Quis o destino que o quase garoto Jarbas Duque, começando a atuar como preparador físico no futebol, fosse convidado pelo ex-craque e então treinador Jair Bala, para atuar na Comissão Técnica do futebol profissional do Tupi na década de 90.
O resultado foi expressivo. Nos bastidores, um “paizão” que distribuía carinho e puxões de orelha na mesma proporção. No campo, a memória da incrível campanha do Tupi na Série C com 64 equipes do Campeonato Brasileiro de 1997. Com direito a uma sonora goleada por 8 a 1 sobre o Avaí e a uma classificação para o quadrangular conquistada com um gol no último minuto sobre o CSA em Maceió.
Também preparador físico na época, Luiz Cláudio também recordou, a pedido do Toque de Bola, que Jair apostou na prata da casa e passou toda sua experiência ao grupo, criando um ambiente bastante harmonioso no dia a dia do trabalho no Tupi.
Jarbas Duque
Confira os depoimento exclusivo de Jarbas Duque ao Toque de Bola sobre a convivência com Jair Bala e os feitos de 1997 no Tupi.
“Falar do Jair Bala é fácil, sempre uma honra. Até porque após 25 anos que nós trabalhamos juntos – tive a honra de trabalhar como preparador físico na Comissão Técnica com ele no Tupi em 1996 e 97 – até hoje temos sempre uma história dele para contar. Com meus amigos, meus colegas de trabalho… Jair está sempre no meu dia a dia de alguma forma.
No meu início de carreira como preparador físico – de 22 a 23 anos, ele foi muito importante. Me levou para trabalhar definitivamente no futebol profissional – eu estava no sub-20 do Tupi – e três, quatro meses depois que ele assumiu ele me levou. E foi muito importante trabalhar com o Jair Bala, para nós que já conhecíamos bem o futebol, o nome Jair Bala era muito conhecido no futebol mineiro como técnico, além da história dele como jogador de futebol desde as décadas de 60 e 70, um dos maiores jogadores do País.
Ele sempre foi aquele paizão mesmo. Não só de passar a mão na cabeça mas de dar bronca. Eu muito novo, ele me orientou muito, puxou bastante a minha orelha, e pude aprender muito com ele, principalmente como pessoa. Era formidável, sempre tinha palavras boas para passar a cada um de nós. Era bom ouvir as resenhas, as histórias dele, sempre foi um contador de histórias. Todos com que ele conviveu no futebol, e depois na TV, estão com sentimento de luto mas também de alegria de termos tido a honra de poder ter convivido com Jair Bala.
Entre os momentos marcantes dele no Tupi, acredito que a campanha na Série C (do Campeonato Brasileiro) de 1997 tenha sido a que mais marcou. Foi uma campanha excelente, ele conseguiu montar uma equipe de alto nível, com jogadores formados na base do Tupi e apenas alguns jogadores do interior de Minas que o Jair já conhecia. Foi uma campanha sensacional, em que conseguimos uma vitória inesquecível contra o Avaí por 8 a 1 em Juiz de Fora, depois conseguimos um empate no último minuto contra o CSA em Maceió, que nos levou ao quadrangular final, onde fizemos uma boa campanha também, em que infelizmente não conseguimos a classificação para a Série B devido a duas derrotas inesperadas, para a Francana e para o Sampaio Corrêa, em Juiz de Fora. De qualquer forma, foi uma campanha que ficou marcada na história do futebol de Juiz de Fora e do Tupi. E com certeza sempre vamos lembrar que o comandante foi o Jair Bala”.
Luiz Cláudio
O Toque de Bola também conversou com o preparador físico Luiz Claudio Aguiar Rodrigues, que integrou a Comissão Técnica de 1996/97. Formado em Educação Física na UFJF, e hoje, aos 52 anos morando em Vitória (ES), Luiz Cláudio revelou:
“A convivência com o Jair foi maravilhosa. Era um cara alegre, descontraído, brincalhão e desconfiado da própria sombra (rs). Não podíamos conversar longe dele que logo nos perguntava o que estávamos falando. Quando chegou, demonstrou que gostaria de continuar com a mesma comissão técnica. Acho que ele trouxe somente o Manga, treinador de goleiros.
Eu havia assumido a preparação física dos profissionais havia pouco tempo e ele botou toda confiança em mim. O Tupi formou uma equipe boa, com experiência e juventude. O Jair era muito amigo. Com o passar do tempo, o Jair tornou essa equipe numa família. Passou toda a sua experiência e confiança ao elenco”.
Luiz revela que a comissão técnica era formada por ele, Jarbas Duque (preparador físico), Manga (treinador de goleiros), Augusto Clemente (supervisor) e Fia (auxiliar técnico).
O profissional conta que depois que saiu do Tupi, em 98 veio o Amaral e, pouco tempo depois, “fomos para o futebol peruano, onde fiquei por 4 anos. Voltei ao Brasil e aí trabalhei no Imperatriz (Maranhão), em Maringá (Paraná) e Espírito Santo, onde estou até hoje”.
Números
De acordo com o pesquisador da história do Tupi, Léo Lima, os números de Jair Félix da Silva, o famoso Jair Bala, em sua passagem pelo Galo Carijó, em 1996 e 1997, foram os seguintes: “53 partidas no seu comando – 24 vitórias, 14 empates, 15 derrotas, 70 gols a favor e 55 gols contra.”
Léo acrescenta: “Bateu na trave em duas emocionantes tentativas de acesso em 1997 (Mineiro – Módulo II e Brasileiro – Série C)…ficou no quase!!! Valeu Jair…nosso Eterno Carijó!!!”
Leia também
Morre Jair Bala, ídolo do América Mineiro e ex-treinador do Tupi
Texto: Ivan Elias – Toque de Bola
Fotos: Arquivos Pessoais de Jarbas Duque e Luiz Cláudio