Os profissionais de saúde ligados a Tupi e Tupynambás são contra o movimento de volta dos clubes de futebol brasileiro às atividades neste momento. O futebol em Minas Gerais e no Brasil está oficialmente suspenso desde 15 de março.
Falando com exclusividade ao Toque, o chefe do departamento de saúde do Baeta, o fisioterapeuta Marco Aurélio “Dezoito” Del Papa, e o médico que atua nas partidas do Carijó, José Roberto Maranhas, deixaram claro que este não é o momento para isso. Nos últimos dias, além da indicação da Federação Mineira de Futebol (FMF) de que tomará passos nessa direção, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e federações, como a gaúcha (FGF) e a carioca (Ferj), deram sinal verde para seus afiliados.
Não se pode forçar
Segundo Dezoito, não há como forçar jogadores e funcionários a se expor e a seus familiares. “Sou realmente totalmente contra. A pandemia está aí e vamos lidar com ela por algum tempo. Temos que ligar o bom senso. Não se pode, por valores econômicos, forçar alguém a fazer alguma atividade que coloque em risco ele ou sua família. Como controlar algo deste tamanho? Ficando em casa.”
Maranhas aponta a incoerência de uma volta nesse momento. “Vejo isso tudo com uma incoerência brutal. Boa parte do país encontra-se em uma quarentena, por orientação. Isso não deve mudar até o fim de maio. Digamos que em junho retorne. Esse retorno é gradativo. Com as pessoas mantendo distância, usando máscaras. A volta à prática esportiva neste momento é tudo isso em contrário. O que a prática esportiva tem? O contato, a proximidade, é incompatível com o uso de máscaras, óbvio.”
PJF segue decreto
No Rio, o Governo do Estado e a Prefeitura já vetaram a iniciativa de retorno aos treinos. Em Porto Alegre, com o aval do poder público, Inter e Grêmio tomaram providências e, adotando protocolo específico, programaram volta para esta terça, dia 5.
Em Juiz de Fora, o prefeito Antônio Almas estendeu, na última sexta, dia 1º, o decreto pelo qual, além de outras atividades, estão suspensas as atividades em clubes esportivos por tempo indeterminado. Segundo a assessoria do Executivo municipal, a determinação segue a mesma das últimas semanas. Assim, por enquanto, não há perspectiva de permissão para a retomada das atividades nas agremiações.
Com o poder público
“A decisão cabe aos governadores e prefeitos. Se ele determinarem, como o prefeito de Juiz de Fora determinou, a suspensão de atividades, não há entidade esportiva que possa liberar. Nem Fifa, nem CBF, nem FMF. Muita coisa está sendo feira de maneira abrupta, passando por cima. Jogador não é escravo do clube”, lembra Dezoito.
Dentro deste contexto, Maranhas, que além do atendimento de campo atualmente já chefiou o departamento médico do Tupi e foi vice-presidente do clube, destaca outra incoerência no retorno do futebol. “Se você vê: uma cidade é liberada, mas se o clube dela tem que jogar com o de outra que não está liberada, como faz? Quer dizer, é totalmente inviável a tentativa de retorno a uma prática esportiva neste momento”, acredita.
Pressa e pressão
O médico de campo do Tupi, não compreende a pressa no retorno. “Não entendo esse tipo de pressa em um momento ainda grave. Por exemplo, não teremos público tão cedo para nada no país, nem eventos esportivos e nem culturais, enquanto não existirem vacinas. Tínhamos que ser mais coerentes. O que serve para a população tem que servir também para os atletas e todos inerentes à pratica esportiva de competições como comissão técnica, gandulas, árbitros, imprensa”, avalia Maranhas.
Para Dezoito, a situação é fruto de pressão financeira. “Se tiver prejuízo, é financeiro. De uma entidade que comprou o campeonato. Tudo bem, pagou por ele e ajudou muita gente, ajudou a nós também. Não podemos querer que eles levem prejuízo. Mas já ganharam muito com a competição nos anos anteriores até os dias atuais. Não vai ser um torneio que vai dar esse volume de rombo no cofre deles. Tem que pensar nesse lado. Não é hora de pressionar a Federação.”
Fuga
O chefe do departamento médico do Baeta também acredita que os organizadores estão se esquivando de responder em caso alguma fatalidade da forma como o retorno está proposto. “Estão colocando também a responsabilidade toda nos clubes. A Fifa autoriza, a CBF manda, a Federação da o aval. Tudo bem, o clube volta. Aí, se acontecer alguma coisa, o responsável é somente o clube? Eles estão tirando o deles da reta. E passa a ser o time o responsável. Como seremos responsáveis por 50 pessoas? Tem que ter calma, sentarmos novamente depois de passar o pico, melhorar a situação, para termo algo a fazer”, acredita Dezoito.
“É hora de cautela. Muita paz. São vidas humanas, não se pode brincar. Quem comanda tem que ter isso em mente e equilíbrio. Claro que vai passar, então vamos ter calma para que a volta do futebol seja feita da forma mais equilibrada possível”, deseja Del Papa.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: Rise Up Mídia/Tupinambás FC; Patrocínio Photostudio/Tupynambás; Arthur Abrahão/Tupi FC; Toque de Bola; e Facebook Antônio Almas