Instituto Cuca: em live, presidente contesta nota do JF Vôlei

Presidente do Instituto Cuca Kilvia Cristina Teixeira falou em live após vitória contra JF Vôlei
Imagem: Instagram/reprodução

Os desdobramentos do pós-jogo entre Instituto Cuca e JF Vôlei pela Superliga B 2021/2022 seguem a todo vapor. Depois da derrota por 3 sets a 1, o time mineiro divulgou nota de repúdio, informando que seis jogadores passaram mal, estavam com “situação clínica comprometida” atestada pela equipe médica do ginásio. No entanto, o pedido de adiamento da partida foi negado pelo Instituto Cuca e pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV)

No fim da noite de sábado, após a nota do JF Vôlei, a presidente do Instituto Cuca, Kilvia Cristina Teixeira, fez uma live no perfil pessoal dela nas redes sociais para se posicionar sobre o assunto.

No meio da tarde de domingo, o vídeo foi apagado. Não houve outro posicionamento do clube nas redes sociais e nem enviado à reportagem, como solicitado. Seguimos no aguardo.

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Em 37 minutos e 18 segundos, Kilvia Cristina Teixeira defendeu o trabalho e a equipe do Instituto, reclamou do comportamento do JF Vôlei ao pedir para adiar o jogo para segunda-feira, 7. Disse que três atletas cearenses jogaram doentes na derrota para o Suzano. Ressaltou que todo o atendimento médico foi oferecido ao time mineiro que, segundo ela, tinha três atletas mal. E até apontou que se fosse contra um time do Sul ou do Sudeste, o JF Vôlei não teria publicado nota de repúdio.

A nossa reportagem entrou em contato com a assessoria da CBV e, caso receba retorno, a matéria será atualizada. O Toque de Bola traz os principais argumentos apresentados pela presidente do Instituto Cuca.

“Aconteceu conosco em Suzano”

Kilvia Cristina Teixeira usou os minutos iniciais para explicar que o projeto não tem fins lucrativos, reforçar que os 20 jogadores são amadores, a comissão técnica é voluntária e não recebem para jogar. Comentou que o grupo treina das 20h às 24h, enumerou quem trabalha em outras funções durante o dia e quem está desempregado. Disse que comprou cesta básica para um deles.

Por volta dos 17 minutos, ela começou a falar da situação envolvendo o JF Vôlei. Elogiou o grupo ao comentar sobre o encontro com o time na sexta-feira.

“Todo o time treinou ontem (sexta). Treinou hoje (sábado) de manhã sem nenhum problema, todo muito bem, todo mundo feliz, todo mundo satisfeito. Eu encontrei com eles. Muito felizes, um time maravilhoso, com pessoas maravilhosas, atletas fantásticos, uma equipe fantástica”.

Suzano venceu 0 Instituto Cuca no dia 24 de fevereiro

A presidente do Instituto Cuca disse que, no dia 24, a equipe jogou contra o Suzano em São Paulo com três jogadores também se sentindo mal.

“O Juninho estava com problema de torcicolo, nós tivemos assistência do Suzano para fazer um tratamentozinho. O Cartaxo, nosso levantador, estava, estava não, está com um problema no pulso, problema até sério, mas jogou em Suzano. O Gabriel Bibi, nosso levantador, jogava e ia vomitar, aí voltava para a quadra. Dois levantadores passando mal e o meu líbero passando mal, mas jogamos, perdemos, faz parte. A gente joga, ganha ou perde”.

“Na cabeça deles, era razoável”

Ela comentou que atletas do JF Vôlei não estavam se sentindo bem quando chegaram ao jogo. “Me parece que alguns atletas, três atletas do time, não estavam se sentindo bem. Não sei exatamente o que aconteceu, uma fatalidade, sei lá, não se adequaram ao clima, comeram alguma coisa que não fez bem, eles não estavam bem. Aí o time adversário solicitou ao nosso supervisor, que é o Malba [Tahan], adiar o jogo para segunda-feira. Na cabeça deles era razoável”.

Então Kilvia Cristina Teixeira explicou que o time não tem condições financeiras para bancar adiamentos de partidas e por isso os atletas jogaram doentes em Suzano.

“Nós não temos dinheiro nem patrocínio. Nós temos um recurso extremamente limitado, que já é uma bênção de Deus da Prefeitura de Fortaleza. Nós não podíamos passar o fim de semana inteiro lá, o carnaval todo, pagando hospedagem, diária, alimentação, transporte para poder esperar para jogar num dia que os meninos estivessem se sentindo melhor. Não, eles jogaram doentes mesmo, porque não tinha outra forma de jogar. Não existia porque nós não temos essas condições favoráveis. E nós jogamos e perdemos”, afirmou.

