Ninguém deve passar por esta vida sem estar no Maracanã por pelo menos um instante.
Reescrevendo: todos precisam estar nesse templo do futebol por pelo menos 90 minutos que duram uma partida.
Se já se tornou jargão a frase “não é só futebol”, claro que será homologada a expressão “não é só um estádio”.
Quando se vai ao Maracanã tem que ligar para o primeiro nome da agenda do celular e anunciar: “Já tô no Maraca, hein?” Temos que contar a alguém a façanha, mesmo que seja a milésima vez e não a primeira.
Ao se deparar com a estátua do Bellini do lado de fora, é questão de honra fazer uma reverência.
Se sobe a rampa rumo aos assentos, é foto ou vídeo.
Vislumbrou arquibancada? É lembrar de gols históricos.
Exemplos (imparciais!): os gols de Assis pelo Fluminense em 1983 (último minuto) e 84 (de cabeça) foram em qual lado mesmo? E o de barriga? Ah, este foi no outro gol.
Antes de estar no Maracanã, meu pai, o rádio grande, o radinho de pilha e o canal 100 contavam o estádio para mim.
Vitórias e títulos alcançados lá, antes de eu “estar” fisicamente na arquibancada ou atrás do gol, eram episódios da infância e adolescência. Uma série imperdível.
(Talvez por isso quando alguém sugere séries da Netflix eu pense baixinho: duvido que as mais decantadas Casas de Papel façam rir ou chorar como esta Série – pouco documentada, que pena – “Maracanã da minha infância e adolescência”).
Estar na arquibancada e/ou atrás do gol (situação que a função de repórter da Super B-3/Rádio Solar proporcionou dezenas de tardes e noites) é como dar sequência ao sonho da adolescência.
É difícil – ainda hoje – crer que é possível estar “dividindo” aquele palco fantasiado e iluminado.
Nos setenta anos de Maracanã, seja torcedor ou em coberturas de jogos, tenho consciência absoluta que fui um privilegiado.
Se amanhã tiver jogo marcado por lá (amanhã no sentido figurado, não o amanhã real quando querem desrespeitar o ontem e o hoje e fazer futebol como uma Ilha da Fantasia em meio ao caos da pandemia), vou seguir os mesmos passos exatamente como das outras dezenas de vezes.
Vou perguntar ao “seu” Bellini (jogador que virou estátua) se posso entrar, vou anunciar “Já tô no Maraca” para o primeiro nome da agenda do celular e vou perguntar em que lado foram os gols decisivos do Assis.
Maracanã é relembrar o meu pai contar que ia à estação de trem só para esperar os jornais documentando a história do jogo, é reouvir o rádio de pilha com Jorge Curi no primeiro tempo e Waldir Amaral no segundo, é reassistir ao canal 100 e recantarolar “Que bonito é!”
Texto: Ivan Elias -Toque de Bola
O “já tô no maraca” é sensacional. Parabéns
Sensacional. Só fui como torcedor, mas vi gols de Assis, Washington, Flávio, etc. Do Flusao, claro, mas vi outros gols importantes também de grandes ídolos adversários. E já vi Fla x Flu pendurado no corrimão de chegada e até já entrei na torcida adversária. É emocionante o Maracanã.