Pode isso? Bola rola em Santa Terezinha

  Mais uma vez. Após receber confraternizações denunciadas pelo Toque de Bola, o Estádio Salles Oliveira voltou a ser foco da revolta de moradores de Santa Terezinha.
   Neste sábado, dia 6, cerca de dez crianças com idade entre 10 e 13 anos, a maioria com uniforme do Sport Club Juiz de Fora, estiveram no centro de treinamento do Tupi para realizar atividades físicas e técnicas. 

  Segundo o último decreto emitido pelo programa “Minas Consciente”, ao qual Juiz de Fora aderiu, não estão autorizadas atividades ou treinamento em clubes esportivos.

Algumas crianças estiveram em campo realizando atividades

  De acordo com informações de moradores vizinhos, sete adultos que levaram as crianças ao local orientavam o treinamento. A atividade foi realizada em campo reduzido com o auxílio de materiais esportivos como pratos de marcação.
  Além disso, nenhuma pessoa presente no local utilizava máscara de proteção, medida recomendada por todas as autoridades de saúde no combate ao coronavírus.

“Que dia foi isso?”

  A reportagem fez contato com o presidente do Tupi, José Luiz Mauler Júnior, o Juninho. Inicialmente, o mandatário carijó se surpreendeu com a informação. Ao saber que a atividade ocorria no momento da ligação, Juninho disse que tomaria providências.

  “Que dia foi isso? Agora? Isso não tem a mínima condição. Estou indo lá agora, nesse segundo”, disse o presidente.

Providências tomadas

  Poucos minutos depois, quando Juninho chegou ao Salles Oliveira, as crianças, segundo ele, apenas “batiam bola no campo”. O presidente providenciou, de imediato, o encerramento das atividades que ocorriam no gramado.

  “Cheguei lá e o Evaldo estava com um pessoal lá. Um dos garotos está fazendo aniversário e ele me disse que eles estavam apenas brincando. Perguntei a ele: ‘Evaldo, você perdeu o juízo? A gente pode tomar uma multa da prefeitura, um troço violento’. Ele achou que não tinha nada demais. Como assim não tem nada demais? Está passando na televisão o dia inteiro. Como que pode não ter nada demais? É brincadeira”, lamentou o presidente.

Presidente Juninho compareceu no local após contato da reportagem

Aviso dado

  Segundo Juninho, não serão toleradas outras atividades semelhantes. Caso isso volte a ocorrer, providências serão tomadas.

  “Avisei a ele que a próxima vez que acontecer algo desse tipo eu vou pegar a chave, rescindir seu contrato, mandar trocar os cadeados e não quero te ver mais aqui dentro. Tá faltando o que para esse pessoal entender o que tá acontecendo? Morrer alguém da família deles?”, esbravejou.

  Ao final do contato, Juninho confirmou a informação de que nenhum responsável presente no local fazia uso de máscara de proteção.

  “Dos pais que estavam lá, nenhum deles estava utilizando máscara. Você brincar com a sua vida tudo bem, mas colocar em risco a vida do seu filho? Não dá para entender”, finalizou.

Preocupações

  Ao Toque, o infectologista Guilherme Côrtes falou sobre os perigos de aglomerações como essa em um período de pandemia.

  “O risco da prática de esportes coletivos não está somente na plateia. Os jogadores envolvidos também correm riscos. Nós sabemos que pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus, então o fato de estar saudável não quer dizer que não possa estar contaminando alguém. Outro fator é que, em esportes coletivos como o futebol, as pessoas respiram com maior intensidade e têm contato físico com as outras. Durante a atividade, as pessoas ‘respiram o ar dos outros’, que pode estar com o COVID-19. Mesmo com os meninos se sentindo bem, correndo, sem problema nenhum, eles podem ser transmissores em potencial. Logo, essa prática traz o risco de proliferação do vírus”, explicou.

Quem “brincava”?

  A reportagem fez contato com Evaldo, proprietário do bar que fica localizado dentro do Salles Oliveira. Segundo ele, as crianças que brincavam no campo eram do bairro vizinho ao terreno e alguns filhos de pessoas que estavam no clube.

  “Era o pessoal da vila que estava brincando ali e os meninos do Sport, filhos de jogador, que estavam aqui também, e foram brincar lá no meio. Mas o Juninho já veio aqui e tirou todo mundo. O problema é que a favela pula toda aqui para jogar bola, dá até três times aqui. Eu vou fechar os portões todos e aí se alguém pular vamos ter que chamar a polícia porque já não é com a gente mais”, disse Evaldo.

Os próprios pais e/ou responsáveis coordenaram as atividades em Santa Terezinha

  De acordo com o presidente Juninho, Evaldo disse que os meninos que estavam no local não eram atletas do Sport Club. A produção contatou a diretoria de futebol do Verdão, que confirmou que alguns eram, de fato, atletas do clube, mas que, com a pandemia, os contratos com o alviverde estão suspensos, o que isenta o clube de qualquer responsabilidade sobre o fato.

Corte geral

  Ao Toque, Evaldo confirmou que o zagueiro Adalberto, ex-Tupi e Tupynambás, faz seu treinamento diário no campo, mas que vai pedir ao atleta para tal fato não se repetir.

  “O Adalberto está treinando aqui de manhã com o sobrinho dele. Ele que traz os pratinhos para fazer as atividades, as bolas e tudo mais. Vou ter que falar com ele para parar com isso também, para não termos problemas mais”, finalizou.

Texto: Toque de Bola – Pedro Sarmento, supervisão Ivan Elias 

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