Muito prazer, nós somos os AAAs!

Juiz de Fora (MG), 11 de fevereiro de 2011

O brasileiro costuma se gabar de saber tudo sobre futebol. Mas, será que os torcedores sabem quem são os AAAs? Uma pista: podem ser encontrados nos campeonatos carioca, paulista e pernambucano. Outra dica: ficam na linha de fundo, ao lado do gol. Já descobriu? Não?! Então, o Toque de Bola vai ajudar.

AAAs são os Árbitros Assistentes Adicionais – auxiliares que ficam próximos ao gol para ajudar o árbitro principal em relação a lances que ele não tenha visto – uma inovação do futebol brasileiro que a partir deste ano conta com o aval da Fifa. Agora que você sabe quem são os homens do apito que estão atrás do gol, fique sabendo quais são as atribuições dos novos integrantes do agora sexteto de arbitragem.

A novidade entrou em campo em 2008, na Federação Carioca de Futebol. Inicialmente, os AAAs se comunicavam com os árbitros principais exclusivamente através de gestos. Por exemplo, se acontecesse alguma jogada duvidosa na área, o AAA sinalizava para o árbitro da partida informando o acontecido.

A iniciativa foi realizada por três anos seguidos e os resultados começaram a aparecer. Tanto que, em 2011, a Fifa está estudando a iniciativa. Com isso, os AAAs ganharam rádios-transmissores e agora toda a equipe já se comunica através dos equipamentos. Atualmente, além do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco também testam a mudança.

Segundo o árbitro juiz-forano Maurício Machado, que desde 2005 atua na Federação Carioca, “a essência do jogo não mudou”, já que as partidas continuam tendo o árbitro central – que deve manter a mesma postura no decorrer do jogo -, dois assistentes (bandeirinhas), o quarto árbitro e, agora, mais dois AAAs.

Ouça a explicação do árbitro Maurício Machado sobre o que faz cada integrante do sexteto de arbitragem (Áudio 1).

Outro árbitro juiz-forano que está testando a mudança é Leonardo Moreira. Assim como Maurício, ele faz parte do quadro de árbitros da Federação Carioca de Futebol desde 2005. Segundo Moreira, a mudança é positiva é poderia evitar polêmicas em outros campeonatos. “O árbitro que fica atrás do gol ele não pode apitar o jogo. (…) Ele está ali como um informante, caso ele veja alguma coisa que o árbitro central não viu. Por exemplo, o lance do gol do jogo entre Caldense e América. A bola entrou ou não entrou? Naquele lance, o árbitro que estaria ali, o AAA, ele ajudaria muito, por que estaria pertinho, na linha de meta e veria se a bola entrou. Mas, no Mineiro não tem o AAA.”

Comunicação

A utilização do rádio-transmissor foi trabalhada na pré-temporada que os árbitros da Federação Carioca fizeram em Saquarema. Trata-se de uma novidade que, na avaliação de Machado, vai demorar um pouco até os profissionais do apito se acostumarem. “Neste início, está tendo um deley (nota da redação: Maurício explica que aqui não é atraso técnico da chegada do áudio, mas demora de adaptação mesmo dos profissionais, agora com o uso do mircofone) até o pessoal se acostumar com o rádio. Antigamente, o árbitro ficava ao lado do gol. Se a bola batesse no travessão, na linha e saísse, era ele quem informava se tinha sido gol ou não. Hoje, ele vai fazer isso através do rádio e da sinalização que foi combinada entre os árbitros. Se a bola passar, o AAA avisa pelo rádio. O árbitro pode ir com ele ou, caso ele tenha visto que não foi, ele continua sendo soberano, continua mandando no jogo. A informação do árbitro adicional vem para acrescentar. É lógico que ele estando mais próximo da jogada, na linha do gol, a informação dele tem que ser levada em consideração. Por exemplo, o lance do Henry (então pela seleção francesa) nas Eliminatórias da Copa do Mundo, o árbitro adicional ali mataria a jogada na hora”, explicou Machado.

Outro ponto positivo para a adoção dos AAAs: os dois árbitros garantem que com a presença dos assistentes adicionais nas proximidades da área, diminuiu o agarra-agarra nos cruzamentos.

