Como está a cabeça do Tupi no primeiro trabalho do elenco após a conquista de uma vaga histórica à terceira fase da Copa do Brasil, superando, em dois jogos, um adversário de Série A (Atlético Paranaense)?
Foi em busca dessa resposta que o Toque de Bola chegou cedo nesta sexta-feira, 8, ao campo do Instituto Granbery, para entrevistar o treinador Leston Júnior. Ciente de que ele e o grupo de jogadores colocaram seus nomes na galeria de glórias do clube, sabe que dentro de campo as coisas podem ser muito melhores com o tempo. Lembrou que sua chegada, a 15 dias do final do Campeonato Mineiro, hoje pode ser considerada fundamental, pelo trabalho de avaliação feito naquele período, em que era preciso identificar mudanças emergenciais no elenco.
Destaca o poder de reação e o controle emocional demonstrados por um elenco ainda em formação diante da pressão da Arena da Baixada. Lembra que o zagueiro Paulão, substituto de Fabrício Soares, não atuava 90 minutos há um ano, mas para por aí de jogar confetes. “Não podemos nos abraçar a esse feito. Foi legal, foi bacana, mas a partir de hoje temos que pensar para frente”, determina. E de hoje até o dia 16 não se fala em Ceará ou América Mineiro, candidatos a adversário carijó na terceira fase da Copa do Brasil. O foco está na Tombense, semifinalista de um estadual em que o Tupi fracassou, adversário que mantem a base, está reforçado e anuncia a chegada de um treinador vitorioso.
Leston comenta ainda a possibilidade de saída do preparador físico Luís Augusto, que teria recebido proposta (mais tarde a transferência se concretizou) para se juntar a Leonardo Condé no Sampaio Corrêa, clube da Série B.
Toque de Bola: Agora de cabeça fria, passada a emoção, já de volta a Juiz de Fora, qual o balanço do desafio que foi alcançado? Hoje muita gente pergunta nas entrevistas qual o tamanho da vantagem. Então vamos aproveitar a onda: qual a dimensão desse resultado obtido?
Leston: Hoje, depois de tudo aquilo que se passou em Curitiba, temos a noção exata do que representa para o clube em todos os aspectos essa classificação, esportivamente falando é um feito histórico. Um clube de menor investimento avançar para uma terceira fase de Copa do Brasil no enfrentamento contra um grande clube, com um poder de investimento altíssimo, com uma das melhores estruturas do País… São aquelas coisas que só o futebol permite. Existe dentro de nós uma satisfação muito grande. Uma sensação muito gostosa de ter conseguido esse feito, mas ao mesmo tempo de consciência que temos muito trabalho pela frente. Não podemos nos abraçar a esse feito. Foi legal, foi bacana, mas a partir de hoje temos que pensar para frente. Tirar proveito, sim, desse confronto e dessa classificação, para a terceira fase da Copa do Brasil.
Toque de Bola: Conte um pouco os bastidores da partida. A situação do Fabrício Soares, que foi com a delegação até o Rio de Janeiro e de repente não poderia ser escalado pelo problema do registro na CBF. Aí precisa entrar o Paulão, que jamais havia treinado na equipe titular…
Leston: São essas situações que você sempre tem que estar preparado para enfrentar. Tivemos esse imprevisto, a não condição de jogo do Fabrício, ficamos sabendo disso chegando ao Rio de Janeiro. É uma forma nossa de trabalhar, sempre preparando o grupo todo para jogar, sempre mostrando a todos que a qualquer momento as oportunidades surgem. E o Paulão soube tirar proveito da oportunidade que teve. Atleta que estava há mais de um ano sem fazer 90 minutos. Última vez que ele atuou 90 minutos foi no Estadual do ano passado. O atleta teve o apoio de todos. Em momento algum houve um olhar de desconfiança ou de falta de segurança em função de ele nunca ter treinado na equipe que a gente estava desenhando para jogar. Ele recebeu o apoio de todo mundo. Chegamos tranquilos a Curitiba. Nem chegamos a tocar no assunto como normalmente eu faço. Não fico comentando ausência, procuro enaltecer, dar confiança para quem vai jogar. A rotina foi aquela normal de jogo. Sabíamos que a pressão ia ser muito grande, mas tão logo terminou o jogo aqui em Juiz de Fora a gente tinha colocado para os atletas que era impossível classificar