Homenagem: Moacyr Toledo x Pelé, a história de uma foto

Juiz de Fora (MG), 31 de maio de 2011

  Neste dia 31 de maio, de aniversário de 161 anos de Juiz de Fora, publicamos a primeira reportagem de uma série envolvendo Moacyr Toledo, um dos principais nomes da história do Tupi e do futebol da cidade. Se o Tupi caminha para o centenário (em 2012), Toledo, ou Toledinho, é personagem que não pode faltar.

A HISTÓRIA DE UMA FOTO

Jogo-treino da seleção brasileira contra o Tupi, em 1966: Pelé x Toledo

Uma foto pode marcar a vida de uma pessoa?

Algum jogador representaria melhor os tempos gloriosos do quase centenário Tupi Futebol Clube do que Moacyr Toledo?

Algum administrador de estádio pode entrar em campo e evitar o rebaixamento de seu clube de coração dando um bico na bola?

Alguma equipe pode deixar de entrar em um estádio de futebol para jogar, por falta de espaço?

Pois é. Para alimentar a coluna “Nossa História” deste blog, tão bem recebida pelos leitores e internautas, tivemos várias conversas com Moacyr Toledo, um dos maiores nomes da história do Tupi, clube que mantém acesa a chama do futebol profissional local.

Toledo virou Toledinho em função do pai, Carlos Toledo, fanático torcedor carijó. Moacyr, nascido em primeiro de julho de 1932, é viúvo de Adelina e pai de João Carlos, Denise e Paulo Henrique e avô do jovem craque Rafael Toledo.

Nosso primeiro encontro para estas matérias especiais foi até casual, nas cadeiras sociais do Estádio Procópio Teixeira, quando jogavam, em dezembro, do ano passado, veteranos de Sport e Botafogo, do Rio.

Depois, marcamos outra conversa para o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, antes de um treino do Tupi. Lá, ele levou farto material de recortes e fotos que contam um pouco de sua incrível trajetória como carijó.

Curiosamente, em meio a essa conversa, um adolescente, torcedor do Tupi, nos interrompeu, para perguntar alguma coisa sobre o estádio. Da sala de imprensa que fica no mesmo nível do gramado, atrás de um dos gols, dali aquele jovem torcedor saiu, sem ter ideia de que esteve, por segundos, diante de um verdadeiro patrimônio do Tupi, do futebol local e até da cidade.

Decidimos contar, em  capítulos, histórias do cidadão benemérito Moacyr Toledo, que começou como juvenil do Tupi na década de 50 – “eu jogava com a 11, na ponta, depois passei, com o técnico Geraldo Magela, para o número 8, meia pela direita” e contabiliza mais de 100 títulos pelo clube, como atleta e treinador em profissional ou divisões de base.

E o primeiro capítulo trata da história da foto em que Toledo divide o lance com Pelé, num jogo-treino entre o Tupi, então Fantasma do Mineirão, e a seleção brasileira, a caminho da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra.

 Uma foto pode marcar a vida de uma pessoa?

Em 1966, o Tupi ficou conhecido no Brasil inteiro como o Fantasma do Mineirão. É uma história que vamos contar com detalhes em outra oportunidade. Mas a fama e, logicamente, os incríveis resultados do Fantasma levaram o treinador Vicente Feola a convidar o Tupi para um teste em Caxambu, onde a seleção nacional treinava, então em busca do tricampeonato mundial, na Inglaterra, depois das glórias de 1958, na Suécia, e 62, no Chile.

Toledo conta que o Tupi saiu direito de Belo Horizonte para Caxambu. Chegando lá, o cenário era assustador. O Atlético Mineiro, sparring anterior, tinha sofrido sete gols no teste com os craques nacionais.

“Quando a delegação de Juiz de Fora chegou”, conta Toledo, “olhamos para um lado e vimos Garrincha e Pelé, do outro lado o Gerson, o nosso time nem uniformizado estava, enquanto a seleção estava toda paramentada, de macacão da CBD, com toda a pompa”. A pergunta que consumia Toledo era uma só: “O que é que nós viemos fazer aqui, vamos jogar com esses caras?!”

Como não havia mais volta, começa o jogo-treino. Em poucos minutos o quadro surreal se desenhava: o Fantasma do Mineirão jogava de igual para igual com os melhores do mundo, descontando-se, claro, o caráter de treinamento.

O que talvez contribuiu para aumentar a tensão pré-mundial da seleção foi que, além de equilibrado, o jogo ficou desempatado. João Pires marcou Tupi 1 a 0. E agora, seleção, assombrada de vez pelos fantasmas na vida real?

“Aí que a seleção só foi empatar no segundo tempo, gol de Servílio, que era reserva na época. Mas foi um sufoco para eles empatarem, nosso time estava realmente embalado pela sequência de vitórias”, relata Toledo.

