Há de ter coragem para calçar as luvas!

Manga visita o Nilton Santos em 2020

  Em 26 de abril é comemorado o dia do goleiro, uma função no futebol que é uma vidraça. Às vezes, enaltecida; em outras arrasada pela crueldade alimentada por dirigentes, jogadores, torcedores e jornalistas.

  Sim, o futebol é um esporte coletivo. No entanto, poucos parecem ter autorização para brilhar: a posição de craque está geralmente associada ao papel ofensivo. Se são 11 em campo, por que crucificar apenas um?

  Por isso, este texto é para enaltecer os corajosos e corajosas que exerceram e se destacaram nesta função. 

#Barbosa100

Vasco homenageou o centenário de nascimento do goleiro Barbosa

  Não adianta torcer pelos atuais sem se referir aos grandes arqueiros de times nacionais. Para representa-los, quero mencionar dois. O primeiro é Moacyr Barbosa.

  O Vasco da Gama homenageou o goleiro no dia 27 de março pelo centenário de nascimento e lembrou no dia 7 de abril, 21 anos de sua morte.

  Ou libertação. Porque de nada adiantaram as grandes atuações se ele ficou marcado pelo Maracanazo. Abstraíram que o futebol é coletivo e atribuíram apenas a ele a “falha” que deu o Campeonato Mundial ao Uruguai.

  A filha de criação e historiadores atuam para reverter e enaltecer o homem e o profissional acima de uma derrota em tão importante carreira. Restabelecer o respeito que ele não teve na maior parte da vida. Por isso é importante saber quem foi Barbosa e contar a outra versão desta história.   

Linha do tempo de Barbosa no Vasco 

Manga, o destemido

  Haílton Correia de Arruda. Pelo nome, você talvez não o conheça, mas pelo apelido, sim: Manga. O pernambucano que vestiu a camisa de um Botafogo que fazia adjetivo Glorioso sorrir de orgulho, que encantava e conquistava títulos.

  Ele começou no Sport e também passou por Nacional do Uruguai, Internacional, Operário, Coritiba, Grêmio e se despediu do gol no Barcelona de Quayaquil.

  Não posso dizer que pendurou as luvas porque, reza a lenda, ele não as usava para parar os adversários. Tanto que enfrentou o Cruzeiro de Nelinho com dois dedos quebrados no Campeonato Brasileiro.

  Apesar da longa carreira, não juntou recursos e passava dificuldades no Equador. Ao descobrir isso, a equipe da ESPN iniciou uma campanha para repatriar o arqueiro. Manga foi o primeiro atleta a se mudar para o Retiro dos Artistas, onde mora desde 2020 com a segunda esposa, Maria Cecília. Aos 83 anos, já foi vacinado contra a covid-19.

  E só para constar: quando comemorar o Dia do Goleiro em 2021, lembre-se de cantar parabéns para Manga, que completa 84 anos. A data foi instituída no aniversário dele, 26 de abril, por tudo que ele representa para o futebol.

SAI QUE É SUA, TAFFAREL!

 Ah, só quem viveu sabe! E não estou falando do tetra, mas do quase penta. Copa de 1998, semifinal contra a Holanda. Jogo tenso, para testar os limites de quem era ou não paciente cardíaco.

  Só devo ter gritado menos que o Galvão Bueno. Provavelmente, o narrador não prometeu ficar sem comer chocolate se o Brasil ganhasse aquela partida-tortura contra os holandeses, como eu prometi e cumpri.

  Sofrência de torcedora à parte, em um jogo onde tinha muitos craques, não me lembrava de que Ronaldo Fenômeno abriu o placar nem de que Patrick Kluivert empatou na reta final. Muito menos que o goleiro adversário era Van der Sar. 

  Minha única memória é Taffarel. Taffarel acertando os cantos das duas primeiras cobranças, mas sendo gol de Frank de Boer e Dennis Bergkamp. E ele caindo à esquerda para pegar a cobrança de Philip Cocu e parando Ronald de Boer à direita. Taffarel com os braços para o alto agradecendo à Deus. Taffarel sendo abraçado pelos outros jogadores. Taffarel nos levou à decisão contra a França

  Depois, bem, depois deu tudo errado, quebrei a promessa e comi chocolate na força do ódio. Neste tempo, eu ainda sentia em jogos da Seleção – coisa que não ocorre mais atualmente.

São Marcos

  Não sou palmeirense, mas não posso deixar de citá-lo. Além de tudo que fez em campo com a camisa alviverde e pela seleção em 2002, que não é pouco, o que mais gosto de Marcos é que ele é gente como a gente. Não tinha nem tem papas na língua quando a maré não está boa, fala com todas as letras, basta segui-lo nas redes sociais para saber disso.  