Ouça a explicação do árbitro Leonardo Moreira sobre a diminuição do agarra-agarra dentro da área. (Áudio 2)

A opinião é endossada por Machado, que informa que o radio-transmissor também ajuda nessa hora. “Agora, com o rádio, quando eu estou no lance, olhando para dentro da área, e alguém vai bater um escanteio ou falta, e eu estou falando: ‘quatro, solta’ ou, quando conhecemos o nome do jogador, ‘fulano, solta ele’, o árbitro já está sabendo o que está acontecendo, quem está segurando. Então, ele já pode paralisar, vai direto ao jogador, e informa que se o assistente falar ele vai marcar”.

Com a utilização do equipamento, a partida ganha também em sua dinâmica, já que, em caso de dúvida, não há necessidade de o árbitro central parar o jogo para consultar os auxiliares ou os AAAs. Por outro lado, é garantida total privacidade aos profissionais, uma vez que apenas a equipe que está trabalhando tem acesso ao áudio, que não fica gravado.

Perguntado se a adoção dos AAAs foi uma resposta à pressão que existia por parte da imprensa e dos torcedores para utilização de imagem durante as partidas em caso de dúvidas, Maurício Machado disse acreditar que o projeto foi mais fruto de renovação de mentalidade na Federação Carioca.

“Não sei se foi uma resposta à pressão para a utilização das imagens. Acho mais que foi um projeto que já vinha na cabeça do presidente da nossa comissão de arbitragem, que desde 2007, quando assumiu, vem fazendo um excelente trabalho, querendo ou não, vem renovando o quadro, vem inovando, como foi com o tempo técnico, que hoje é super elogiado. (…) Há três anos atrás o Rio já utilizava o árbitro assistente adicional. Em 2010, veio a Copa do Mundo e tivemos problemas que no Rio não têm acontecido. Então, acho que não foi pressão. Foi mais um projeto que foi feito pelos presidentes da comissão e da Federação que quiseram investir e inovar. Acho que o custo é pequeno. E o trabalho do chip, quem garante que não pode falhar? O ser humano pode falhar também, todos nós somos passíveis de erros, mas, na minha opinião, eu confio mais no ser humano atrás do gol do que em um chip. Quem me garante que ele não vai falhar?”, finalizou Machado.

Apesar da boa intenção da medida, no domingo, 6, no clássico entre Botafogo e Fluminense, o AAA que estava atrás da meta do Tricolor não validou o gol de Renato Cajá. A bola bateu no travessão e quicou atrás da linha antes de sair, conforme mostraram as redes de televisão. Pelo visto as polêmicas vão diminuir, mas ainda é cedo para afirmar que elas não existirão.

Ainda não há previsão de quando os AAAs serão utilizados no Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores da América. Acredita-se que isso possa acontecer somente após a Fifa dar seu veredicto sobre a questão.

Escalas

Os árbitros juizforanos da divisão principal do futebol do Rio atuaram em diversas partidas da Taça Guanabara. Na última rodada, Leonardo de Castro Moreira foi escalado como AAA número 2 na partida entre América e Vasco, sábado, 12, 19h30, no Esttádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda.
Maurício Machado Coelho Júnior apitou, dia 5, Bangu x Cabofriense, em Moça Bonita. No mesmo dia, Leonardo foi AAA em Macaé x Madureira, em Macaé.
Outros jogos em que a dupla juizforana atuou: Leonardo apitou América x Americano e foi AAA em Americano x Boavista, Fluminense x Macaé e Boavista x América. Maurício foi árbitro em Volta Redonda x Boavista e AAA em Boavista x Resende, Cabofriense x Fluminense, Boavista x Vasco e Olaria x Madureira.
Neste sábado, 12, Maurício vai atuar pela Série B do Rio de Janeiiro, que começa justamente neste final de semana. Será o árbitro de CFZ do Rio x Sampaio Corrêa, 17h, no Estádio Antunes.
Texto: Thiago Stephan

Este post tem um comentário

  1. Camila Nunes

    O árbitro Maurício é excelente! Um dos melhores que ja apitaram o campeonato carioca. Além de lindo!

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