Postagem do Instituto Cuca nas redes sociais depois do jogo contra o JF Vôlei

“Não faz parte é não ter respeito pelo time adversário” 

Na defesa pela manutenção do jogo, Kílvia Cristina Teixeira criticou o comportamento de alguém, que ela não identificou, da equipe do JF Vôlei.

“Faz parte ganhar ou perder no esporte. O que não faz parte é não ter respeito pelo time adversário. O que não faz parte é não ter espírito esportivo. Chegaram para mim e disseram que queríamos ganhar a qualquer custo. Não, eu não quero ganhar a qualquer custo. Eu só quero jogar. Eu só quero que os nossos atletas tenham oportunidade de jogar. Eles jogaram doentes contra o Suzano”.

“Os meus dodói foram jogar lá em Suzano”

Ela repetiu os pontos apresentados no início da live, de que os 20 atletas do Instituto Cuca não vivem exclusivamente do esporte e fica difícil negociar com os chefes deles.

“Aí eu disse para a pessoa que reclamou para mim: ‘gente, você vai dar emprego para os meninos quando eles forem desempregados na segunda-feira? Porque eles têm que trabalhar na segunda feira, porque eles não podem ficar assim à disposição e jogar na hora que eles quiserem, porque eles não ganham para isso. Você vai lá na Audimotos pedir para o dono liberar o Jean, nosso melhor bloqueador? Porque ele não foi para Suzano porque não foi liberado. Você vai lá na Itacolomi dizer para o chefe do nosso capitão [Evandro] que ele não pode jogar sábado, vai ter que jogar, porque alguns dos seus atletas, três, estão dodói? Os meus dodói [sic] foram jogar lá em Suzano’”.

“Por que eu teria que adiar aqui? Um time que é todo pago, que tem patrocínio”

Neste momento da live, Kílvia Cristina Teixeira narrou que o interlocutor do JF Vôlei destacou que se a situação fosse ao contrário, ou seja, jogadores do Instituto Cuca se sentindo mal em Juiz de Fora, os mineiros adiariam o jogo. E rebateu que ela é que não aceitaria o prazo por causa do orçamento restrito da equipe cearense.

Presidente do Instituto Cuca Kilvia Cristina Teixeira falou em live após vitória contra JF Vôlei
Imagem: Instagram/reprodução

“Me disseram assim: ‘se fosse em Juiz de Fora, a gente teria deixado para segunda’. Mas eu não teria deixado, teria feito como lá em Suzano. A gente teria jogado doente. Eu não tenho dinheiro para bancar outra diária, a mudança das passagens, a alimentação. Eu não tenho patrocínio. Eu não tenho gente bancando, a Prefeitura de Fortaleza faz o que pode. É órgão público, não é dinheiro privado para estar jogando a rodo, não. Os meninos não poderiam, teriam jogado doente, passando mal, sentados na quadra, só fazendo assim de manchete, mas eles teriam jogado porque eu não teria adiado o jogo. Por que eu teria que adiar aqui? Um time que é todo pago, um time que tem patrocínio”.

Então, ela pegou uma lista escrita à mão com os nomes de todas as empresas e instituições que patrocinam e ou apoiam o JF Vôlei, leu cada um dos nomes, em alguns casos citando concorrentes.

“Sesi. Supermercado BH, pena que não tem Supermercado CE. Arcellor Mittal. Plasc, plano de saúde, olha aí, Unimed, sua vez de vir, ou então quem sabe sua vez de vir nos ajudar. Suprema Faculdade. Olha a oportunidade da Estácio. Vou marcar a Estácio nesse vídeo. Governo de Minas, olha aí Camilo (Santana, do PT, governador do Ceará), tá na hora. Lei de Incentivo Federal para o vôlei, nós não temos, mas vamos ter. Estou inscrevendo esse projeto, inclusive com apoio do Carlão (campeão olímpico de 1992). Obrigada, Carlão, beijo. Rivelli Alimentos, olha aí Mercadinho São Luiz, vem pra dentro. AABB, Banco do Brasil, gente, que que é isso. Nós ‘tamos’ aqui, se quiser patrocinar, nós estamos juntos. Guaramil Energéticos. Red Bull estamos aqui, ó, vamos lá, ‘tamos’ juntos”

Ela reforçou que os patrocinadores poderiam investir nos projetos de 32 modalidades do Instituto Cuca e na equipe de vôlei para que possa ir mais longe.

