
foto: Australian Open/Twitter
A concentração me abandonou na manhã deste domingo, 30. Quando acordei, Nadal perdia para Medvedev a decisão do Aberto da Austrália. A tensão era tanta que não conseguia ver o jogo… Ao mesmo tempo, também não consegui ignorá-lo.
Entre espiadinhas nas redes sociais ou na transmissão da TV, fui acompanhando o duelo. Três horas, quatro horas, cinco horas e a partida que parecia perdida ganhou aspectos de confronto épico. Os dois simplesmente não desistiram contra o outro nem contra os próprios erros e o cansaço – totalmente “inimigos do fim”.
Não sou especialista em tênis, sei o básico do básico, mas reconheço talento, determinação, resiliência, força. Duas gerações de atletas – o russo de 25 anos apontado como um dos próximos grandes nomes e o espanhol de 35 que não se cansa se fazer todo mundo ficar embasbacado.
E deu Nadal, 3 sets a 2 após estar perdendo por 2 sets a 0. Mais recordes para o homem que aprendeu a descer ao inferno e voltar ao céu. Há poucos meses, ele estava de muletas, teve covid-19 na preparação e como disse no discurso pós-jogo: não seria surpresa se este fosse o último Australian Open da carreira.
Aos troncos e barrancos, correndo, se impondo, Nadal termina a disputa em Melbourne com o 21º título da carreira, se isolando como o maior campeão de todos os tempos do tênis. E o segundo na era aberta a ter pelo menos dois títulos de cada Grand Slam.
E tem explicação?

foto: Australian Open/ Twitter
Racionalmente, poderia dizer que suspeito que seja uma convergência de fatores, o talento natural, o treinamento a que ele foi submetido desde criança e a força mental que ele desenvolveu.
Mesmo quando está em dificuldades, ele não se rende. Não é à toa que, dos seis jogos de maior duração nas decisões, ele esteve em três. Até perde, mas não vai ser fácil vencer.
Quando você se conhece, sabe dos próprios pontos fortes e das vulnerabilidades e conhece bem o adversário, está pronto para quaisquer circunstâncias que apareçam no caminho.
E quando mesmo assim, o resultado não aparece, como Nadal já vivenciou e hoje foi o caso do Medvedev, após acalmar e passar a ressaca, sabe que é seguir em frente porque haverá uma próxima vez. E precisa estar pronto para quando ocorrer.
Agora pensa um pouquinho, guardadas as devidas proporções, não é um conselho que a gente poderia aplicar nas nossas vidas? Ainda mais nesse período em que todo dia é uma pancada diferente.

Foto: Australian Open/ Twitter
Sobre Nadal, o que dizer?
Considerando que o dicionário Oxford define adjetivo como a palavra que serve para modificar um substantivo, acrescentando uma qualidade, uma extensão ou uma quantidade àquilo que ele nomeia (diz-se de palavra, locução, oração, pronome), a conclusão é óbvia.
Nadal está naquele panteão de atletas – independente da modalidade – sobre os quais faltam adjetivos e palavras para explicar o impacto que causa nas pessoas com as suas conquistas.
Em suas vitórias e derrotas, ele dignifica o esporte e demonstram ao público o valor e o coração de se colocar à prova em alto nível.
Assim como em 2009, quando também testemunhei a batalha entre ele e Federer, nesta manhã de domingo, me rendi novamente à toda a grandeza de Rafael.
A gente só admira e agradece por testemunhar o talento que ele compartilha conosco.