Ex-jogador, estudioso do futebol, torcedor e mais uma vez técnico do Tupi. Felipe Surian conhece o esporte mais popular do mundo e o Alvinegro de Santa Terezinha como poucos e, em entrevista exclusiva concedida ao Toque de Bola, analisou o atual momento da modalidade em Minas Gerais, avaliou o Carijó de 2014 e, pensando na atual temporada, se revelou um ser humano ansioso como um torcedor, mas analítico como sua profissão exige.
Auxiliar-técnico em 2012, Surian chegou a comandar o Carijó interinamente na temporada. Oficialmente como treinador, no entanto, teve seu caminho traçado a partir de 2013, já conquistando um histórico acesso do Tupi à Série C do Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, Surian trabalhou no Anápolis (GO), conhecendo, na nova função no futebol, um novo centro de trabalho. De volta ao time juizforano, Surian se vê um profissional mais maduro e pronto para levar o Tupi a novas conquistas.
Toque de Bola: O que mudou?
Felipe Surian: “Nesse período como auxiliar eu vivia situações diferentes, usei muito esse tempo para aprender mais, sempre estava perguntando. Em 2013, quando me convidaram para ser o treinador efetivo, comecei a colocar tudo o que tinha vivido dentro de campo como atleta e o que aprendi como auxiliar. Fizemos boas campanhas em 2013 terminando com o acesso à Serie C e ano passado estive fora. Conheci outros atletas, gestões, campeonatos e isso nos traz uma bagagem ainda maior para este ano, então com certeza a experiência que adquirimos ao longo dos anos vai ser colocada em campo durante 2015”.
Toque de Bola: Há diferenças no futebol mineiro de 2012 para hoje ?
Felipe Surian: “O futebol está se modernizando a cada dia. Sempre há algo novo, não que seja surpreendente, mas o futebol está muito estudado e procuro fazer isso. Os clubes também têm se reformulado quanto a isso, o que é preciso, se não ficam para trás. O extra-campo hoje condiciona quase 50% daquilo que os atletas vão fazer nos jogos, então isso tem que estar muito afinado entre comissão técnica e diretoria para que não haja falhas e que os atletas correspondam dentro do esperado”.
Toque de Bola: Quais as diferenças entre o trabalho no futebol mineiro e goiano?
Felipe Surian: “Minas está um pouco na frente no sentido dos treinadores e das equipes em termos de organização dentro de campo, não fora. Vejo os treinadores daqui mais estudiosos, não apenas do interior. Você pega o Enderson Moreira, Ricardo Drubscky, Ney Franco, Marcelo Oliveira, de uma geração mineira que mostra a evolução do futebol do estado, assim como os últimos resultados que confirmam os clubes de Minas a frente dos de outros estados”.
Toque de Bola: Em 2014 vimos você nas arquibancadas, torcendo pelo acesso do Tupi à Série B. Este lado torcedor é útil em seu trabalho? De que forma?
Felipe Surian: “O lado torcedor ajuda no sentido de empenhar mais, porque se o torcedor pudesse vir ajudar o Tupi todos os dias, tenho certeza de que viriam e dariam suas contribuições e, já que eu sou torcedor, tenho que dar algo a mais. Mas tentamos deixar isso no extra-campo, tentamos melhorar o clube com a diretoria, e dentro de campo trabalhamos como um profissional, mesmo porque o coração pode atrapalhar o lado técnico e tático”.
Toque de Bola: O que faltou contra o Paysandu?
“Futebol é complicado, todos davam que Tupi e Fortaleza tinham vaga garantida na Série B. O Tupi ainda teve a infelicidade de pegar uma equipe de muita tradição. No primeiro jogo contra o Paysandu, o governador do Estado estava no campo, ou seja, todos estavam mobilizados, enquanto aqui acredito que nem o presidente da Federação veio. Não acho que faltou nada em termos táticos, mas na questão jogador por jogador claro que a gente acha que faltou um pouco de alguns tecnicamente pelo que apresentaram em confrontos anteriores. De qualquer forma, o Tupi mostrou que tem condições de ir à Série B”.
Toque de Bola: Prestes a iniciar a temporada 2015, ainda bate o nervosismo pre-jogo?
“Sempre tem. É aquele nervosismo bom, aquela preocupação de como marcar o adversário, puxar um contra-ataque, arriscar uma jogada. Sempre estamos pensando nisso e em como passar para os atletas. E não só na estreia, mas em todos os jogos, fico ansioso, durmo pouco, penso muito e tento passar o máximo de informações para que não haja falhas nos próximos jogos”.
Texto: Bruno Kaehler
Fotos: Toque de Bola