Discussão, confusão, arma, desistência, título. Aconteceu de tudo no segundo jogo da final da Copa Sul-Americana. O São Paulo vencia o Tigre por 2 a 0 no primeiro tempo, mas uma confusão depois do fim da etapa inicial, no caminho para os vestiários, paralisou a partida disputada no Morumbi. O duelo não chegou a recomeçar no segundo tempo, o árbitro Enrique Osses deu o jogo por encerrado, e o time tricolor comemorou o título no gramado, com direito a invasão de torcedores. “Sim, é campeão”, confirmou o delegado da Conmebol, Francisco Figueiredo. Jogo marcou a despedida de Lucas.
Enquanto o São Paulo fazia a sua festa no Morumbi, a Conmebol, por meio do perfil oficial da Copa Sul-Americana, usou o Twitter para confirmar o título. “La @CONMEBOLcom investigará lo ocurrido en el Morumbí. Pero la decisión de @SaoPauloFC campeón es irrefutable”, disse a entidade, afirmando que vai investigar o que aconteceu, mas que o São Paulo, independentemente do que for apurado, é o campeão.
Curiosamente, na madrugada de quinta-feira, por volta de 2h, o Twitter da Sul-Americana apontou que a decisão pelo título do São Paulo não foi da entidade, mas sim do árbitro. “Último tweets refiriéndonos al tema: La decisión de suspender y coronar a @SaoPauloFC, es del juez Enrique Osses, no de la @CONMEBOLcom”, disse a entidade.
De acordo com informações de integrantes da delegação do time argentino, o elenco se recusou a voltar a campo depois de ter os vestiários invadidos por policiais militares. A informação do técnico Pipo Gorosito é que dois jogadores ficaram feridos e seguranças do São Paulo sacaram armas dentro do vestiário dos visitantes. As imagens de TV mostraram sangue no local.
Entrevistado depois da festa do São Paulo, o Major Gonzaga, um dos responsáveis pela segurança no Morumbi, afirmou que, quando a polícia chegou aos vestiários, encontrou uma briga generalizada entre jogadores e comissão técnica do Tigre e seguranças do clube tricolor. Segundo ele, não foi encontrada nenhuma arma no local, mas os envolvidos serão levados a prestar depoimento na delegacia.
O repórter Vinicius Nicoletti, dos canais ESPN, ouviu uma fonte, que afirmou que os jogadores do Tigre desceram para o vestiário depredando as dependências do Morumbi. Por causa disso, os seguranças entraram em ação, e ocorreu o confronto. O vice-presidente de futebol João Paulo de Jesus Lopes corroborou a versão e disse que houve legítima defesa dos seguranças do São Paulo. Além disso, ele disse que o clube tomaria as medidas legais cabíveis contra os argentinos.
O começo da confusão
No caminho para os vestiários no intervalo, os jogadores dos dois times começaram o “empurra-empurra” e tiveram de ser apartados pela polícia. Quando tudo parecia normalizado, o São Paulo e o trio de arbitragem voltaram para o segundo tempo, enquanto a equipe argentina não subiu para o gramado.
Neste meio tempo, Paulo Miranda e Diaz foram expulsos nos vestiários por conta da confusão. No momento em que os são-paulinos aguardavam o time adversário, o Twitter oficial do Tigre publicou que os seus jogadores haviam sido agredidos pela polícia local no vestiário.
“Eles tentaram entrar no nosso vestiário, os seguranças acabaram indo lá dentro. Temos que evitar essas brigas porque isso não é bom para o futebol. Eu estava saindo do gramado e ele (preparador físico do Tigre) acabou acertando meu rosto. Mas a gente tem que se preocupar com a partida”, afirmou Douglas, do São Paulo.
O técnico do Tigre, Nestor Gorosito, tentou explicar a situação. “Eles nos mostraram dois revólveres. São uns cagões porque não se garantem na mão. Assim, não jogamos o segundo tempo. Não temos garantias”, disse.
“Falei com o juiz, que está aguardando uma determinação do representante da Conmebol. É uma pena, temos casa cheia, um jogo bem jogado do nosso lado. Mas eles com a mesma postura, com a intenção de provocar”, disse Rogério Ceni.
Os gols da partida foram marcados por Lucas, aos 22 minutos do primeiro tempo. Cinco minutos depois, Osvaldo, com um lindo toque de cobertura, ampliou para o Tricolor.
Repercussão
O abandono do Tigre no intervalo da partida contra o São Paulo, nesta quarta-feira, no estádio do Morumbi, irritou Juvenal Juvêncio, presidente do clube brasileiro, que explicou o fato dizendo que os argentinos seriam goleados se entrassem em campo na etapa complementar. Já para Sérgio Mazza, homem forte do futebol do time vice-campeão da Copa Sul-americana, é uma “vergonha” a suposta agressão de seguranças do clube.
Oficialmente, o Tigre alega que alguns seguranças do São Paulo teriam agredido seus atletas no vestiário, durante a saída para o intervalo da partida.
“Os jogadores contaram que não quiseram entrar em campo porque foram ameaçados com armas de fogo no peito. Eles tomaram a decisão e vamos respeitar. No Brasil não deixaram os jornalistas argentinos trabalharem também. O São Paulo é um clube muito grande, mas o que fez foi vergonhoso. O Tigre veio para jogar futebol, não para guerrear”, justifica o dirigente do Tigre.
Nicolas Leoz, presidente da Conmebol, não quis se pronunciar oficialmente, mas teria sido o responsável por decretar o encerramento da partida e a suspensão do segundo tempo. O técnico do Tigre, Néstor Gorosito, atendeu à imprensa, mas garantiu que só falaria com a cabeça fria. Nas próximas horas, o clube argentino irá a uma delegacia na Zona Sul de São Paulo prestar queixa contra os funcionários do São Paulo. Já o clube brasileiro também registrará boletim de ocorrência por conta da depredação do vestiário de visitante.
“Você queria o quê? Isso que é bom, vamos comemorar dobrado. Está tudo em ordem. O Tigre já estava com a língua de fora, iria tomar goleada, aí resolveram ir embora. Perguntem para o Leoz o que ele achou, viu o jogo comigo. Não teve nada de arma, eles catimbaram lá na Argentina, bateram muito nos nossos jogadores, invadiram o campo. Eles queriam provocação, porque na bola não podem com a gente, somos mais fortes que eles”, ironizou Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo.
FICHA TÉCNICA:
SÃO PAULO 2 X 0 TIGRE-ARG
Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP)
Data: 12 de dezembro de 2012, quarta-feira
Horário: 21h50 (de Brasília)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Assistentes: Francisco Mondría (CHI) e Carlos Astroza (CHI)
Público: 67.042
Renda: R$ 3.942.800
Cartões amarelos: Denílson e Rogério Ceni (São Paulo); Galmarini, Godoy e Díaz (Tigre)
Cartões vermelhos: Paulo Miranda (São Paulo); Díaz (Tigre)
Gols:
SÃO PAULO: Lucas, aos 22, e Osvaldo, aos 27 minutos do primeiro tempo
SÃO PAULO: Rogério Ceni; Paulo Miranda, Rafael Toloi, Rhodolfo e Cortez; Wellington, Denilson e Jadson; Lucas, Osvaldo e Willian José
Técnico: Ney Franco
TIGRE: Albil; Paparatto, Echeverría, Godoy e Orban; Galmarini, Díaz, Ferreira e Leone; Botta e Maggiolo
Técnico: Néstor Gorosito
Texto: ESPN