Primeiro treinador, Zé Ricardo lamenta adeus de Fab Melo: “Talentoso, menino muito bom, alegre, que fez muitos amigos”

   “Vou contar as lembranças que tenho com ele”. Foi assim que José Ricardo Brandão,  primeiro treinador de Fab Melo no Projeto Basquetebol do Futuro (PBF), de Juiz de Fora, atendeu a reportagem do Toque de  Bola nesta segunda-feira, 13, para falar da despedida prematura do talento do basquete local, que foi encontrado morto em sua casa, neste sábado, no bairro Esplanada, em Juiz de  Fora.

    Zé Ricardo deixou o PBF em 2014 mas segue o trabalho de formação e preparação de novos talentos, agora junto às escolinhas de basquete do Sesi Juiz de Fora, com atletas na faixa de 12 a 17 anos.

 Acesse aqui também matéria publicada pelo Toque de Bola, em 2012, quando o atleta estava buscando uma vaga no basquete norte-americano.

Entrevista com José Ricardo, primeiro técnico de Fab Melo

Toque de Bola: Conte um pouco sobre o início da carreira de Fab Melo no Projeto Basquetebol do Futuro:

Nessa foto do arquivo do Toque de Bola, o treinador Zé Ricardo e um grupo de meninos do PBF. Em destaque, o Fabrício, que se transformaria no Fab Melo da NBA

Zé Ricardo: “Ele começou com a gente, se não me engano por volta de 2002/2003. Era bem garoto, tinha 14 anos, e passou três anos conosco aqui. Depois que ele foi para Belo Horizonte, era bem novo ainda, com 16 anos, o nosso estreitamento no caso da relação basquetebolística diminuiu muito, porque nós nos víamos muito pouco. Ele morava lá, ficava em Belo Horizonte, mas continuamos seguindo a carreira dele à distância. 

    Em seguida nós tivemos a grata surpresa do Draft pela NBA, foi “drafitado” pelo Boston Celtics.  O último contato que tive com o Fabrício foi no ano passado, depois que ele voltou dos EUA e veio jogar no Brasil.

    Acompanhei quando ele jogou na Liga Sorocabana. E quando o reencontrei, agora no fim do ano, ele me falou que estaria para acertar ou com Flamengo ou com o CEUB (Centro de Ensino Unificado de Brasília), e fechou na verdade com o Brasília.

    Fiquei sabendo que ele teve uma lesão na panturrilha recente e começou a se tratar em Juiz de Fora para então poder voltar para Brasília. E agora essas informações que tenho do Fabrício. Muito triste, um jovem de 26 anos, talentoso, um menino muito bom, um garoto alegre que fez muitos amigos. Vai ficar a saudade.”

Toque de Bola: Quem levou o Fabrício para o projeto Basquetebol do Futuro?

Zé Ricardo:  “Fui eu que o busquei na casa dele. Na verdade ele treinava com a gente. Ele apareceu um belo dia, aquele “meninão”, depois ele parou, sumiu. Estava com problemas de recursos para treinar. Fui até a casa dele, conversei com sua mãe e  pedi que ele voltasse, para poder ajudá-lo a continuar no basquete, porque realmente era um talento. Um menino muito talentoso e por todos os lugares que ele passou soube aproveitar disso para poder fazer uma boa carreira, não só internacional, mas, como aqui no Brasil.”

Toque de Bola:  Tem alguma passagem marcante, alguma historia curiosa sobre ele nas categorias de base do projeto?

Zé Ricardo:    “Não. Ele chamou muito a atenção pela estatura e a ótima condição técnica que tinha, além de ser muito talentoso. Com isso foi convidado para jogar em Belo Horizonte no (clube) Olympico, mas, de lá para cá, nessa formação dele, depois que saiu daqui de Juiz de Fora eu não tive mais contato. Temos somente a certeza que a evolução dele foi enorme, porque ele jogou nos Jogos Universitários (nos Estados Unidos), foi destaque lá e depois “draftou” por um grande clube da NBA.

Toque de Bola: Quando ele mudou para os EUA, vocês ainda mantiveram contato?

