Jeferson Vianna: ´Meta do COB para Olimpíadas é o Brasil entre as 10 potências´

A Pós-Graduação da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid) da Universidade  Federal de Juiz de Fora (UFJF), que tem inscrições abertas até o dia 22, foi um dos assuntos abordados pelo Toque de Bola, em entrevista exclusiva  com o Professor Jeferson Vianna, que faz  parte da Academia Brasileira de Treinadores, criada pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

Veja, abaixo, a íntegra da entrevista que fala sobre o curso, o perfil dos profissionais de Educação Física, o trabalho no COB e outros assuntos importantes para o esporte juiz-forano e nacional.

1) Qual a expectativa e/ou quais as novidades sobre o curso de Pós Graduação em Educação Física da UFJF que está abrindo inscrições?

R.: É nossa sexta turma, já formamos aproximadamente 100 alunos. Devido ao ano da Copa do Mundo, teremos algumas disciplinas com ênfase no futebol, inclusive fazem parte do grupo de professores alguns doutores com larga experiência na área (professor Dr. Antônio Carlos Gomes – Atlético Paranaense e Corinthians, Dr. Israel Teoldo – Coordenador do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Futebol – UFV, professor Marcelo Matta da UFJF). Além disso, os alunos terão aulas desde a detecção e seleção de talentos esportivos, até o planejamento do treino no alto rendimento, passando por avaliação e prescrição do treinamento para atletas recreacionais. Também fazem parte complementar do curso disciplinas de biomecânica aplicada, nutrição esportiva, psicologia do esporte e gestão esportiva.

O forte da Pós Graduação, sem dúvida, é o corpo docente, constituído por doutores e pós-doutores de várias universidades brasileiras e expertises nas áreas do esporte.

2) A implantação do Complexo Esportivo da UFJF tem atraído um número maior de estudantes para graduação e Pós-Graduação em Educação Física?

R.: Em números absolutos, não. O que dita a procura é o mercado de trabalho. Infelizmente, em Juiz de Fora e região os clubes oferecem pouca demanda em escolinhas de esportes. O foco maior está no fitness (academias, assessorias esportivas, personal trainer) e nas escolas. A implantação do mestrado e futuramente do doutorado em Educação Física é um atrativo para os Cursos de Pós-Graduação Lato-Sensu, que acaba servindo de preparação no campo da pesquisa.

3) Como você avalia a formação do profissional de Educação Física hoje de uma forma geral, em Juiz de Fora e no país?

R.: Temos hoje uma formação generalista na graduação, com um foco maior na área de saúde (prevenção e tratamento), principalmente na região sudeste. No norte e nordeste, o foco é na licenciatura pela maior demanda de mercado nas escolas. Os currículos antigos visavam mais a formação no esporte. Existe uma discussão até em ter cursos com caráter mais específico na área esportiva, mas estes seriam dissociados do curso de Educação Física, talvez como técnicos. Os cursos de Pós Graduação procuram atender essa deficiência na formação dos alunos. Por outro lado, o aluno sai com um bom embasamento no atendimento da população em geral, tanto no campo da avaliação, como também da prescrição de exercícios físicos, atendendo também a população especial (idosos, cardiopatas, obesos).

4) Detalhe um pouco mais sua atuação desde que foi convocado pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Daquela projeção inicial da entidade, que você revelou na época, de somar forças de profissionais estudiosos e aplicá-las ao nosso esporte, acha que o objetivo tem sido alcançado?

R.: A criação da Academia Brasileira de Treinadores (ABT) tem como objetivo colaborar com o COB em tornar e manter o Brasil uma potência olímpica. Neste ano, terminam as aulas e compromissos com a primeira turma (atletismo, natação, ginástica artística). Acredito que os treinadores tiveram excelentes oportunidades de atualizarem seus conhecimentos e poderem de imediato colocá-los em prática. Agora em janeiro iniciam as aulas com a segunda turma, composta por treinadores aprovados das modalidades de lutas (judô, lutas associadas e taekwondo). No processo seletivo, são 108 novos alunos que terão que participar de um núcleo de fundamento (261 horas), um núcleo de aprofundamento (350 horas) e um núcleo de especialização (288 horas), além dos estágios nacional e internacional. Terei a satisfação de poder passar um pouco de conhecimento e discutí-los para alunos do gabarito da Rosicleia Campos (técnica da seleção brasileira de judô feminina) e de Luiz Shinohara (técnico da equipe brasileira de judô masculino), entre tantas outras feras.  Acredito que o objetivo será alcançado em médio prazo. A ABT tem como meta formar cerca de 600 técnicos brasileiros e isso dará um upgrade na atuação dos técnicos junto aos seus atletas.

