Nesta segunda, dia 21, a titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, Marcia Noeli, instaurou inquérito para apurar injúria racial denunciada pelo volante Gerson, do Flamengo, no jogo contra o Bahia, no domingo, dia 20, no Maracanã.
Amparado pelo jurídico do clube, o atleta do Fla tem depoimento marcado para às 10h desta terça, dia 22, na delegacia especial, no Centro do Rio.
Logo após a vitória de seu time sobre os baianos, por 4 a 3, Gerson, em entrevista aos canais Globo, denunciou injúria racial do meia colombiano Ramírez. Este teria dito ao brasileiro: “Cala a boca, negro.”
Intimados
Segundo Noeli, o atleta do Bahia, assim como o técnico Mano Menezes, flagrado pelas câmeras e microfones das transmissão discutindo com Gerson e dizendo se tratar de “malandragem” a acusação do volante do Flamengo, serão intimados a depor.
A delegada quer ouvir também o árbitro do confronto Flávio Rodrigues de Souza. Ainda não há data prevista para as oitivas.
Entenda
Na saída de bola depois de o Flamengo levar o primeiro gol do Bahia, que diminuía o placar para 2 a 1 àquela altura, as imagens mostram Ramírez passando ao lado de Gerson, que reage imediatamente. O volante do Flamengo fala com o árbitro Flávio de Souza, e depois vai em direção ao colombiano.
Uma confusão começa em campo, entre Gerson e Ramírez. Enquanto alguns jogadores e o juiz os separam, o jogador do Flamengo se volta para o banco de reservas do Bahia, em direção a Mano Menezes, e diz que o atleta do time baiano o chamou de “negro”.
Logo após manifestação de descrédito do técnico de integrantes do banco baiano, Mano então diz que a atitude é “malandragem”, o que revolta ainda mais o volante do Flamengo. O agora ex-técnico do Bahia, já que deixou o comando do clube ainda no Maracanã, chega a pedir a expulsão de Gerson e, após o reinício do confronto, o provoca dizendo que este “tem que levar bico do Daniel Alves que é muito mais malandro” do que o jogador do Fla.
Gerson fala
Escalado para falar após o jogo, Gerson exaltou a vitória do Flamengo e denunciou injúria racial sofrida por ele. “Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramírez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: ‘Cala a boca, negro’. Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito”, disse.
Sobre o até então treinador do Bahia, o volante do Flamengo completou. “O Mano até falou ‘Ah, agora você é vítima, não é? O Daniel Alves te atropelou e você não falou nada’. Claro, porque teve respeito entre eu e ele. Eu nunca falei de treinador, mas o Mano tem que saber respeitar. Estou vindo falar aqui por mim e por todos os negros do Brasil”, finalizou.
Manifestações
Horas depois do ocorrido no Maracanã, o próprio Gerson postou em suas redes sociais um manifesto (veja ao lado) no qual diz que não irá se calar, em referência à injúria racial denunciada por ele. Em seguida, ainda no domingo, diversos clubes se manifestaram através de suas redes sociais em solidariedade ao jogador, incluindo o líder do Campeonato Brasileiro, São Paulo, que disputa o título nacional diretamente com o vice-líder Flamengo.
A lista de solidariedade inclui também os rivais cariocas do Fla: Botafogo, Vasco e Fluminense. Já a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pediu à Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) que apure a denúncia. Esta já solicitou a súmula da partida.
Já o Bahia, cuja direção já havia decidido pela troca no comando técnico – Dado Cavalcanti será o treinador do Tricolor Baiano -, tomou providências nesta segunda. O clube afastou preventivamente Ramírez, até que os fatos sejam apurados. Na nota oficial, os baianos ressaltam que o colombiano nega as acusações, mas que, em casos como o de injúria racial, a palavra da vítima é “preponderante”.
Súmula
Na principal peça de relato do jogo, a súmula, o trio de arbitragem relata o conflito entre Gerson e Ramírez. Mas, o árbitro Flávio de Souza diz no documento que nenhum dos integrantes do trio de arbitragem percebeu o “suposto ato”.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos com informações do Grupo Globo
Fotos: Alexandre Vidal/CR Flamengo;Facebook EC Bahia; e repoduções Twitter e Instagram
Arte: Toque de Bola