Zé Ricardo:  “Pouquíssimo. Com ele lá, não. Quando ele foi para os Estado Unidos e jogou lá em Syracuse só tínhamos noticias dele pela rede: televisão, e internet. Estava acompanhando a carreira dele nesse sentido, como jogador de basquete e como nosso conterrâneo aqui de Juiz de Fora.

     Depois que ele saiu da universidade que estava ele foi “draftado” pela equipe de Boston. Com isso ele tomou ângulos enormes porque simplesmente o Boston  Celtics é 16 vezes campeão da NBA.

      Tomou muita notoriedade. Ele não ficou no time principal de Boston, foi jogar uma liga de acesso, e, depois, se não me engano, jogou em Porto Rico, depois de Porto Rico ele veio para o Brasil. E o que a gente sabe é o que nós acompanhamos na rede, o que está publicado nos jornais.  Eu não tinha muito estreitamento social com ele, tinha um bom relacionamento. Quando ele vinha pra cá (Juiz de Fora), a gente se encontrava, conversava, ria muito, porque ele era realmente um menino muito feliz, um garoto bacana e sempre me tratou com muito carinho e  consideração por esse inicio todo dele aqui.Porque na verdade ele foi descoberto em Juiz de Fora e nós participamos disso um pouco.”

        Trajetória (fonte: Uol)

  Fabrício Melo nasceu em 1990 e tinha 26 anos. Aproveitou os 2,13 metros para virar pivô e se destacou no esporte universitário dos Estados Unidos ao defender a Universidade de Syracuse: em 2012. Terminou o ano escolhido o melhor jogador defensivo da conferência Big East.

  Os bons números colocaram o garoto, neste mesmo ano, no Boston Celtics, da NBA –  ele foi a 22ª escolha da primeira rodada do draft. O atleta teve uma passagem curta pelo Celtics jogando apenas seis vezes. Na sequência, foi ao Maine Red Claws, da Liga de Desenvolvimento da NBA.

  Fab Melo também teve passagens por Memphis Grizzlies e Dallas Mavericks. A carreira teve continuidade longe do basquete norte-americano: jogou pelo Caciques de Humacao, de Porto Rico, além dos brasileiros Paulistano e Liga Sorocabana, da NBB. Seu último time foi o Brasília, também da NBB.

    Depoimento da mãe

 

Mãe de Fabrício, Regina Célia

Em entrevista ao site G 1 Zona Mata, a mãe de Fabrício, Regina Célia contou:”Na semana passada mesmo viajamos a passeio, ele estava bem. Não tinha reclamado de dor, nada. Acredito que tenha sido infarto fulminante. Ele morava na casa em cima da minha. Ontem mesmo ele veio aqui em casa, deitou, abraçou. Estava cogitando parar de jogar e abrir um negócio aqui. Quando foi hoje (sábado), os amigos foram chamá-lo para um aniversário e ele não respondia. Fui até a casa dele com um amigo e, quando o vi na cama, percebi que estava morto”.

   Sobre o momento da carreira do filho, revelou: “Ele machucou a panturrilha e não estava conseguindo jogar. Eles até já tinham contratado outro jogador da posição dele, aí ele ficou sem jeito por não poder jogar e preferiu rescindir o contrato. Voltou pouco antes do Natal”. Sobre os obstáculos enfrentados na carreira, a mãe relatou: “Teve os problemas dele, mas saiu de cabeça erguida. Ele sempre foi agitado, conversava com todo mundo. Inimigo ele não deixou, todo mundo gostava dele… era bom garoto.”

   Ainda de acordo com o site, em informação desta segunda-feira, a “Polícia Civil não vai investigar a morte do jogador. (…) A  autópsia revelou que ele teve morte natural, com causa indeterminada”. O 4ª Departamento de Polícia Civil descartou qualquer possibilidade de crime e informou que não vai abrir inquérito.

 

Texto inicial: Ivan Elias e Elisa Ladeira – Toque de Bola

Textos complementares do site Uol e do GE Zona da Mata e Centro-Oeste

Fotos: Arquivo Toque de Bola, Raphael Lemos – GE Zona da Mata e Centro-Oeste e Folha de S Paulo

Edição: Toque de Bola

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