Juiz de Fora é referência também na Ginástica de Trampolim. Em uma de suas modalidades, o tumbling, nomes como o da jovem Luísa Vieira de Mello e Silva, de apenas 18 anos, já levam a Manchester Mineira ao topo de pódios em campeonatos estaduais e nacionais. Não bastasse, a atual campeã mineira e bicampeã brasileira elite no tumbling ainda compartilha seus conhecimentos com crianças no Colégio João XXIII, através de um projeto de ginástica da coordenadora e uma das professoras na carreira de Luisa, Roseane Mendes.
A atleta recebeu, em dezembro, o Mérito Esportivo Panathlon 2015, evento que premia os destaques da cidade no esporte local.
O Toque de Bola entrevistou Luisa, que cursa o segundo período de Educação Física na UFJF e, apesar de 11 vitoriosos anos na ginástica de trampolim, possui futuro incerto nas competições de 2016 em função de problemas estruturais e falta de incentivo em Juiz de Fora.
Os primeiros saltos
“Comecei a fazer natação com quatro anos, até os oito. Com sete entrei na ginástica e fui fazendo os dois. Aí acabei saindo da natação e continuei na ginástica e estou aí até hoje”, continuou: “Minha mãe dizia que às vezes estávamos em casa e eu ficava pulando na cama, dando cambalhota, ficava brincando com barras no parquinho às vezes. Até que minha vó falou para ela me colocar na ginástica”, lembrou Luisa.
“Comecei na Recrear, que hoje não existe mais. Era com a professora Roseane Mendes, que hoje dá aula no Colégio João XXIII e tem um projeto lá de ginástica, inclusive. Depois a Recrear continuou no Bom Pastor, mas hoje com o nome do clube só. Aí passei a competir pelo Stella Matutina, só que não treinávamos lá, apenas usávamos o nome deles para competir porque precisávamos de nos filiar a alguma instituição. Até setembro estava treinando no Colégio Academia e competindo pelo Bom Pastor, porque o Wanderson, meu professor de tumbling, dá aula na Academia”.
Além de Wanderson e Roseane, o atleta também campeão brasileiro, Rafael Henrique, deu aulas para Luísa em sua trajetória, sempre com treinos em Juiz de Fora.
Os títulos
Já tendo disputado um Campeonato Mundial na Bulgária, em 2013, Luísa foi vice-campeã do Estadual e medalha de ouro júnior (13 a 17 anos) e elite (a partir de 17 anos) no Brasileiro de tumbling de 2014. Nesta temporada, a performance melhorou e vieram os títulos do Mineiro e novamente da elite no nacional, disputado em Itabira (MG).
“Nesse ano houve uma caída no número de atletas no solo, porque quando vão chegando as Olimpíadas, o pessoal foca no Trampolim, por ser olímpico. Mas no campeonato eu melhorei bastante. Tive ajuda de técnicos em Ouro Preto, onde treinei na greve e minha atuação foi muito boa”, avaliou Luísa, lembrando que o tumbling e o duplo-mini não são modalidades olímpicas.
Palavra do professor
Treinador de Luisa há dois anos e professor de tumbling, Wanderson Zambelli não economizou elogios à campeã brasileira: “A Luísa é uma atleta muito jovem e pode vir a evoluir muito ainda no tumbling. Possui um corpo compacto e muita força física”, avaliou.
Os obstáculos
Se engana quem pensa que Luisa teve vida fácil na ginástica de trampolim: “Essas conquistas dão um empurrãozinho para nós daqui de Juiz de Fora, que conseguimos treinar e conquistar pódio mesmo com as dificuldades. Dá mais vontade de treinar”.
As dificuldades, citadas por Luisa, foram explicadas: “Quem está de fora às vezes não sabe como é o meio aqui em Juiz de Fora, principalmente, com muitos bons atletas, mas às vezes param por não ter a aparelhagem adequada. São aparelhos muito caros também e, por causa disso, é uma conquista maior até para mim”.
No segundo período de Educação Física na UFJF, Luisa ilustrou a quase inexistente valorização do esporte na cidade com sua vivência na faculdade: “Lá dentro mesmo eles focam nos esportes mais conhecidos. Ainda não tive ginástica, mas pelo que me falam, não focam tão profundamente nesses outros tipos de ginástica, falam apenas superficialmente. E sobre a aparelhagem, a Universidade tem muitos aparelhos bons de ginástica de trampolim, inclusive, em que Juiz de Fora tem grande histórico de atletas, e os aparelhos hoje estão todos jogados na chuva porque falam que vão montar um novo prédio para as Olimpíadas. É um exemplo de como não dão muita importância para isso, poderiam até doar para algum lugar”.
O exemplo
“Estou em um projeto de ginástica no João XXIII, em que a Rose é a coordenadora, e venho gostando muito de conviver com as crianças e passar essa experiência de 11 anos que tenho para elas”, contou Luisa, que lamenta, ainda, novos talentos, entre 7 e 13 anos, passarem por seus olhos sem a estrutura de treinamento adequada, assim como ocorreu com a atleta-estudante:
“Tem muita criança boa que, por falta de apoio, não vai para frente. Estudei no João XXIII também e muitas crianças até me conheciam de lá. Então ficou melhor ainda. As meninas me viram competindo no Mineiro também, então gostaram mais, falavam que queriam fazer o mesmo que eu. Você acaba vendo que têm muitas crianças boas e com pais que se interessam também”.
O futuro
“Pretendo participar do Estadual e Brasileiro com certeza, e vamos ver os campeonatos internacionais. Por conta das dificuldades com espaço, fica complicado, mas vamos ver”, projetou a atleta.
Com apenas 18 anos, a talentosa Luísa é vítima da falta de incentivo e apoio ao esporte na cidade. Mesmo assim, é detentora de boa formação educacional, passando pelos ensinamentos no solo, e já realizando saltos imensuráveis ao futuro da ginástica em sua cidade.
Texto: Bruno Kaehler – Toque de Bola
Fotos: Arquivo pessoal de Luísa, Wanderson Zambeli e Tintin/Panathlon
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