Tempo. Segundo o agora ex-técnico carijó, Leston Júnior, um período maior para reflexão e estudo sobre seu futuro era necessário antes de uma decisão de tamanha importância em sua carreira. O Tupi, no entanto, corre contra o relógio pela definição de um comandante que participe ativamente da montagem do elenco para o Campeonato Estadual e segunda divisão do Campeonato Brasileiro. As conversas entre Leston e o vice-presidente do Conselho Gestor do Tupi, Cloves Santos, foram abordadas em entrevista do treinador ao Toque de Bola, assim como a construção do plantel carijó, outras propostas e carreira.
Confira abaixo o bate-papo com Leston Júnior:
Toque de Bola: Como foi essa negociação com o Tupi?
Leston Júnior: “Não foi nem uma questão de negociação. Segunda passada (dia 2) conversamos, coloquei o que penso e o Cloves contou o que ele vê como planejamento do Tupi e ficamos de ter uma definição. Na nossa conversa de ontem (segunda, 9), senti que preciso de um tempo maior, até porque ainda estou me refazendo dessa batalha que foi a Série C e muitas coisas começaram a aparecer e não posso tomar uma decisão de acertar com o Tupi e daqui a 20 dias aparecer uma situação diferente e eu sair do clube e atrapalhar o processo de planejamento. Logo entendemos por bem encerrar ontem (segunda-feira, 9) essa relação, mas em alto nível e em função de uma escolha profissional”.
Toque de Bola: O Cloves afirmou que questões internas dificultavam o acerto com você. Ele se referia também a esta questão do tempo?
Leston Júnior: “O Tupi precisa pensar em seu planejamento e eu também, particularmente, na minha carreira. Prolongar um pouco mais isso poderia ter um desfecho positivo lá na frente? Talvez sim, só que seria um risco. Se não dá certo, o Tupi teria que remontar um planejamento. Então para até preservar todo o sacrifício feito para que o clube fosse para a Série B, é importante que o Tupi não perca tempo para que consiga o quanto antes fazer seu planejamento para o ano que vem”.
Toque de Bola: Nas conversas com o Cloves você sentiu uma vontade da direção carijó ir em busca do legado que você disse ter procurado deixar no clube?
Leston Júnior: “Acredito que sim. Sobre esse legado, não tenho pretensão nenhuma de ensinar alguém a fazer futebol. Apenas foram trocas de informações e ideias que sempre tivemos ao longo do processo. E as pessoas do clube, principalmente o Cloves como gestor, têm a visão do que o Tupi precisa e espero que eles consigam colocar em prática para que o clube siga nesse processo de crescimento”.
Toque de Bola: O que você considera fundamental para o Tupi montar uma equipe competitiva para a Série B?
Leston Júnior: “Passa por um processo de qualificação de elenco, mas também de manutenção de base dele e a melhora estrutural. Ela é preponderante para que o clube possa ter um ano de 2016 feliz como foi o de 2015”.
Toque de Bola: Muitos torcedores questionam a prioridade que a diretoria de futebol tem manifestado em relação ao Brasileiro, sem teoricamente fazer muita questão de um bom Estadual. Qual a sua opinião sobre isso, lembrando que você chegou a duas rodadas do fim do Mineiro e junto com a diretoria conseguiu rearrumar o elenco para a Série C?
Leston Júnior: “Difícil falar, porque as pessoas que estão à frente do clube que precisam ter esse entendimento, até porque elas que têm a máquina na mão. Qualquer coisa que eu disser aqui pode soar como uma crítica ou outro sentido, então prefiro não opinar. Se no clube estivesse, teria um posicionamento em relação a isso, mas as pessoas do clube possuem a máquina na mão e espero que saibam conduzir isso da melhor maneira possível”.
Toque de Bola: Nesta caminhada vitoriosa do Tupi, se tivesse que apontar um motivo, além da união e comprometimento do grupo, que sempre destacou, qual seria?
Leston Júnior: “Diria que uma qualificação de trabalho no dia-a-dia muito grande. É difícil a gente falar de si mesmo, mas modéstia à parte o trabalho de campo foi muito bem dirigido, também porque tive todo o suporte da comissão técnica. Mas o trabalho do dia-a-dia foi fundamental para a conquista”.