5) De que maneira este trabalho nos bastidores do COB pode gerar frutos já nas Olimpíadas do Rio/Brasil?

R.: Para as Olimpíadas no Rio de Janeiro, existe uma meta de colocar o Brasil entre as dez potências esportivas do mundo. Para isso, pelos cálculos atuais, é necessário obter entre 27 a 28 medalhas. 196 atletas estão sendo monitorados, com boas chances. Estão classificados nas principais competições do mundo. O objetivo é fazer neste ano o grupo do top 30 passar para top 20, o top 20 aproximar do top 10, ou seja, quanto mais atletas tivermos próximo do top 10 mundial no ano de 2016, melhores serão nossas chances olímpicas.

6) Quais modalidades o COB avalia como mais estruturadas, e por que?

R.: O COB vê os esportes coletivos muito bem. Temos seis esportes em que estamos entre os seis melhores do mundo. Existe uma preocupação com o basquete. Estuda-se a melhor forma da seleção evoluir seu rendimento. São 18 modalidades com maiores chances de medalhas, que foram divididas em quatro grupos – vitais, potenciais, contribuintes e legado. As vitais são referentes as maiores chances de medalhas e a número um esperada é o judô, com possibilidades de seis medalhas. Tudo está sendo muito bem monitorado, os investimentos estão sendo feitos de acordo com as possibilidades.

7) Por ser também formador de valores e treinador de atletas, qual seria, na sua opinião, o melhor caminho para o esporte brasileiro fora futebol? Muitos apontam como fundamental a descentralização e a renovação no comando de federações e confederações. Você também acha isso prioritário ou pensa um piuco diferente?

R.: Particularmente, fiquei bastante impressionado com o modelo de gestão adotado no COB, desde a divisão de funções a aquisição de profissionais. Hoje, o time é formado por vários ex-atletas que estão tendo a oportunidade de se especializarem no exterior, normalmente em gestão esportiva. Acredito que as confederações e federações deveriam adotar um modelo mais profissional, com uma equipe multidisciplinar, em que a função do presidente seria de consultor e não de gestor. A questão de descentralizar pode trazer mais problemas que soluções, não vejo com bons olhos. Acredito em uma equipe profissional qualificada, temos que acabar com os vícios do poder, pessoas que fazem do cargo trampolim político ou interesses pessoais e comerciais. Infelizmente, esse “modelo” predomina ainda no Brasil. Atletas, técnicos, dirigentes esportivos e a imprensa deveriam discutir o melhor modelo de gestão para cada caso.

8) O judô tem sido um exporte de exceção, com bons resultados? Por quê? E o handebol, a que atribuir o sucesso agora da equipe brasileira feminina campeã mundial?

R.: O judô tem um grande número de praticantes no Brasil, o que já ajuda na seleção natural, mas nos últimos anos, o modelo adotado de participação de treinamentos e competições no exterior, fazendo intercâmbio com as melhores escolas do mundo ajudou muito. Esse foi o mesmo caminho traçado pelo handebol, além da contratação do técnico dinamarquês Morten Soubak. Onze atletas jogam no exterior, há um convênio com um time da Áustria, onde seis delas jogam nesta equipe. Estão atuando sempre com as melhores do mundo. O intercâmbio entre atletas e treinadores é essencial, temos muito ainda que aprender em alguns esportes, como podemos ensinar muitas coisas em outros. A nossa vantagem é nosso biótipo, nossos atletas bem treinados poderão sempre atingir alto rendimento na maioria dos esportes, não é para qualquer país.  Acredito fielmente que teremos uma excelente participação nas Olimpíadas.

  Clique, sobre o anexo, para conferir as informações principais sobre a Pós-Graduação da Faefid na UFJF:

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