Por trás de um lançamento de 76.10m existe muita história. A reportagem do Toque de Bola conversou por telefone com o atleta juiz-forano Luiz Maurício Dias da Silva, de 20 anos.
No fim de semana, ele conquistou a medalha de ouro do Troféu Brasil Caixa de Atletismo no lançamento de dardo.
A competição foi disputada entre 10 e 13 de dezembro, no estádio do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo. De acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo, a mais importante competição de clubes da América Latina reuniu 770 atletas, de 126 clubes, representando 23 Estados e o Distrito Federal.
Luiz Maurício é líder dos rankings brasileiros da categoria para adultos, Sub-23 e Sub-20 de 2019, campeão brasileiro e sul-americano e vice-campeão do Pan-Americano Sub-20.
Começou a treinar no projeto de extensão Iniciação ao Atletismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e posteriormente migrou para a Equipe de Atletismo da instituição, que representou no campeonato nacional.
A preparação ‘maluca’
A pandemia modificou todo o planejamento para o ano. Os treinamentos foram suspensos. O calendário de competições foi retomado no último bimestre e o Troféu Brasil de Atletismo era o principal evento.
Luiz Maurício ficou dois meses sem treinar. Até que recebeu um convite para treinar no Exército, nas instalações na Urca, no Rio de Janeiro. E, então, tudo se encaixou.
“A preparação foi, na verdade, muito maluca. Fui chamado para entrar no Exército no RJ como atleta de alto rendimento. Fiz o curso e vi que tinha uma academia aberta. Aí, coincidentemente, tinha um treinador de lançamento de dardos no alojamento. Conversei com ele, falei da minha situação, que não tinha como treinar em Juiz de Fora e ele acabou me ajudando nos treinamentos aqui, com materiais e com academia”, contou.
Superar os 74 metros
Na verdade, Luiz Maurício mira alcançar e superar os 80 metros. No entanto, a evolução é aos poucos. Só que depois de passar pelo os 72 e 73 metros. No Pan-Americano sub 20 em 2019 chegou a 74.51m, a melhor marca pessoal. Mas ficou com a sensação de ter estacionado.
“Desde o ano passado, desde o Pan-Americano eu estou com essa marca. Nos treinos eu estava nos 74 metros também. Na competição antes do Troféu, eu fiz 74.07. Fui muito próximo da melhor marca pessoal. Eu estava ansioso para melhorar. E era questão de tempo. Uma hora ia sair”, explicou.
Embora esperasse superar os 74 metros, passar – e muito – desta marca logo no primeiro lançamento no Troféu Brasil foi uma surpresa que impactou no restante da prova.
“Tomei até um susto. Falei ‘uai?!’ E me perdi um pouco dentro da prova, por conta de ter acertado no primeiro lançamento da competição. Depois fui pegando o ritmo. Aí começou a ventar muito “, disse.
Nos cinco lançamentos seguintes, Luiz Maurício alcançou 72.40m, 73.42m, 74.03m, 74.19m e 73.67m. Ninguém o superou. O primeiro lançamento garantiu a medalha de ouro. Em segundo lugar, ficou o paranaense Maurício de Brito Filgueiras, de 26 anos, do Instituto Foz, com 72,18m e em terceiro, o amazonense Pedro Henrique Nunes Rodrigues, de 21 anos, da Endurance Sports, com 70,52m.
Entre as ‘feras’ do Troféu Brasil
Este foi o terceiro ano que Luiz Maurício competiu no Troféu Brasil de Atletismo. Na estreia, em 2018, foi o quarto colocado. No ano passado, foi o terceiro lugar e trouxe o bronze para Juiz de Fora. Em 2020, chegou à segunda medalha e ao degrau mais alto do pódio.
“Vai parecer meio louco, mas quando você entra no esporte, vai ver a maior competição de atletismo do Brasil. Eu sempre via o pessoal lançando no Troféu Brasil. Em 2014, no primeiro torneio que eu fui, tinha campeões do Troféu Brasil. Eu fiquei olhando e pensando, ‘esse deve ser fera’. Então, ganhando essa competição, é um sonho que eu acabei realizando. Eu consegui o Troféu Brasil”, comentou.
Festa no Cria UFJF
Segundo a Universidade, o Projeto Iniciação ao Atletismo apresenta os primeiros passos do atletismo, as provas de corridas, saltos e lançamentos para adolescentes a partir de 12 anos. Já o Projeto Equipe de Atletismo UFJF oferece treinamento a jovens a partir de 13 anos para participar de competições oficiais.
Os atletas são acompanhados por professores, alunos da graduação e do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid). Para o coordenador do Cria UFJF Jorge Perrout, Luiz Maurício representa a convergência de fatores muito importantes.
“Ele é um exemplo que se junta uma pessoa talentosa e dedicada, com família estruturada e que apoia, e recebe um bom treinamento e com toda a infraestrutura de técnica, de material, de conhecimento de que precisa vinda da universidade, ele conseguiu chegar nesse nível e vai longe”.
O Troféu Brasil e todas as conquistas de Luiz Maurício representam a chancela do projeto, como analisou Jorge Perrout.
“É um projeto de extensão que funciona há muitos anos. Para nós, é uma satisfação ver o sucesso dele. E também ver o nosso sucesso, como o nosso projeto funcionou bem. Começou com uma criança do entorno da Universidade, que trabalhou durante muitos anos e hoje ele é o melhor do país. É um atestado de que estamos trabalhando bem porque, para ter sucesso e chegar aonde ele chegou, tem que ter muito talento. Não é qualquer criança que vai treinar e ser campeão brasileiro”, ressaltou.
Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira com informações da UFJF e da CBAt.
Fotos: Carol Coelho/CBAt; Wagner Carmo/CBAt; reprodução Canal Atletismo/TVN Sports
Arte: Toque de Bola a partir de fotos Carol Coelho/CBAt, Wagner Carmo/CBAt e reprodução Canal Atletismo/TVN Sports