América, África, Ásia e Europa. O novo comandante do Tupi, Paulo Campos, já trabalhou em equipes destes quatro continentes durante sua carreira no futebol. Carioca e apaixonado por sua profissão, o técnico de 57 anos parece ter 30, como ele mesmo afirmou e, ao ser questionado sobre suas características, se descreveu como um maestro e destacou o desgosto por atletas que não têm leitura de jogo e conhecimento tático.
“Por ter sido torcedor, quando jovem, sou daqueles que vai ao Estádio para vibrar. Como torcedor e ex-jogador das categorias de base, em que era capitão nos times por onde passei, e como treinador, a minha característica é a de fazer o time jogar por música, como costumo dizer. O técnico tem que ser um maestro, fazer o time entender e ‘jogar por música’ e, acima de tudo, atuar com a equipe. Fora de campo, vibrar com time e torcedor, pular e abraçar com os jogadores. Sou um treinador alegre, apaixonado pela profissão. Minhas equipes sempre fizeram muitos gols, buscaram sempre o setor de ataque, mas claro que você precisa de peças para isso, times equilibrados, aguerridos, lutadores e inteligentes. Não gosto de pernas de pau, jogadores com nível intelectual baixo, que não entendam táticas ou situações de jogo”, revelou.
O treinador que passou pelas seleções do Kwait, Libéria e Gana, além de ter trabalhado como auxiliar na Seleção Brasileira Olímpica, em 2003/2004 e no Real Madrid, em 2005, afirmou que os trabalhos devem ser adaptados de acordo com a cultura da região, enfatizando essa pluralidade de costumes e metodologias.
“Levo comigo a diversificação. Completamente diferente você trabalhar com um jogador brasileiro e um africano, árabe, europeu. São mentalidades diferentes e isso enriquece nossa cabeça, da mesma forma que você aprende diversos idiomas, em que isso te dá facilidade, ao ir para um país, em comunicar e ser entendido. Chego aqui no Brasil e analiso: qual o tipo de trabalho feito aqui? Aí o que você aprendeu no passado, tenta executar da melhor maneira possível. Quando vai para a Europa, leva o que aprendeu no Brasil e em outros lugares, mas para trabalhar com os jogadores europeus, então essa diversificação é o mais importante”, analisou.
Jovialidade e busca por desafios
Com apenas cinco jogos para comandar a equipe, inicialmente, Paulo Campos vem passando por uma experiência inédita na carreira ao comandar um clube mineiro pela primeira vez, algo que o treinador almejava profissionalmente e hoje pode ser considerada mais uma conquista pessoal.
“Tenho 57 anos, mas meu espírito é muito jovem, me sinto uma pessoa de 30, 35 anos. Meu hobbie é praticar esportes e acho que procuro cada vez mais desafios. Esse aqui, pelo tempo que vai ser, por enquanto, é um desafio, também por conseguir ser treinador no Campeonato Mineiro. Já fui em São Paulo, no Rio, em Pernambuco, Paraná. Entrar em Minas Gerais é difícil, possui excelentes treinadores, grandes clubes. Sonho também lá na frente conseguir outras coisas, mas guardamos para a gente”, contou.
Paulo ainda analisou, por sua experiência, a diferença no trabalho e na forma de lidar com o atleta de um time de menor expressão em relação aos considerados grandes. Para o técnico, o jogador pertencente a um clube de menor investimento deve ter um fator psicológico bem trabalhado.
“A diferença muito grande é a de que, por terem melhores condições financeiras, conseguem trazer atletas com nível técnico teoricamente superior. Os grandes clubes, pelos patrocínios e presença de torcedor, conseguem contratar grandes jogadores para seu plantel. A dificuldade nossa é essa, temos que fazer a equipe acreditar que, mesmo não trazendo as grandes estrelas do mundo para jogar, eles têm que se tornar estrelas, brigar de igual para igual. Devem botar na cabeça que com trabalho sério e responsabilidade também podem ser estrelas”.
O saudoso futebol com bola de meia
Para muitos, o futebol passa por um momento de mais transpiração e menos inspiração. Na visão do treinador do Tupi, isto ocorre pela significativa melhoria nas condições de trabalho dos jogadores e comissões, diminuindo o espaço, por exemplo, de um antigo modo de praticar o esporte.
“Antigamente, o futebol era aquele jogado com bolinha de meia, na rua. Era só criatividade, muito interessante, bonito. Os jogadores ficavam em um time só, é um passado que realmente traz saudade. Hoje em dia, os grandes talentos fazem a diferença. Não são muitos, mas fazem. E atualmente existem diversas maneiras de melhorar produtividade com o melhor preparo físico, vitaminas, suplementos, melhores cuidados médicos. Os talentos aparecem, mas se forem mal trabalhados, diminuem. E aqueles que sonham em se tornar grandes jogadores, têm que trabalhar muito mais do que os talentos, que não aparecem toda hora”, finalizou Paulo.
Texto: Bruno Kaehler
Foto: Toque de Bola