sem fazer um gol lá. Segurar um 0 a 0 contra o Atlético 90 minutos na Arena era impossível. O grupo se conscientizou disso, e demonstrou algumas características muito interessantes para um grupo que está sendo montado agora. A primeira: um poder de reação muito grande porque sofreram o gol com 20 minutos, como nós sofremos, e empatar logo na sequência, foi preciso um poder de reação muito grande de todos, e o equilíbrio emocional muito interessante. Quando nós sofremos o 2 a 1, ainda no começo do segundo tempo, tínhamos ainda uns 30 minutos com o Atlético a um gol da classificação, e a um gol da nossa eliminação. O grupo soube sofrer, soube manter o equilíbrio, se portar bem, as correções táticas que foram feitas no intervalo foram assimiladas de uma forma muito positiva, e voltamos diminuindo os espaços do Atlético, impedindo que o Atlético fizesse o que fez no primeiro tempo, principalmente. Foi uma demonstração que o trabalho está caminhando, e vivenciando tudo isso contra uma grande equipe é algo que nos fortalece muito porque só quem enfrentou o Atlético sob seus domínios sabe a força que tem aquele clube e diante de seu torcedor, e o Tupi teve realmente uma noite histórica, onde conseguiu superar tudo para alcançar essa classificação.
Toque de Bola: Você chegou num momento difícil e teve duas derrotas logo de cara nos jogos finais do Tupi no Campeonato Mineiro (0 x 1 Guarani, em Divinópolis, e 1 x 2 URT, em Juiz de Fora). Chegou a pensar em não ficar? O torcedor estava desanimado com a fraca campanha no estadual, a pior dos últimos anos.
Leston: Quando eu recebi o convite, já tinha uma noção do tamanho do problema, porque profissional de futebol vive futebol 24 horas. Eu estava em casa até o momento por opção (nota da redação: Leston estava sem clube quando aceitou o convite do Tupi), mas acompanhando tudo que estava acontecendo, e já tinha visto dois ou três jogos do Tupi no Mineiro. Quando vim, o teor da conversa foi: vamos fazer esses dois jogos da melhor maneira possível, mas com o foco já nesse processo de reformulação, de transição, para as competições seguintes, segunda fase da Copa do Brasil e a Série C. Tiramos muito proveito desses 15 dias, hoje não estaríamos no estágio que estamos, e ainda estamos muito longe do ideal, mas talvez não estaríamos nesse estágio de hoje se eu não tivesse vindo para cá 15 dias antes de acabar o campeonato. Aqueles 15 dias foram importantíssimos para que a gente fizesse uma avaliação do elenco, que aqui estava, daquilo que nós precisaríamos trazer num primeiro momento de forma emergencial para a sequência. Foram 15 dias proveitosos. Infelizmente os resultados foram duas derrotas, mas que eu coloco como circunstanciais. Pelo momento do Tupi, pelas dificuldades que o Tupi teve no campeonato mineiro, pela instabilidade do elenco, pelo aspecto emocional. A cobrança estava muito grande. Tínhamos essa dimensão. Com tranquilidade, passamos para a diretoria tudo aquilo que era preciso fazer. Ainda temos muita coisa para fazer, mas tenho certeza que a perspectiva hoje é outra do torcedor. O torcedor ganha essa consciência. Ele tem acompanhado isso no dia-a-dia, nos contatos que temos com o torcedor na rua, ele tem sentido que esse momento de transição está sendo bem feito, e com uma expectativa que a gente consiga na Série C e na terceira fase da Copa do Brasil fazer uma campanha mais próxima daquilo que todos querem.
Toque de Bola: Já houve tempo de estudar Ceará e América (do confronto, sai o próximo adversário do Tupi na Copa do Brasil)?
Leston: Vamos começar a ficar atentos a algumas situações, mas eles se enfrentam. No dia 12 já tem o primeiro jogo. Mas o foco tem que ser o Tombense. Temos que virar essa seta, deixar a Copa do Brasil um pouco de lado e pensar tão somente na Tombense. Se o Tupi não fez um bom Campeonato Mineiro, a Tombense, ao contrário, foi semifinalista na competição, manteve o mesmo time e ainda contratou mais cinco ou seis jogadores. Temos um adversário muito duro, difícil no dia 16 e temos que pensar só neles. Vamos fazer uma sequência de treinamentos focados, para que a gente faça uma grande estreia no sábado, 16, lá em Tombos.