Final de jogo-treino, placar de 1 a 1. Seleção de Juiz de Fora já se preparando para deixar Caxambu, e aparece o Pelé. Ele mesmo, por iniciativa própria, com a foto na mão, perguntou: “Queria falar com aquele lourinho, de sarna, que jogou no meio-campo”. Quem podia ser? Francinha? Não, era Moacyr Toledo, Chamado, o craque carijó escutou de Pelé: “Olha eles me deram essa foto depois do treino, e eu já tenho muitas, mas quem sabe pra você pode ser importante”. Tudo bem. Toledo, sem vislumbrar, no momento, o alcance daquele gesto simples do Rei do Futebol, o maior jogador de futebol de todos os tempos, ficou com a foto e agradeceu.

“Na hora eu agradeci, claro, mas não tive a dimensão do que isso iria representar mais tarde para mim. Nem gosto de falar muito sobre isso, mas sem dúvida essa foto me acompanhou, marcou a minha vida”. A foto está hoje no hall de entrada do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, local em que Toledo trabalha como administrador.

Toledo é assim. Quando ele levou para o blog os recortes de jornais e fotos antigas, deixou bem claro que estava fazendo aquilo por conhecer o nosso trabalho. “Não mostro e muito menos empresto para qualquer um, e muito menos para quem não gosto. Sou assim, todos conhecem minha personalidade”.

E percebemos situações curiosas nas conversas com Toledo. Ele não achou interessante, por exemplo, tirar uma foto ao lado das recordações. “Um outro dia a gente faz a foto”, avisou. Como se as recordações fossem intocáveis, de um tempo que, ele sabe, não voltará, em que ele e outros craques locais cansavam de receber propostas, mas não conseguiam cortar as raízes: “Como aceitar uma proposta para deixar a cidade, se no outro domingo já tinha um Tupi x Sport ou um Tupi x Tupynambás marcado? Como a gente podia deixar de jogar um clássico daquele, naquela época? E olha que tinha dinheiro vivo na mesa, em algumas oportunidades. Eu dizia para a pessoa: “Vou lá em casa, trocar de roupa e a gente viaja”. Se Toledo viajou ? “Estou trocando de roupa até hoje…”

  O time-base do Tupi nos tempos de Fantasma do Mineirão, era formado por: Waldir: Manoel, Murilo, Dário e Walter; França e Mauro; João Pires, Toledo, Vicente e Eurico. Mas essa é história para um próximo capítulo.

Texto: Ivan Elias

Este post tem 5 comentários

  1. Toque de Bola

    João Batista, tudo bem? A foto estava na imagem destacada e agora também foi inserida no post, ok? Obrigado pelo contato!

  2. João Batistas de Araújo

    Lamentável que não tenham publicado a tão famosa foto.

  3. Valtencir Ribeiro de

    Realmente tudo isso que ocorreu com o Toledinho naquela época, para nós que tivemos o privilégio de vivenciar, também nos orgulha muito. Sempre que o vejo, mesmo que de longe, me vem aquela imagem, Ele x Pelé, realmente como ele mesmo diz, ficará eternamente nas nossas lembranças. O dia mais triste que já pesei, foi quando em uma passagem pelo estádio de Sta. Terezinha, em um dia de semana de escaldante, ví o Toledo de bermuda e todo molhado de suor, cortando a grama do campo. Confesso que fiquei chocado com a sena, sei que pra ele era uma forma de está ajudando o Galo, mas acho que sua simplicidade e humioldade já havia passado do limite. Quantos que nada fizeram pelo clube se arrumaram na vida às custas do clube, e quem foi a sua maior estrela era visto como uma pessoa comum. No mínimo deveria ter uma estátua em sua homenagem, pois ninguém mais do que ele fez mais pelo Tupi. Desculpe-me a todos mas isso é uma forma de mostrar a todos que o mundo sujo do futebol nos leva à essa situação.
    , Toledo que Deus te ilumine, e todos nós lhe agradecemos por tudo que fez e ainda pensa em fazer pelo nosso clube.
    Valtencir.

  4. Renato Berg/JFora-Mg

    Toledinho é um ícone na historia do Tupy,foi um craque
    de muita técnica e raça,, onde jogava-se aquele futebol “ARTE” e com amor a camisa. Toledo só jogou no Tupy , teve oportunidade de jogar em grandes Clubes de destaque nacional, mas não quis sair do tupy, pois é um eterno carijó!!!
    O Tupi, foi convidado a fazer esse jogo treino em Caxambu contra a seleção brasileira, por que o time estava no seu auge, pois tinha vencido os 3 times da capital(Cruzeiro,Athetico e América), sob a direção do treinador Geraldo Magela, e lá realizou uma brilhante partida empatando em 1×1.
    Nos torcedores do Tupy e amantes do bom futebol,somos muito grato a voce Toledo por tudo que fêz no Tupy, e continua fazendo pelo nosso Futebol.
    Obrigado Toledo!!!

  5. Otávio Botti

    O maior jogador que o Tupi já teve! história viva de Juiz de Fora e do Tupi! Obrigado por tudo Moacir!

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