No Dia do Treinador de Futebol, profissionais de JF avaliam no Toque: há motivo para comemorar?

Técnicos de JF falam sobre o Dia do Treinador de Futebol

Esta sexta-feira, 14 de janeiro, é comemorado o Dia do Treinador de Futebol no Brasil. Uma profissão muito visada, por elogios e críticas. Profissionais que andam na corda bamba tentando se equilibrar entre a glória e o fracasso, sempre sob a pressão de resultados, dirigentes e torcedores.

O Toque de Bola conversou com quatro  treinadores de Juiz de Fora sobre se há ou não motivo para comemorar e o que falta para a evolução da função no Brasil.

O técnico do sub-17 do Vitória (BA), Alex Nascif, o coordenador técnico do Vila Real Rafael Novaes, Felipe Surian, atualmente livre no mercado,  e o treinador do sub-17 do Inter de Minas, Wesley Assis analisam as alegrias, as agruras de se dedicar à função de comandar equipes no país do futebol. 

Alex Nascif: “A Lei Caio Júnior precisa ser aprovada” 

O juiz-forano Alex Nascif tem 13 anos como treinador, sendo 11 anos trabalhando em equipes profissionais. Ele começa a temporada como técnico do sub-167 do Vitória (BA), após vencer, de forma invicta, o Campeonato Baiano o sub-15 em 2021. E espera motivos para comemorar o 14 de janeiro. 

A função de treinador de futebol brasileiro está se profissionalizando e, ao mesmo tempo, está sendo excludente para os profissionais brasileiros. Essa questão da cidadania me preocupa muito. O treinador tem que ser avaliado pela questão de capacidade. Enquanto isso, não vejo motivos para comemorar. Gosto de comemorar a data do professor, porque eu me intitulo como professor de educação física. Estas são as datas que eu me sinto mais orgulhoso para comemorar”, afirmou.

Ao ser questionado o que falta para a função evoluir no país, ele pontua as seguintes necessidades.

“Eu acredito que a Lei Caio Júnior precisa ser aprovada e as licenças da CBF precisam ser regulamentadas e obrigatórias em todos os níveis do cenário brasileiro. E as pessoas serem contratadas por sua competência e não por questões de amizade e de cidadania. A partir do momento que a gente tiver essa profissionalizado do treinador, aí sim nós podemos comemorar”, resumiu.

Rafael Novaes: “A maioria vive de sonho, uma realidade oposta ao que a mídia transmite” 

Atual coordenador técnico e treinador do Villa Real, o juiz- forano Rafael Novaes está envolvido com o futebol desde os 17 anos período que resume como “um misto de evolução, de conquistas, glórias, decepções e aprendizado”. Sócio uma quadra de futebol society e do futevôlei no complexo, gestor das escolas Furacão e tem um projeto voltado para a saúde e futebol, ressalta que a maioria dos técnicos está longe do cenário dos treinadores de ponta e segue por amor ao esporte e à profissão.

“Motivo para comemorar, se você for analisar o mercado hoje, 1% ou 2% tem salários altíssimos. A maioria ainda vive de sonho, uma realidade completamente oposta do que a mídia transmite para todo mundo. Em relação a mim, estou galgando meu espaço aí no mercado. Eu amo minha profissão, tenho um prazer imenso em trabalhar, em fazer o que eu gosto. Quando eu entro em campo, estou fazendo meu planejamento, meu plano de jogo, esqueço tudo ao meu redor e foco só naquilo. Certamente, a grande maioria que está no mercado segue o mesmo caminho”, analisou.

Rafael Novaes apontou a necessidade dos profissionais conciliarem o melhor de dois mundos: a teoria e a prática no comando de uma equipe.

“Você vê, hoje em dia, muitas pessoas despreparadas que são jogadas ali não por capacidade, mas sim pelo Q.I, quem indica ou por ser amigo de fulano ou de ciclano. Você vê professores que são muito bons na parte teórica e aqueles ex-atletas que são excelentes na parte prática. A gente tem que tentar encontrar esse meio-termo, aliar o estudo à prática. Faltam cursos mais em conta, principalmente para aqueles que não tem capacidade e condições financeiras para pagar cursos da CBF ou da UEFA. Ter um financiamento com iniciativa do governo para buscar o conhecimento e uma base boa para que possam evoluir e crescer na profissão”, explicou.

Segundo ele, esse incentivo à capacitação ajudaria a tirar os maus profissionais do mercado. “Cada vez mais a gente busca informação, a gente busca estudar, saber o que está fazendo. Além de treinadores, somos gerenciadores de pessoas, egos e lidar com sonhos, essa é a maior dificuldade da profissão. Quando você pega treinadores de boa índole, ele vai saber. O problema no cenário atual é que nesse meio tem muito cara desonesto, muito cara pilantra que usa esse sonho dos pais e dos atletas para benefício próprio”, ponderou.

Felipe Surian: “quando ganha, é muito bom e quando perde, não vale nada” 

Aos 40 anos, e trabalhando como auxiliar técnico desde 2012, Felipe Surian tem no currículo acessos, conquistas e se tornou um dos destaques de 2021, com a campanha da Portuguesa (RJ) no Carioca e o início do Sampaio Corrêa (MA) na Série B.

Atualmente sem clube, o treinador juiz-forano aponta a evolução no exercício da profissão e a dificuldade de haver bom senso no relacionamento entre o técnico e todo o entorno ligado ao futebol. 

“Evoluímos bastante, evoluímos muito, os cursos da CBF tem “ajudado”, não tanto o quanto nós treinadores esperávamos. Mas, com certeza, precisa evoluir ainda mais. Não só na busca pelo desenvolvimento contínuo, mas na questão de valorização. O treinador no Brasil é muito questionado. Quando ganha, ele é muito bom e quando perde, não vale nada. Tem que ter sempre bom senso, o meio termo em tudo, uma questão evolução não só de nós treinadores, mas de todo meio que nos cerca: imprensa, torcedor e, principalmente, direção dos clubes”.

Mesmo com esses poréns, Felipe Surian considera importante destacar o 14 de janeiro como o Dia do Treinador em um país que abraçou a modalidade como parte da cultura  e experiência de vida.

“É uma profissão muito difícil, muito questionada principalmente no Brasil. Todo brasileiro tem como segunda profissão ser treinador de futebol. Isso requer mais estudo, mais foco, mais concentração, mais dedicação. Mas é motivo de comemoração, sim”, falou.

Wesley Assis: “o que falta evoluir é dar tempo aos treinadores”

Em mais de 10 anos de carreira, Wesley Assis começa 2022 com uma nova missão: comandar o sub-17 do Inter de Minas. Ele começa a análise sobre o Dia do Treinador de Futebol de forma mais otimista, considerando por que deve festejar a data. 

“Eu tenho motivo sim para comemorar. Eu tive a oportunidade de viver bons momentos, de participar da formação de muitos jovens, além de realizar alguns sonhos pessoais e conquistas. Dez anos com muita dedicação, com muita luta, muito trabalho, muita dedicação, muito empenho, a gente tem mais a  comemorar que lamentar, graças a Deus. Uma profissão difícil, mas a gente se sente realizado com tudo aquilo que o esporte, e particularmente o futebol na função de treinador, me proporcionou”, disse.

Entre os pontos que devem ser melhorados, Wesley Assis cita o respeito ao profissional e a necessidade de dar tempo para o trabalho apresentar resultados. Mesmo com a norma que tentou limitar as trocas de treinadores durante as competições em 2021, elas continuaram acontecendo.

“Pelo esporte ser tão popular, todos os torcedores sentem treinadores. E na prática, não é assim que funciona. A gente se dedica, estuda, como todas as outras. Muitas vezes somos questionados pelas decisões tomadas sem o respeito ao profissional. Eu acho que esse é o primeiro ponto. Além da questão dos profissionais serem demitidos e não terem tempo para demonstrar o trabalho. A gente sabe que o futebol e a montagem de uma equipe é um processo demorado, que demanda tempo para o treinador poder desenvolver o potencial de uma equipe. Essas trocas constantes, muitas vezes sem motivo, só avaliando o resultado imediato, vitória ou derrota, atrapalham demais”, considerou. 

A profissão sob a ótica das leis

Apesar do futebol ter chegado ao Brasil na década de 1890, a função “treinador de futebol” só foi regulamentada com a lei 8.650,  pelo presidente Itamar Franco. O ponto de partida foi o projeto de lei apresentado em 1986, que tramitou por sete anos na Câmara dos Deputados, até a sanção e publicação no Diário Oficial, em 22 de abril de 1993.

Atualmente, tramita no Congresso o projeto de lei 7.560, que pretende alterar e atualizar duas leis ligadas ao esporte: a quase “trintona” 8.650 e a Lei Pelé, 9.615/1998. Batizada como “Lei Caio Júnior”, a proposta iniciou tramitação em 14 de maio de 2014. De acordo com o site oficial da Câmara dos Deputados, está pronta para ir para Pauta na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira com informações da Câmara dos Deputados
Fotos: Instagram/reprodução

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