País mais pobre das Américas, o Haiti é marcado até hoje pela ocorrência de terremotos, violência e pobreza. Por meio do incentivo à prática do futebol de meninos e meninas, o juiz-forano Rafael Novaes vem há dois anos e meio comandando, na Academia de Futebol Pérolas Negras, um projeto de educação e treinamentos com crianças, pela Vivo Rio, já tendo conquistado o segundo lugar na Copa Noruega, torneio composto por 208 equipes do mundo inteiro.
“Não visamos muito o título, sempre foi um trabalho de formação, mas quando você trabalha, as conquistas vêm. Na Noruega foi uma coisa fenomenal. A imprensa não conhecia o Haiti ou só sabia pelas tragédias e ficou conhecendo pelo futebol também. Esse feito foi muito grande. Mês passado ainda fomos campeões nacionais Sub 15. Não é nosso objetivo ser campeão no País, porque sabemos que estamos à frente pelo trabalho e estrutura que oferecemos. Fomos campeões invictos, estamos bem superiores em relação ao nível nacional. Mas quando a gente sai, nosso objetivo é sempre levar o nome do Haiti e mostrar para todos que não é só pobreza, terremotos, dificuldades. Também tem o lado do futebol e eles são apaixonados e sabem jogar”, contou Rafael.
A Seleção do Haiti Sub 17 passou por grandes clubes na competição. O juiz-forano ressaltou ao Toque de Bola a vitória sobre o América do México, um dos maiores clubes do país e das Américas. “Nós ficamos felizes pela oportunidade de enfrentar o América do México e conseguimos tirá-los do campeonato. Essa vitória foi uma coisa muito satisfatória”, relembrou.
Preparação em JF visa amistoso contra seleção
O próximo passo do treinador, que conta no staff técnico com o também juiz-forano Luiz Carlos Laudiosa, preparador de goleiros, é uma partida amistosa, no dia 8 de fevereiro, contra a Seleção da Taça das Favelas, maior campeonato entre favelas do Brasil, organizada pela CUFA (Central Única das Favelas). Visando esta partida, a equipe de Rafael Novaes veio à Juiz de Fora com um amistoso marcado para sábado, 18, contra o Sport, time presente na história do treinador, que no início de sua carreira comandou a equipe júnior do tradicional clube alviverde. Os haitianos venceram a partida, placar de 1 a 0, com gol no início da segunda etapa de Millort.
“Dos cinco integrantes do staff técnico, quatro já passaram pelo Sport, fomos criados aqui, jogamos e depois tivemos a oportunidade de trabalhar e foi aqui que tudo começou. Então quando pintou a oportunidade da gente jogar contra a Seleção da Taça das Favelas, dia 8 de fevereiro, falei para passarmos em Juiz de Fora e fazermos a pré-temporada, já que conhecemos o futebol aqui”, comentou a escolha.
Para o zagueiro haitiano Ogonal, a experiência tem sido gratificante. “Estou gostando muito do Brasil e aprendendo bastante com os brasileiros”, afirmou, satisfeito.
Evolução do trabalho desenvolvido no Haiti
O projeto conta atualmente com uma média de 70 meninos e meninas, que ficam em sistema de internato de segunda a sábado e têm, fornecido pela Academia, profissionais qualificados, escola, quatro campos de futebol, academia, piscina, uma estrutura invejável para clubes no Brasil, inclusive.
Há dois anos e meio no projeto do Viva Rio, o técnico juiz-forano que contribui na formação de jovens atletas para o mercado do futebol mundial também assume o papel de pai, quando necessário. Junto ao staff e integrantes do projeto no Haiti, Rafael prioriza ainda o conhecimento do passado de todas as crianças que chegam à Academia e recebem seus ensinamentos.
“Lá nós trabalhamos com futebol, mas também somos psicólogos, um pai, uma mãe que muitos meninos não têm. Dos 70 meninos e meninas, nós conhecemos 100 por cento da história de cada um. Nós que estamos trabalhando ali precisamos saber de onde vieram, o que passam, se são locais de muito risco. Muitos meninos que nem em casa vão, porque ficar em um lugar muito perigoso, tem tiroteio, então ficam direto lá”, disse.
Objetivo e gratificação
Mesmo com os resultados já obtidos, Rafael garantiu não estar satisfeito por completo. O técnico ainda possui uma meta com o trabalho desenvolvido em um período maior de tempo. “O trabalho nosso dentro do Haiti é capacitar atletas para futuramente serem a base da seleção principal. O sonho nosso é ter daqui a quatro, cinco anos uma base da seleção que já passou pela Academia”, projetou.
A participação de Rafael no projeto, segundo o técnico, é recompensador de muitas formas. “Gratificante é você ter um retorno não só profissional, mas você crescer como pessoa. Todas as dificuldades que a gente vê e passa lá, crescemos como seres humanos. E profissionalmente, toda oportunidade que vem aparecendo é muito satisfatória. Enquanto houver essas possibilidades e o projeto ir crescendo, a gente tem motivação para continuar trabalhando lá”, finalizou Rafael.
Texto de Bruno Kaehler
Fotos: Toque de Bola
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