“Não faz isso não, Josimar…”

  Os dois mais qualificados jogadores do Botafogo, após a saída de Mendonça, eram Alemão e Josimar, tanto que foram titulares absolutos na Copa do Mundo de 1986.

  Mas a vida no Botafogo da década de 80 não era fácil. Nossos craques moravam  um alojamento em Marechal Hermes, com um calor de mais de 40 graus, em meio a pernilongos e não tão raro a indesejáveis baratas.
   
  Mesmo assim alguns dirigentes do clube de então se sentiam incomodados com o prestígio dos dois junto ao torcedor e ao principal “dirigente “ Emil Pinheiro.

  Suspensos por cartões, Alemão e Josimar não puderam participar de um jogo importante no domingo. E ficaram em Marechal Hermes, já  que estavam sem dinheiro e aguardando o pagamento mensal que sairia naquela sexta-feira.

  O pagamento não saiu na sexta, e um determinado dirigente ordenou que mesmo sem jogar eles teriam que ir ao Maracanã domingo “se quisessem receber”. No domingo, nossos personagens saíram de Marechal Hermes com destino ao Maracanã, em uma  Brasília surrada de propriedade do Alemão.

  Sintonizaram no pré jogo da Rádio Globo, quando de repente um repórter da emissora questionou ao tal dirigente se a ausência dos dois faria muita diferença para enfrentar o adversário daquela tarde.

  O dirigente parecia furioso e começou a denegrir a imagem dos  homens que estavam na Brasília, insinuando que forçaram a suspensão para não jogar domingo, que tinham muitas regalias, e por isso ordenou que eles comparecessem ao estádio pra receber o pagamento mensal e soltou uma gargalhada, comemorando o plano infalível de castigá-los.

   Josimar então se enfureceu e jurou o dirigente. Pediu ao Alemão pra acelerar pois queria chegar mais rápido possível ao Maracanã pra espancar o “agressor verbal”.

  Com muito custo, e até porque faltavam alguns minutos pra chegar ao destino final, Alemão convenceu o amigo a declinar da ideia, já que sanções mais pesadas viriam e que poderiam até serem expulsos do clube.

  Pela amizade e pelo respeito que tinha por Alemão, Josimar, mesmo contrariado, aceitou o conselho. Ao chegarem no vestiário do “maior do mundo”, Alemão enfurecido cobriu de porradas o tal dirigente e se outros jogadores não o segurassem algo mais grave poderia ter acontecido.

  Mais calmo, Alemão sentenciou ao assustado amigo  Josimar: “Essa tarefa ninguém tirava de mim!”

Texto: Márcio Itaboray (exclusivo para o Toque de Bola)

Arte: Toque de Bola

Edição e título: Ivan Elias – Toque de Bola

Este post tem 5 comentários

  1. Ronaldo

    Muito bom…perfeita a estratégia do Alemão

  2. César Romero

    Grande Marcinho, muito legal esse ‘causo’

  3. Gutti

    Muito boa essa estória, Marcinho! Só mudou o alojamento. Se com Alemão e Josimar não era fácil, imagina com Luiz Otávio e Kevin.. De resto o nosso Fogão tá precisando é de um gênio da lâmpada!

  4. Cláudio Rogel

    “Bom causo”, futebol tem muitos desses, contei alguns para o Renatinho Dantas colocar no livro dele.
    Sobre o alemão, quando morei na concentração da base do Fla na Praça Seca em Jacarepaguá, lembro do Alemão visitar um rapaz (Rosemil) que era colega dele de Lavras (MG). Ele aparecia por lá vestido com roupas simples e sempre elogiava nossas condições de moradia, enquanto espinafrava as condições que eles viviam em Marechal Hermes.

  5. Maria Aparecida Itaboray de Carvalho

    Muito bom conhecer o que acontece nos bastidores do Botafogo.
    Aguardando ansiosamente o lançamento do livro.

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