“E vocês que patrocinam o Juiz de Fora, patrocinem um grupo de jovens de periferia, jovens que vivem na favela, jovens em situação de vulnerabilidade social que jogam por amor. Venham patrocinar esse time que sem qualquer condição, sem dinheiro, sem emprego, sem salário, vem treinar todos os dias de segunda a segunda. E eles já estiveram em quarto, hoje estão em quinto na Superliga B. Nunca jogaram profissionalmente, nunca ganharam um centavo para jogar voleibol. Imagina se esse povo ganha dinheiro para jogar voleibol exclusivamente, se eles têm um monte de equipe técnica, patrocinadores, alimentação correta e suplementos. Meu povo, esses meninos já estariam na Superliga A”.

“Preconceito é um negócio desgraçado”

Jogadores do Instituto Cuca comemoram vitória contra o JF Vôlei

Na reta final da live apagada, a presidente do Instituto Cuca chorou, ao falar que se emociona com o time e manteve os comentários de que respeita quem vence na bola.

“Então, ao invés de reclamar, lutem como eles lutam, façam o que eles fazem. Batalhem como eles e ganhem na quadra, porque nós respeitamos quem ganha na quadra. Nós respeitamos o Suzano e ganhamos uma surra grande, ô pisa”.

Kilvia Cristina Teixeira seguiu protestando contra a reclamação apresentada pelo JF Vôlei e disse que duvidava se os mineiros fariam nota se o adversário fosse do Sul ou Sudeste

“A gente joga, ganha ou perde. Não fizemos nenhum tipo de nota reclamando do time. Pelo contrário. Recebemos bem todos os times que vieram jogar aqui. Eu desafio um time que veio jogar aqui em Fortaleza neste equipamento do Cuca, nesta Rede Cuca, que não tenha sido extremamente bem recebido. Porque cearense é assim, nordestino é assim. E nós somos a única equipe do Nordeste na Superliga. Preconceito é um negócio desgraçado. Vai fazer isso com algum time do Sul e Sudeste. Duvido. Duvido”.

A presidente do Instituto Cuca seguiu rebatendo o que apontou como a mentira que ouviu do interlocutor do JF Vôlei e que está na nota de repúdio do clube mineiro.

“Eu não admito que mintam a respeito da gente. Nós não queremos ganhar a todo custo. Nosso custo é sangue, suor e lagrima, e muita, muita, muita, muita capacidade e disposição. E respeito pela juventude. E respeito pelo sacrifício que cada um desses atletas, não só do vôlei, mas de todas as modalidades esportivas do Ceará fazem”.

Ela convocou a torcida para o próximo jogo em casa, no dia 12, às 18h, contra o Aprov/Chapecó. “Para mostrar que nós cearenses, nordestinos e nortistas, a gente pode perder, mas a gente perde com classe e com respeito ao trabalho e o sacrifício do outro. Nós não desprezamos e não menosprezamos nosso adversário. Pelo contrário, respeitamos e admiramos cada um, cada um, ganhando ou perdendo, não interessa”.

“E aí vão dizer que é porque estava com dor de barriga”

Relatório médico sobre os jogadores do JF Vôlei em Fortaleza

Nos últimos minutos da live, a presidente disse que a equipe médica contratada pelo Instituto Cuca prestou toda assistência aos jogadores que passaram mal.

“Com uma médica, duas enfermeiras e todos os equipamentos de uma ambulância UTI móvel, caso houvesse necessidade. A Prefeitura de Fortaleza colocou os hospitais, tem aqui do lado o Gonzaguinha, a disposição, se houvesse um caso grave. Segundo a médica que estava aqui era uma possível infecção alimentar, um caranguejo ou um camarão podre ou estragado. Tipo isso, né, gente, infecção alimentar. Aí queriam que eu adiasse o jogo para segunda-feira. Não adiei. Meus atletas jogam doentes e segunda-feira eles trabalham. E é isso.”

Reforçando que gostaria de deixar registrado o respeito a todos os adversários, Kilvia Cristina Teixeira lembrou as dificuldades enfrentadas pelo povo cearense para explicar o espírito do time do Instituto Cuca, mesmo.

“É por isso que poucas coisas nos derrotam, nem uma derrota na quadra. Imagina uma vitória linda de virada. Putz grila. Ô coisa linda ganhar de virada. E aí vão dizer que é porque estava com dor de barriga. Não gente, não foi. É porque os meninos são bons, os meninos são bons”.

Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira
Fotos: Kilvia Cristina Teixeira/reprodução; Suzano Vôlei/Instagram; JF Vôlei/Divulgação; Canal Vôlei Brasil/reprodução

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