Não tinha como prever. Por mais que a pontuação apontasse números diferentes na campanha, o Tupi vinha de derrota (1 a 0 fora, para o Tombense) e o Democrata de uma vitória surreal (4 a 3, depois de estar perdendo em casa de virada por 3 a 2 para o Villa Nova).
O Carijó vinha desfalcado, literalmente, de meio time, sendo um deles, o volante Léo Salino, apontado como o principal responsável, dentro e fora de campo, pela arrancada alvinegra na competição.
Ainda faltavam na escalação dos anfitriões o também suspenso Reis, atacante considerado na pré-temporada a principal aposta, e os contundidos Afonso, lateral titular absoluto, Vitinho, que chegou a ser o artilheiro do time, e o zagueiro Mateus.
Apetite num gesto
Um dado nos bastidores chamou a atenção, e quem sabe pode ajudar a explicar o “massacre” visto em seguida. Antes mesmo do trio de arbitragem, e sem aquele ritual dos dois times entrando em campo que tem sido meio frio e protocolar, o esquadrão juiz-forano já estava no gramado.
Mas já?
Quando a partida começou, em apenas cinco minutos o torcedor começou a perceber que aquele poderia ser um jogo para a história.
Sem que o adversário praticamente encostasse o pé na bola, o Tupi abriu o placar aos 3, quando Tchô cobrou escanteio e o volante Léo Costa testou no ângulo. E aumentou dois minutos depois. Rodrigo Dias cruzou na medida e Renato Kayzer cabeceou com força e sem defesa. Tudo pela direita de ataque.
Mais dois
O Democrata, que lutava contra o rebaixamento, não teve como esperar o intervalo para acordar do pesadelo. Em bela cobrança de falta, no ângulo, Tchô ampliou.
Ainda houve tempo de o Tupi mudar de lado e fazer a primeira jogada pela esquerda que resultaria em gol. Renato Kayzer foi garçom de Patrick, que “cumprimentou” o goleiro com um só toque: 4 a 0, final do primeiro tempo.
“E se fossem vocês?”
No intervalo, outra pista que poderia ajudar a explicar o momento histórico. O treinador Ricardo Leão disse à Rádio Globo que perguntou aos seus comandados antes de a bola rolar como eles estariam se estivessem lutando contra o rebaixamento. E pediu que o sentimento diante dos “desesperados” adversários fosse de tentar igualar ou superar a vontade.
Espaços à vista? Tome gol!
O “refresco” ao adversário na etapa inicial durou 12 minutos. Foi quando a “maquininha” resolveu engrenar de novo. Com o Democrata tentando se adiantar e os anfitriões atentos aos movimentos, os espaços foram reabertos.
Pela esquerda, veio o passe de Patrick Brey lateral-ala e mais um tento do atacante Patrick: cinco a zero. Pela direita, outra “descida sem freio” achou João Vitor pronto para castigar: seis.
Cresce o murmurinho na arquibancada e nas cabines de imprensa. Viria outro 8 a 1, como ocorreu diante do Avaí (SC) na disputa da Série C de 1997?
Opa. Podemos voltar as atenções ao campo: já são sete. Kayzer recebe na esquerda lançamento na medida e toca na saída do goleiro: 7 a 0!
O Democrata ainda consegue chegar, pelo menos uma vez com real perigo, e diminui com Márcio Oliveira. Final: 7 a 1.
Melhor cenário
Vitória que classifica o Tupi como quarto colocado de um Campeonato Mineiro em que visitou a lanterna depois das cinco primeiras rodadas. Com o segundo melhor ataque (19 contra 20 do poderoso elenco do Cruzeiro), terceiro melhor em número de vitórias (perdendo apenas para Cruzeiro e América no quesito) e com saldo positivo (situação que só conseguiu reverter justamente nessa última rodada da fase de classificação).
E como foi o vestiário? Teve de Leão sorrindo, quando perguntaram se ainda é interino, a dirigente desabafando. Nicanor Pires disse que quando a fase do time não estava boa, um site (não citou nomes de veículos) atribuiu a ele a saída de profissionais que, na avaliação dele, não estavam rendendo o suficiente para seguir atuando no dia-a-dia do futebol do clube.
O que fez o Tupi mudar tanto do final da quinta rodada até aqui? A troca de treinadores e a entrada de Léo Salino? Algum fato extra-campo que os treinos normalmente fechados impediram de ser revelados? A saída de algumas peças que não estariam satisfeitas ou integradas?
Sem amanhã
Pelo menos até o compromisso contra o Tombense, agora pelas quartas-de-final, isso pouca importa ao torcedor do Tupi, principalmente aquele que vai ao estádio com frequência e se descabela com situações como o início de campanha nos estaduais dos anos recentes.
Ele quer comemorar, enaltecer o feito histórico e dizer com orgulho que hoje o clube é o melhor do estado, fora da capital.
Amanhã? O torcedor quer saber de hoje. Receber os parabéns, comemorar e bater no peito com um conhecido refrão: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
O Tupi enfrenta o Tombense sábado, 17h, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, no jogo único das quartas-de-final. Vantagem só a teórica do mando de campo. Em caso de empate, a vaga para as semifinais será decidida nos pênaltis.
Texto: Ivan Elias
Fotos: Toque de Bola e Tupi
Artes: Toque de Bola