Se este texto fosse um objeto, seria uma colcha de retalhos. Alguns coloridos. Outros nem tanto. O motivo é que eu não encontrei um tema, mas vários fragmentos de assuntos sobre as quais gostaria de falar.
Então, a filha de costureira está cosendo palavras. Espero que gostem do resultado desta reflexão.
Os retalhos da inspiração
Primeiro pensei em escrever sobre as esportistas que inspiraram: Formiga, Marta, Bete do peso, Ana Moser, Mireya Luis, Nadia Comaneci, Daiane dos Santos, Janeth.
O esporte me ensinou disciplina, a ganhar e a perder, a solucionar problemas e a trabalhar em equipe. Não tive talento suficiente para ser um esportista como elas, me tornei jornalista para, ao menos, poder narrar as histórias que encontrasse na vida.
Justamente por isso sei que, nem sempre, querer é poder. Eu queria que o mundo tivesse diferente para que fosse possível celebrar as conquistas e enumerar as mudanças ainda necessárias.
Os retalhos da incerteza
Há um ano, em 18 de março de 2020, fiquei olhando estarrecida o comboio dos caminhões em Bérgamo, na Itália. Foi quando eu realmente compreendi que a situação era muito séria.
Agora, no Brasil, a situação é muito pior que a da cidade italiana. E eu queria que não fosse, mas é. Todo dia neste mês os números nos esmurram mostrando a realidade.
Aí vejo as pessoas e a imprensa destacando que o dia 20 de março, além do início do outono, é o Dia Mundial da Felicidade.
Como é que alguém consegue na situação em que estamos?
Justamente pela teimosia em não se sentir ainda pior, a gente não pode ceder ao desespero e ao medo. Por isso, eu me encontro desafiada a encontrar gotas de felicidade na medida do possível. Ninguém é feliz o tempo todo – nem é saudável perseguir isso.
Os retalhos do esporte com asterisco
Recentemente, me vi feliz após a live com o técnico Marcão do JF Vôlei. Nesta sexta, 19, também fiquei feliz ao comemorar a ida do time à semifinal da Superliga B. Fiquei feliz – e surpresa – com os 5 a 0 do Botafogo no Moto Club pela Copa do Brasil, porque como vocês sabem, o alvinegro carioca não inspirava sorrisos na torcida ultimamente. A exceção é o Botafogo Feminino – ah, as Gloriosas campeãs cariocas!
Nos casos das partidas, é um feliz com asterisco: a torcedora agradece a distração. A jornalista, com as informações de que dispõe, pensa ser uma temeridade o futebol seguir em frente em meio ao caos – como bem analisou Wallace Mattos na crônica mais recente.
É uma situação muito complexa, porque não envolve clubes grandes e altos salários. O impacto é maior para os jogadores dos times menores. Ao mesmo tempo, há muitos que só percebem a gravidade se tudo parar – para eles, enquanto houver futebol, está tudo bem. E como vemos todo dia, não está.
É complexo? Sim.
Como resolver? Não sei.
Os retalhos mais importantes
Quando eu era pequena, tinha uma colcha de retalhos feita pela minha avó materna, Cecília. A manta não resistiu ao tempo, mas o amor contido nela, sim.
E o amor nos ensina a ser pacientes, a manter a esperança e a ter fé. Em tempos tão incertos, estes sentimentos são a luz que me guiam do amanhecer ao “obrigada por este dia, Deus”.
Cuidem-se. Cuidem de quem vocês amam. A tormenta passará.
Texto: Roberta Oliveira – jornalista do Portal Toque de Bola
Texto lindo e com gotas de amor para ajudar a passar por esse momento