Os registros na imprensa, as lembranças e as fotos não deixam mentir: momentos da vida de Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, estão ligados a Juiz de Fora.
Seja num abarrotado Seleção Mineira x Seleção Paulista no estádio do Sport, nas lembranças dadas a Moacyr Toledo que o marcou em um amistoso em 1966; na aposta em quem venceria o clássico Tu-Tu na estreia da loteria esportiva em 1970 e, anos depois, na visita para inaugurar um projeto social que une esporte e escola e batizar um dos vestiários do Estádio Municipal.
Nos 80 anos do Rei, o Toque de Bola revisita estas histórias.
Mineiros x Paulistas
Na época em que era comum o confronto entre seleções estaduais, Pelé desfilou seu talento no estádio José Procópio Teixeira. O adversário era a seleção mineira recheada de talentos locais.
Entre eles, Moacyr Toledo. Em entrevista concedida ao programa Pautando o Esporte, produzido e apresentado pelo Toque de Bola, o ídolo do Carijó contou como foi esse “jogão” dentro e fora de campo.
No tempo 26:25 do vídeo começa o relato sobre a partida
O encontro entre Pelé e Toledinho
O ano é 1966. O Tupi era conhecido como o Fantasma do Mineirão, foi convidado para um jogo treino contra a Seleção Brasileira, que se preparava para a Copa da Inglaterra.
A partida foi realizada em Caxambu. E a equipe do técnico Geraldo Magela não se intimidou diante de Garrincha, Gerson e Pelé, abriu o placar com gol de João Pires. A seleção só empatou no segundo tempo, com gol do reserva Servílio. E venceu na segunda etapa, após muitas modificações, por 3 x 1.
Quando o time se preparava para voltar a Juiz de Fora, Pelé pediu para conversar com o jogador que o marcou durante a partida. Um dos lances foi capturado por um fotógrafo que deu ao Rei a foto e Pelé decidiu dar de presente a Moacyr Toledo.
“Na hora eu agradeci, claro, mas não tive a dimensão do que isso iria representar mais tarde para mim. Nem gosto de falar muito sobre isso, mas sem dúvida essa foto me acompanhou, marcou a minha vida”, disse Toledinho em entrevista ao Toque de Bola em 2011.
A imagem fica no hall de entrada do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, onde o ídolo carijó trabalhou como administrador até pouco antes de morrer, aos 87 anos, em 2019.
“Ao Toledo, do amigo Pelé”
Anos depois, a foto permitiu mais uma homenagem ao encontro entre o Rei do Futebol e o ídolo Carijó. A iniciativa partiu de Paulo Henrique, filho de Toledo, em 2018: conseguir o autógrafo em uma camisa especial.
“Conseguimos o contato com a secretária do Pelé, contamos a história e ela prontamente nos atendeu. O Pelé lembrou da permanência da Seleção no Sul de Minas, desse jogo”, disse Paulo Henrique ao Toque de Bola.
A camisa autografada agora é parte do acervo da família e uma lembrança viva de tudo que Moacyr Toledo representa para o futebol de Juiz de Fora.
“Papai tinha muito orgulho e, para a gente da família, é de uma valia muito grande, ter esta foto e continuar falando sobre ela. Encontramos um escrito com a letra de papai nas coisas dele: ‘As pessoas só morrem quando elas deixam de ser lembradas’. Então é com muito orgulho que a gente fala dele e desta foto”, afirmou Paulo Henrique.
Pelé apostou no Baeta contra Tupi
Em 1970, estreava no Brasil uma modalidade de apostas controlada pelo governo federal: a loteria esportiva. No concurso de estreia, que funcionaria como teste, constava o clássico juiz-forano: Tupi x Tupynambás, disputado em 19 de abril de 1970. O jogo 10 seria por muito tempo o último confronto pela elite do Campeonato Mineiro. Os times só voltaram a se reencontrar no Mineiro de 2019.
Reportagem da Tribuna de Minas em 2018 contou as curiosidades deste confronto Carijó x Leão. Citando o extinto jornal Diário Mercantil, Pelé, o Rei do Futebol, palpitou que o Baeta venceria o clássico. Já Zagalo, que comandaria a seleção que ergueria o tricampeonato mundial meses depois no México, marcou que o Carijó venceria.
O Velho Lobo acertou: o jogo terminou 2 x 0 para o Tupi.
Pelé, o vestiário e o projeto social
Em 24 de maio de 1996, Pelé veio a Juiz de Fora. O então ministro extraordinário dos Esportes batizou com o nome dele um dos vestiários do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Visto do campo, é a entrada que fica à esquerda, do lado onde ficam as cabines de transmissão.
Além disso, participou da inauguração do “Bom de Bola, Bom de Escola”. Uma foto que consta no arquivo da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) registrou o momento em que Pelé recebia uma homenagem da então Secretária de Educação, Diva Sarmento, cercado pelos garotos do projeto.
O projeto ainda existe, passou por reformulações nos últimos 24 anos. Atualmente se chama “Bom de Bola” está com as atividades suspensas por causa da pandemia.
Em 2020, estão inscritos cerca de 500 meninos e meninas entre seis e 16 anos nos oito núcleos nos bairros São Geraldo, Benfica, Santa Cruz, Barreira do Triunfo, Borboleta, São Pedro, Teixeiras e JK/Lourdes.
O objetivo é atender crianças e adolescentes inscritos na rede de ensino, oferecendo atividade orientada, que permita o desenvolvimento da sociabilidade, concentração, disciplina e saúde dos e das participantes.
Além do treinamento, disputam internos entre os núcleos, para selecionar quem vai formar o time do Bom de Bola, em cada faixa etária para disputar partidas oficiais, a princípio em campeonatos municipais e regionais.
Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira com informações do arquivo do Toque de Bola, da Tribuna de Minas, Prefeitura, Museu Virtual do Futebol.
Fotos: Prefeitura de Juiz de Fora/Divulgação; SEL/arquivo; Paulo Henrique Toledo/arquivo pessoal.