Juiz de Fora (MG), 5 de maio de 2011
Uma jovem atleta vem se destacando nos treinos de Ginástica Rítmica na Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Com apenas 11 anos, a aluna do Colégio Stella Matutina, Flávia Araújo, ocupa a 24ª colocação no ranking brasileiro de Ginástica Rítmica (GR) na categoria Infantil.
Tudo começou quando Flávia tinha apenas 7 anos e morava na cidade de Camaçari (BA), a 52 quilômetros de Salvador. Um projeto da Prefeitura oferecia vagas em diversas modalidades esportivas, e a mãe da menina, a analista administrativa Raquel Araújo tentou, primeiro, inscrevê-la em balé. Como não havia vagas, Flávia concordou em começar a praticar ginástica rítmica e se apaixonou pelo esporte.
No ano seguinte, a menina passou a integrar a equipe de treinamento para representar o município. Mais um ano se passou, até ser convidada para treinar em um clube da capital baiana, destacando-se logo nos primeiros campeonatos que disputou: na categoria Pré-Infantil, foi a primeira colocada no Estadual, e ficou na 11ª posição no Nacional.
No final de janeiro deste ano, a família da atleta mudou para Juiz de Fora. Raquel conta que a filha chegou a ficar três meses sem treinar, porque não conheciam lugares que oferecessem a atividade. Depois de muita pesquisa, as duas descobriram o Projeto de Extensão de Ginástica Rítmica da Faefid, iniciado no ano passado.
Treinamento
Angela Mota, que está concluindo o curso de Pós-Graduação em Ginástica Rítmica na Faefid, foi convidada para treinar Flávia e não pensou duas vezes: “É uma forma de colocar em prática tudo que estudei nos últimos anos”. Angela já havia tido uma experiência como treinadora durante a graduação, quando realizou um intercâmbio pela UFJF na Cidade do Porto (Portugal), e foi responsável pela equipe mirim de Ginástica Rítmica do Boavista Futebol Clube.
O treinamento é dividido em quatro etapas. Após uma corrida de dez minutos, Flávia passa pela preparação física específica, uma espécie de aquecimento com movimentos da ginástica rítmica. Em seguida, acontece a preparação técnica com aparelhos, e, finalmente, a preparação física geral, que trabalha elementos como flexibilidade, força e resistência.
Raquel faz questão de acompanhar o desenvolvimento de Flávia, e diz que já foi muito criticada por causa da rotina intensa da filha. Ela treina de segunda a sexta-feira, quatro horas por dia, e diz que, em época de campeonatos, chega a treinar também aos sábados e aos domingos. Apesar da correria do dia a dia, Raquel garante que a menina ama o que faz: “Ela enlouquece se fica sem treinar. Pode até sentir dor durante um treino, mas volta feliz no dia seguinte. É o que ela gosta, nunca a obrigamos a nada”.
Mas se muita gente já fica cansada só de pensar na rotina de treinamento de Flávia, a menina parece ter disposição de sobra. Ainda em 2011, pretende retomar as aulas de inglês e começar a aprender violão, um importante aliado quando o assunto é concentração. Nos finais de semana, a atleta encontra as amigas da escola e dedica boa parte de seu tempo a outra paixão: a leitura.
A dedicação aos livros, segundo a mãe, colabora para que o rendimento de Flávia na escola seja bom, apesar do pouco tempo para se dedicar aos estudos. A agenda de competições no segundo semestre está cheia: de 8 a 13 de agosto acontece a etapa estadual das Olimpíadas Escolares, em Juiz de Fora.
Daqui, Flávia segue para Manaus, no Amazonas, onde disputa o Campeonato Brasileiro, entre 17 e 21 de agosto. De 1º a 4 de setembro, ocorre o Campeonato Mineiro, provavelmente em Belo Horizonte. Por fim, caso seja aprovada na etapa estadual das Olimpíadas Escolares, Flávia participa na etapa nacional, em João Pessoa (PB), entre 9 e 18 de setembro.
Acompanhamento médico
Para aguentar o ritmo das competições, a menina faz um acompanhamento médico rigoroso com um ortopedista especializado em medicina desportiva, realiza vários exames ao longo do ano e, é claro, não descuida da alimentação. Flávia come de tudo e adora frutas. Como tem um gasto energético muito grande, não precisa se privar das guloseimas radicalmente, mas procura equilibrar o que consome.
Flávia pretende cursar arquitetura no futuro mas, mesmo assim, não pensa em largar a Ginástica Rítmica tão cedo. Mesmo sabendo que a carreira da filha como atleta tem prazo de validade (por volta dos 25 anos, o corpo já começa a não aguentar o esforço que a GR exige), os pais se dedicam ao máximo à paixão da menina e custeiam todos os seus equipamentos e viagens para competições. O treino na Faefid é gratuito, mas representava mais um gasto para a família quando Flávia treinava na Bahia.
Raquel diz que tudo relacionado à GR custa muito caro, até mesmo as roupas utilizadas pelas ginastas. No ano passado, por exemplo, ela pagou €250, cerca de R$ 590, por um colant búlgaro que Flávia vestiu em algumas competições. Para a mãe, o grande problema é a falta de incentivo à GR: “No Brasil só apoiam as categorias adultas, mas não as de base. Cobram resultados, mas não dão o apoio necessário”.
Texto: Luiza Bravo – estudante de Comunicação Social
Os textos são editados por jornalistas da Secretaria de Comunicação da UFJF
Foto: Rafael Prado