Toque de Bola: Você acredita que, por dois anos seguidos ter chegado ao mata-mata da Série C, ficou de certa forma marcado como um treinador que sabe o caminho nesse tipo de competição?
Leston Júnior: “Acredito que sim, até porque foram 38 rodadas e 33 no G4 nos dois anos e o acesso se deu com duas vitórias. Venho aprendendo cada vez mais o caminho das pedras em uma competição longa, que pede regularidade e acho que é isso que marca nosso trabalho”.
Toque de Bola: Você está indo para o Fortaleza?
Leston Júnior: “Não tem nada. Até fiquei surpreso porque li algumas coisas nesse sentido, mas nunca houve nenhum tipo de contato com a direção do Fortaleza ou de qualquer outro clube. Recebo sondagens desde o meio da Série C, mas oficialmente dos dois clubes que falei até hoje foram no decorrer da Série C. A diretoria sabia disso. A partir de hoje, sim, estou aberto a negociar oficialmente com qualquer clube”.
Toque de Bola: Considerando o seu crescimento profissional, trocaria um clube da Série B por um da C sem problemas?
Leston Júnior: “Não trabalho para divisão, mas para a instituição. O Botafogo hoje está na Série B e se um grande treinador deixar de trabalhar lá por isso, estará deixando de trabalhar em um dos maiores clubes do Brasil. Então trabalho sempre para a instituição, nunca em função da divisão ou competição que ela disputa”.
Agradecimento
Em sua página na internet, o treinador publicou um texto com mensagens de agradecimento ao clube de Santa Terezinha.
Confira, abaixo, a íntegra do texto publicado por Leston:
“Oito meses de trabalho árduo, muita dedicação e, acima de tudo, de conquista. Assim defino a minha passagem pelo Tupi Football Club. Aqui evidenciamos o verdadeiro significado do “trabalho em equipe”. Desde o primeiro momento, foi o coletivo que prevaleceu, fomos no limite o tempo inteiro. O resultado não poderia ser outro: a conquista do inédito acesso a série B do Campeonato Brasileiro, onde tive a oportunidade de viver momentos que ficarão marcados na minha vida profissional.
Gostaria de externar minha gratidão a todas as pessoas envolvidas e comprometidas nesse trabalho. Agradeço ao Sr Cloves Santos, Vice Presidente do conselho gestor, pelo convite para conduzir o trabalho objetivando esse acesso, e claro pela confiança e respeito que sempre pautaram nossa relação, a Sra. Presidente Myrian Fortuna e seus pares de Diretoria pela oportunidade de comandar esse Clube centenário. Agradeço a Comissão Técnica pela lealdade e auxílio na condução do trabalho. De forma especial gostaria de deixar aqui o meu muito obrigado a cada um dos atletas que fizeram parte deste trabalho e que se dedicaram mesmo quando as dificuldades apareceram sempre mantivemos nossa relação de lealdade, respeito e carinho. Também gostaria de deixar um abraço especial a todos os demais funcionários do clube e também a todos colaboradores que direta ou indiretamente contribuíram muito para o trabalho.
Gostaria de agradecer aos profissionais de imprensa que fazem a cobertura diária do Clube. Sempre procurei ter um relacionamento cordial com todos. As divergências fazem parte do processo, mas de forma alguma abalam o respeito que tenho por todos os jornalistas, incluindo aqui a assessoria de imprensa do clube.
Os verdadeiros torcedores carijós também merecem minha gratidão e meu aplauso por nunca abandonarem a equipe, mesmo nos momentos de maior dificuldade.
Enfim, fizemos o possível para alçar grandes voos pelo Tupi Football Club e saio feliz com as metas cumpridas.
Meu muito obrigado a todos! Desejo a todos um feliz Natal, um ano novo de muitas alegrias, repleto de realizações e paz, e que 2016 seja um ano de mais conquistas ao Tupi Football Club, instituição que levarei para sempre como uma incrível experiência profissional e pessoal.
Um abraço,
Leston Junior”
Texto: Bruno Kaehler – Toque de Bola
Foto: Toque de Bola
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