  Ele viveu ótimos causos – e quando conta são ainda mais engraçados. Ele não se deixou afetar pela própria grandeza, mal que acometeu outros boleiros, inclusive contemporâneos dele.

  Eu vi São Marcos de perto em Juiz de Fora. Flamengo e Palmeiras, Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, Campeonato Brasileiro de 2001. Time carioca precisava fugir do rebaixamento e correu para os braços da torcida juiz-forana. Venceu e se salvou.

  Ao final do jogo, ainda de cabeça quente e irritado, Marcos saiu do vestiário quando crianças com a camisa do Flamengo o pararam no saguão do estádio. Ele atendeu a todas, conversou e tirou fotos. Ninguém me contou. Eu vi. Pode parecer pouco, “é o mínimo, questão de educação”, mas garanto: nem todos fazem isso.

#ObrigadaJefferson

  Na mesma linha de São Marcos, vem meu respeito absoluto por Jefferson. De todos os citados até agora, é o que deixou os campos há menos tempo. Honrou o clube e merece total respeito do torcedor.

  Merecia muito mais que o clube foi capaz de oferecer a ele. Faz parte de ser escolhido, comandar em meio a maré boa e permanecer firme durante as turbulências. Nos piores momentos, eu sabia que ele estaria lá – evitando que fosse ainda mais traumático. Fico feliz em ver como ele está prosperando fora dos campos, porque soube planejar a transição da carreira para empresário.

  Ele contou que se inspirou em Dida e atualmente é tão símbolo quanto, para garotos e garotas em especial os pretos e pretas de que esforço e trabalho podem ser recompensados. É uma voz ativa e que vale a pena ser ouvida sobre estas questões que ainda ressoam na sociedade brasileira e no futebol por tabela.

  Passou por Cruzeiro, pela Turquia, mas sempre será lembrado como o goleiro da Estrela Solitária. De bônus, defendeu pênalti do Adriano Imperador e de um alienígena que está entre nós, Lionel Messi, conhecem? 

Bárbara, a inspiradora

Bárbara, goleira da seleção brasileira

  Ser goleira não é fácil. Além de lidar com as críticas que acompanham a função, ainda há as criaturas que acrescentam o tempero do machismo e da misoginia. Por isso, para enaltecer as garotas, escolhi a camisa 1 da Seleção Brasileira: Barbara. E que, nesta temporada, quando não estiver com a Seleção, estará em campo no Brasil pelo Avaí Kindermann. 

  Basicamente por ela representar a possibilidade de se transformar este sonho em realidade. Várias meninas, garotas e adolescentes estão por aí nos campos da vida equilibrando funções e o amor por futebol.

  Quando há partida do Brasil, estão na frente da TV se imaginando no lugar dela, no futuro. Assim como um dia, imagino, Bárbara sonhou em ser Meg.

  Como inspiração não tem fronteiras, olha só o que Bárbara publicou nas redes sociais no dia 27 de março: “Hoje um dia especial para nós goleiros e goleiras! Um dos maiores goleiros da Seleção Brasileira completaria 100anos, Viva o Grande Barbosa, inspiração para todos nós!”

   A minha lista – atualmente – para aqui. E você? Já parou para pensar quais goleiros e goleiras fazem parte da sua memória afetiva do futebol? Me conta nos comentários!

Arte Toque de Bola - crônica Roberta Oliveira 11-4-21
Arte Toque de Bola – crônica Roberta Oliveira 11-4-21

Texto: Roberta Oliveira – Toque de Bola

Arte: Toque de Bola

Fotos: Vasco da Gama/Instagram; Fifa/Divulgação; wavebreakmedia/freepik; freepik; j1jefferson/Instagram; barbaragol1/Instagram; taffareloriginal/Instagram; Felipe Duest/PhotoPress/Gazeta Press; marcosgoleiro_12/Instagram. 

Ivan Elias

Ivan Elias, associado do Panathlon Club de Juiz de Fora, é jornalista, formado em Comunicação Social pela UFJF. Trabalhou por mais de 11 anos no Sistema Solar de Comunicação (Rádio Solar e jornal Tribuna de Minas), em Juiz de Fora. Participou de centenas de transmissões esportivas ao vivo (futebol, vôlei, etc). Apresentou diversos programas de esporte e de humor, incluindo a criação de personagens. Já foi freelancer da Folha de S. Paulo, atuou como produtor de matérias de TV e em 2007 e 2008 “defendeu” o Tupi, na Bancada Democrática do Alterosa Esporte, da TV Alterosa (SBT-Minas). Criou, em 2010, ao lado de Mônica Valentim, o então blog Toque de Bola que hoje é Portal, aplicativo, Spotify, Canal no Youtube e está no Twitter, Instagram e Facebook, formando a maior vitrine de exposição do esporte local É filiado à Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE) e Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (Abrace).

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