Paixão do torcedor: “Os que torcem por nós”

26 de março de 2011

Por Marcos Caetano

Minha mulher, Alexandra, tem nome e modos de princesa, mas é no caráter que a bela mostra toda a sua nobreza. Quem me conhece sabe que eu não escrevo isto para fazer média. E quem me lê sabe que assunto acabará chegando ao esporte. O texto de hoje não é uma carta de amor, embora chegue perto. O assunto da coluna derivou para a minha alma gêmea porque, no meio da semana, fomos juntos a mais um jogo de futebol. Não abro mão desse prazer, ainda que muitas vezes o desfecho seja sofrido. Confesso que sinto um pouco de dó dos comentaristas que ficam tão famosos que acabam temendo ir aos estádios. Uns alegam temer a reação dos torcedores adversários, ou de sua própria torcida, dependendo do que escrevem. Outros consideram fundamental manter a imagem de isenção, como se fosse possível alguém virar jornalista esportivo sem jamais ter torcido muito por um time.

Talvez por não ser uma celebridade da crônica esportiva, jamais passei por qualquer embaraço num estádio e, portanto, jamais deixei de frequentá-los. Sempre na arquibancada, diga-se, pois nunca pedi credenciamento para entrar de graça em jogos no Brasil. Vale dizer que torcer por um time jamais afetou minha isenção na hora de escrever. Em primeiro lugar porque todos os comentaristas torcem, às claras ou não, por um time. Além disso, ao não fazer segredo sobre a minha preferência clubística, qualquer pecado de imparcialidade ficaria inapelavelmente escancarado.

Voltemos, no entanto, ao tal jogo. Disputa de Libertadores, confronto de vida ou morte. No final, bem no final, um gol milagroso dá a vitória ao meu time. O juiz apita, a torcida explode em júbilo, eu me descabelo de alegria. E é aí que a Alexandra volta seus lindos olhos para mim. Ela está chorando de emoção. Eu já havia visto a minha mulher chorar quando o meu time, que até pouco tempo nem era o dela, venceu a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. As lágrimas também rolaram de seu rosto quando o Brasil perdeu as últimas copas. Mas foi nesse jogo de meio de semana, num estádio um tanto vazio, que eu finalmente compreendi o que a emociona tanto num esporte que nunca lhe havia despertado paixões e num time que só entrou em sua vida quando eu entrei em sua vida. No fundo, ela torce é por mim. Pois é. Por mim. Por este tolo torcedor do Fluminense (acharam que eu não ia contar?). Por alguém que até a última quarta-feira ainda não tinha se dado conta dessa linda obviedade.

Graças ao pequeno episódio conjugal, eu descobri um tipo de torcedor que, mesmo após quase quatro décadas em estádios, havia me escapado: aqueles que torcem não por times, mas pelas pessoas que amam. Nessa singela categoria, estão os apaixonados de toda sorte, o filho que se realiza através do sorriso do velho pai, o pai que só encontra a felicidade através da celebração do filho, a mãe do goleiro, a namorada do zagueiro, a amante do atacante – e todos aqueles que nem ligam muito para esse negócio de futebol, mas que não conseguem conceber a vida sem a alegria de seus amados.

Esses torcedores são mais valorosos do que nós, que apoiamos apenas um time. Os que torcem por nós não precisam de bandeiras ou vitórias, de títulos ou de taças. Um simples sorriso nosso, comemorando a vitória num jogo mixuruca é, para eles, como se fosse a própria taça do mundo. Ninguém torce mais do que essas pessoas que eu tardei a descobrir. Como se não bastasse, enquanto nós, egoístas, xingamos o time quando as coisas não vão bem, eles nos apoiam sempre, na vitória e na derrota. Para os que torcem por nós, o campeonato não acaba com a última partida. Eles torcerão pela gente até que nossos olhos se fechem pela derradeira vez, para o futebol e para a vida. É por isso que não deveríamos perder a chance de agradecer sempre aos torcedores do Nosso Time F.C. Foi o que eu tentei fazer aqui.

Texto: Marcos Caetano – Site da ESPN Brasil -www.espn.com.br

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