1 – Hoje é dia do cara que não tem direito de falhar.
2 – Não queremos muito saber se o erro começou pelo atacante lá na frente, que perdeu um gol. Se foi o meia que vacilou no passe e deu ao oponente o contra-ataque fulminante.
3 -Não venham me dizer: ah, os zagueiros foram acometidos por algum vacilo físico – mental – escatológico e aí o 9 deles só empurrou para as redes. Nada disso interessa. Nem se entramos em campo como lanterna e estamos diante do líder disparado. Agora isso não importa.
4 – Queremos, não, exigimos que o nosso guardião honre ser chamado de guardião. Tem que pegar essa bola. Todas as bolas. Ao vivo ou no stories do Instagram. Se não fosse assim, por que chamá-lo de “último homem”?
5 – Entendeu agora? Você, goleiro, é o último, o único, ninguém mais pode ser capaz de evitar nosso choro e o sorriso deles. Só você e seu espelho distante podem usar as mãos e não serem punidos por apitos e cartões por mais de noventa, quer que desenhe?, 90 minutos!
6 – Vamos lá, né, amigão… Tempo para você mostrar serviço não falta. E olha que a esfera pode nem atingir o seu “gabinete” cinco vezes nessa hora e meia mais plaquinha de acréscimo. Mordomia, privilégio, como devemos qualificar?
7 – Ah, também não queremos saber se quem chutou foi Pelé, Platini, Zidane, Eusébio, Messi, Cristiano Ronaldo, Maradona. Sua função é pegar. Impedir. Obstacular. Não deixar transpor, pô!
8 – Se não tem como alcançar, chame as traves. Invoque alma deste ou do outro mundo. Te vira.
9 – A regra é clara: não se trata de um pedido. Nós, torcedores, na arquibancada, no bar ou no lar, ordenamos: a bola não pode entrar. Como, não nos importa.
10 – Parabéns, goleirão, pelo seu dia. Sim, temos um coração gigante e já perdoamos você por reconhecer que tudo o que dissemos aqui no campo de cima é verdade.
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola