O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) criou a Academia Brasileira de Treinadores (ABT) para melhorar a qualidade dos técnicos na formação dos atletas visando melhores resultados no esporte olímpico. O Toque de Bola conversou com o doutor em Ciência do Esporte, chefe do departamento de esportes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Jeferson Vianna, que trabalha na ABT e hoje supervisiona e coordena os treinadores da seleção brasileira de judô para saber mais sobre os objetivos da criação, as metas e perspectivas do projeto, qual modalidade brasileira mais precisa evoluir e quais são os resultados conquistados até hoje.
“A ABT foi criada em 2012 com a intenção de poder colaborar com os treinadores brasileiros na formação de atletas. Desde o início o COB tem visto que falta em boa parte dos técnicos uma formação mais generalizada. Eles são muito especialistas em sua área, mas o atleta na sua preparação precisa de mais do que só a parte específica do treinamento, ele precisa de um entendimento melhor de como esse atleta pensa, se relaciona e reage a diversas situações. Então, com essa intenção, a Academia foi criada para fazer um curso de 850 horas. São dois anos para concluir, para esses treinadores terem aulas com professores de universidades de diversas áreas: técnicas, táticas, metodológicas, sociológica. Com isso, eles passam a ter uma carga horária, fazem provas para avaliar o nível de aprendizado e fazer estágios nacionais e internacionais, onde os melhores técnicos do país e do exterior poderão discutir e aprofundar mais em suas modalidades. Como não dá pra formar todos ao mesmo tempo, o COB determinou uma meta de formar 600 treinadores brasileiros em oito anos. Cada curso leva dois anos e foi determinado que seria uma média de três modalidades por ano a serem oferecidas. Os treinadores para participar precisam ser aprovados em um processo seletivo, que é divido em formação esportiva e auto rendimento, onde são classificados cerca de 108 treinadores por ano”, explicou Vianna.
Convite e resultados
O profissional da UFJF relembrou ainda, ao Toque de Bola, como chegou à equipe da ABT, descrevendo detalhes de sua função, à frente da coordenação do projeto de lutas: “Recebi uma carta convite, talvez pela minha formação como ex-atleta de judô, competidor e treinador de muitos atletas em diversas modalidades esportivas, além da minha participação dentro da UFJF. Então foi me feito o convite para fazer parte desse grupo de 18 professores de universidades federais que trabalham na área de esportes. Já lecionei algumas disciplinas na área de princípios científicos do treinamento, disciplinas específicas de auto-rendimento e agora estou por conta do grupo de judô. De certa forma, os treinadores brasileiros estão sobre uma supervisão minha, onde até mesmo os técnicos da seleção brasileira participam desse grupo e nós discutimos o planejamento do treinamento e desenvolvimento dos atletas visando as Olimpíadas do Rio em 2016. O que eu tenho visto é que os treinadores estão gostando muito do que tem sido feito, muitos estão conseguindo aplicar coisas diferentes no treinamento deles com os atletas. Indiretamente, temos visto um salto do desenvolvimento dos atletas, muitos entrando no top 10 em suas modalidades, conquista de medalhas, bom desempenho nos jogos mundiais universitários. A evolução nos esportes olímpicos é visível” disse o coordenador.
Sobre as modalidades escolhidas para serem lecionadas, Jeferson Vianna disse que o COB e ABT entram em um consenso para decidir: “As modalidades foram definidas em reuniões da Academia Brasileira de Treinadores junto ao COB. As primeiras turmas foram formadas no final de dezembro, onde na cerimônia de encerramento eles apresentaram os seus trabalhos de conclusão do curso nas modalidades: ginástica artística, atletismo e natação. Mais 104 treinadores estão fazendo o curso nesse momento. Para 2015 é bem provável que lance a nova turma, mas as modalidades a serem trabalhadas ainda não foram definidas”, adiantou.
Meta olímpica
Sobre as perspectivas do COB com esse projeto, Jeferson declarou que o objetivo é colocar o Brasil entre os dez melhores das Olimpíadas no Rio, elogiando o judô, a natação e ressaltando as carências do atletismo:
“O judô já possuía uma boa organização e o que vejo é a continuidade nisso e poderemos ter um excelente resultado nas Olimpíadas. A modalidade que mais evolui foi a natação, tendo em vista os resultados no último mundial de piscina curta. O taekwondo e a luta Greco romana também estão evoluindo, e eram modalidades que o Brasil não tinha uma certa tradição. Para o ano que vem há uma perspectiva de 30 medalhas e se isso se confirmar é bem provável que o país fique entre os 10 melhores no quadro geral, mas isso pode melhorar. No Panamericano desse ano em Toronto, no Canadá, o Brasil levará os principais atletas e será um bom teste para 2016. O atletismo é a modalidade que estamos na luta para melhorar. O objetivo é conseguir pelo menos duas medalhas. A meta traçada para o Rio são de seis a oito medalhas em esportes coletivos e 24 nos individuais. Abaixo de 26 seria, de certa forma, desastroso. Acima de 30 seria a expectativa extremamente positiva”, concluiu.
Texto: Guilherme Fernandes
Foto: Facebook Jeferson Vianna