Perguntaram ao craque Cristiano Ronaldo estes dias quem era o Ronaldo mais importante, se o próprio português, se o brasileiro artilheiro ou o brasileiro malabarista.
Se nos perguntarem hoje, podemos afirmar que o grande craque (e com quem pude aprender um pouco numa redação que não volta mais) chamava-se Ronaldo Dutra Pereira.
Irreverente, sacana, gozador, amigo, irrequieto e ao mesmo tempo paciente para nos orientar e advertir. Jornalista que não engolia desculpas esfarrapadas das fontes e que nos bastidores de noites e madrugadas transformava tudo em ótimas histórias e gargalhadas.
Um exemplo rápido do seu olhar jornalístico? Tupi campeão e Ronaldo na cobertura. Um cartola da época, na comemoração, pega e levanta, sozinho, o troféu. Legenda do Ronaldo: “quantos gols ele marcou?”
As frases do Ronaldo, aliás, nas páginas ou entre os companheiros de redação, eram autênticas pérolas.
“Amanhã vai ter tapa na banca para comprar o jornal”. Essa era dedicada aos dias em que não havia grande novidade e consequentemente as manchetes não sensibilizariam o leitor mais exigente.
E o tanto que ele amolava o amigo Renato Henrique Dias, que só balbuciava “ô, bicho” antes de também começar a rir da amolação?
E quando começou a era das reuniões dos editores de páginas às segundas-feiras oito horas da manhã?
Ronaldo editando nacional/internacional e eu no esporte sabíamos que só por milagre nossa principal notícia seria manchete da primeira página na semana toda.
Como atravessar duas horas de reunião só testemunhando demais editores “brigando” para ter a manchete da capa? Quanta “corneta” o Ronaldo sussurrava para chegar, enfim, o término daquele suplício? Melhor que qualquer humorístico de hoje.
No final da tarde deste 13 de janeiro de 2022 antigos colegas postaram a partida repentina de Ronaldo. Ainda não acredito.
Estou esperando – como sempre fez até os dias de hoje – ele me ligar para dizer que tudo não passa de um grande engano, de uma peça que resolveu nos pregar na chamada pré-temporada do futebol.
Ronaldo, você foi grande. Como jornalista, amigo, conselheiro. Vai ser muito difícil isso aqui sem as suas cornetadas.
Vou me permitir ficar com uma lembrança especial. O jogo vai para os pênaltis e termina quase uma hora da manhã, o texto fica pronto uma e quinze, você me ajuda no título e quando, enfim, levarem o último texto para rodarem o jornal, você vem e pergunta: “Então, tá com muito sono? Que tal a gente tomar um café na rodoviária?”
Saudade, Ronaldo, de tudo que você seguirá representando da alma do bom jornalismo entre nós. Um abraço especial à sua irmã Neusa, também companheirona e mãezona dos bons tempos de jornal, à esposa e a todos os seus filhos e familiares, que nos acolhem com tanto carinho desde aqueles tempos da redação que não volta mais.
Obrigado, Ronaldo!
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos cedidas pela família
Bela homenagem de quem conhece para quem merece.
Olá, Ivan!
Não nos conhecemos, mas só tenho palavras de gratidão por retratar meu querido Tio Ronaldo em tão belas palavras e lembranças! Obrigada!
… tudo que eu precisava ouvir nesse momento de distanciamento e dor. Obrigado por relembrar o Ronaldo alegre que é o meu irmão. Um abraço.
Brilhante Crônica, essa redação mora nas nossas melhores lembranças de criança. E tio Ronaldo com seu vozeirão e altas gargalhadas era um pilar daqueles bons tempos. ‘sem dúvida o melhor dos Ronaldos’
Boas lembranças Ivan. Ele gostava desse café na rodoviária de madrugada… E gostava porque era muito forte. Impensável para quem queria uma boa noite de sono… Rsrsrs.
Ele tinha muitas histórias.
Grande abraço.
Claudio Rinco Dutra Pereira
GRADICIDA, Ivan!
Você trouxe ao meu, no momento, dolorido coração, felizes lembranças desse querido “companheiro/irmão” nosso.
E como você, também estou aguardando um telefonema do Ronaldo me dizendo que tudo não passou de “lêdo equívoco”.
ABRAÇÃO!
Neusa Dutra Pereira
Obrigado Ivan, pelo carinho. Meu tio nutria por vc um imenso carinho. Carinho de um pai para um filho.
Excelente texto que tem uma mistura de história.com sensibilidade.
Grande homenagem Ivan Elias.