Toque de Bola: Você prefere montar um time de acordo com cada adversário ou prefere ter um time-base e mudar só quando necessário? Como vai trabalhar isso nessa competição de pontos corridos como é a primeira fase da Série C?
Leston: Futebol você precisa ter uma forma de jogar. Tem que tentar manter uma estrutura de time, mas dentro dessa forma de jogar você precisa ter espaço para mudar de acordo com a necessidade do jogo. Não sou a favor de você jogar em casa de uma maneira e fora de casa de outra. Porque eu acho que assim não se atinge uma identidade de time. Tem que ter uma forma de jogar, sua, com algumas alternativas, e de acordo com o jogo você optar por uma característica ou outra, de um ou outro jogador, mas sempre respeitando uma estrutura de time. É muito comum a gente ver treinadores reclamando de entrosamento, e eu acho que essa questão parte pela manutenção de uma base. Vamos procurar sempre privilegiar a produção. Não é só jogar bem. É jogar e treinar com intensidade, é o dia-a-dia. Eu digo sempre isso: o atleta joga 90 minutos por semana, mas ele treina 15, 16 horas. Então o meu parâmetro não pode ser só o jogo. Tem que ser o jogo mas também o treinamento, o dia-a-dia. Sempre vamos procurar conduzir tendo uma estrutura de time, uma identidade, uma forma de jogar particular, e procurar usar o atleta no seu melhor momento. Por isso temos que ter um grupo forte, qualificado, porque numa competição longa como a Série C é muito difícil o atleta manter o alto nível em toda a competição. Vai ter o momento de oscilação técnica, de oscilação física, ou emocional, e você precisa de um grupo que te dê reposição a altura para ter um time forte durante toda a competição.
Toque de Bola: Com quantos jogadores você espera trabalhar? Você tem alguma indicação de nomes para a preparação física caso se confirme a saída de Luís Augusto Alves?
Leston: No elenco, vamos trabalhar com uma média de 28 atletas. Num campeonato em que você joga a cada sete dias, acho que é satisfatório, mas sempre abertos ao mercado. Futebol você nunca está fechado, para saída ou para entrada. Precisa estar atento a tudo aquilo que está acontecendo. Ainda temos necessidade de algumas peças chegarem, estamos conversando com a direção, mas vamos fazer com critério, com cuidado, porque o que precisava ser feito emergencialmente foi feito. Dar uma nova cara a esse grupo. Mudar um pouco o perfil dos atletas. Ter atletas que enxergam o Tupi como a grande oportunidade de suas vidas. Isso foi uma das primeiras coisas que eu detectei logo quando cheguei: a necessidade ter esse tipo de perfil de atleta aqui. Quanto a uma possível saída de todo e qualquer profissional, a gente que vive no futebol conhece e sabe que, caso tenha alguma situação, não só do Luis como qualquer outro profissional, vamos procurar repor com a mesma qualidade, mas acima de tudo, com a mesma identificação com o trabalho, com o clube, com a instituição. Sem dúvida, esse envolvimento é fundamental para que as coisas aconteçam.
Toque de Bola: Você conhece o novo treinador da Tombense, Marcelo Mabília, anunciado recentemente? Já atuou contra ele por outras equipes?
Leston: Conheço de trabalhos. Profissional que trabalha muito no Sul do País. Vem de uma sequência de bons trabalhos,inclusive agora no Inter de Lages (SC). É o que vamos enfrentar na Série C. Ela é muito forte, equilibrada. A Tombense é uma das equipes em potencial pelo investimento, pelo momento que vive. Vem de um título da Série D, de uma semifinal do Mineiro, é indiferente do comandante, e o Mabília é um profissional gabaritado, as dificuldades são inúmeras em função do nível de exigência da competição.
Texto: Toque de Bola por Ivan Elias
Foto: Toque de Bola
O Toque de Bola é administrado pela www.mitsoquentecomunicacao.com.br