provas. Tem que ser muito atencioso. Pensar na corrida, no encaixe, na hora de verticalizar, em tudo isso para fazer um salto bom. É a melhor modalidade para mim”, define.
Consciente de que não está sozinha na luta por melhores marcas, a juiz-forana busca inspiração em quem a cerca. “Me estimula muito a continuar tudo o que fazem por mim. Minha família, amigos e treinadores. Todo mundo que está perto e acredita em mim. Também acredito, até mesmo por isso. Assim, treino e me dedico porque não adianta só o talento. Quem se esforça, cria esse talento. Quem tem o talento e não se esforça, desperdiça ele”, alerta Luísa.
Vem mais por aí
No que depender da atleta, a temporada de estreia no salto com vara foi só o começo. “Esse foi o ano mais importante para mim no atletismo até agora. Não esperava nada disso. Nunca imaginei ter. Só de ver o esforço do meu treinador de estar ali para me ajudar, vendo vídeos, estudando. Evoluímos juntos. É uma grande motivação para mim e me dá muita energia para continuar”, garante a saltadora.
Luísa atualmente não quer estabelecer metas muito à frente. Mas tem a certeza de que vai continuar se dedicando. “Não tem como saber onde vou chegar. Cada momento é uma vivência e aprendizagem. Se me dedicar ao máximo, espero que seja muito longe”, deseja.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: Dudu Ruiz/arquivo pessoal Luísa Campos e Confederação Brasileira de Atletismo