Modalidade habitualmente ligada às cidades de praia, o futevôlei vem crescendo Brasil afora, mesmo longe da brisa do mar. Em Juiz de Fora não é diferente.
O esporte, que ficou mais conhecido na década de 1990 por contar com praticantes entre jogadores famosos como Romário, Edmundo e Renato Gaúcho, evoluiu de simples brincadeira descontraída entre amigos para uma modalidade que vem atraindo esportistas e amadores pelas quadras juiz-foranas. Grande parte deste cenário é responsabilidade de dois torneios locais, que atraem até mesmo competidores de outros estados e influenciam nas principais competições do país: o Brasileirão e a Champions League do Gonzagão.
Trabalho de dez anos
Responsável pela criação das competições, o empresário Marcos “Marculino Gonzaga” Carvalho, conta que a expansão da modalidade se acelerou após o surgimento da primeira competição. “O esporte iniciou o crescimento justamente quando comecei a realizar os torneios. Muita gente querendo jogar, e então foram abrindo várias escolinhas na cidade. Quando eu comecei a jogar, Juiz de Fora tinha praticamente duas quadras para jogo, na Associação dos funcionários Fazendários da Zona da Mata (Affamata) e na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB). Logo depois de surgir o Brasileirão, abriram diversos locais, centros de treinamentos, clubes, em diversos bairros. Foi muito rápido”, conta.
Pensando em poder praticar sempre o futevôlei, Marculino decidiu fazer em casa uma quadra. Chamando os amigos para jogar, as brincadeiras foram ficando mais sérias, uma coisa levou à outra, e assim nasceu a competição. “Comecei a praticar o esporte há dez anos atrás. Eu tinha um clube de futebol que se chamava Luiz Gonzaga Futebol Clube, e resolvi fazer uma quadra em casa para jogar futevôlei. Como sempre disputava campeonatos, era muito competitivo, no futebol, reparei que não tinham torneios longos no futevôlei. Daí, das minhas peladas, desenvolvi o Brasileirão de Futevôlei do Gonzagão. É o mesmo modelo que tem no Brasileiro de futebol, todos jogam contra todos. Este ano, o evento vai para sua nona edição. É considerado o maior torneio do mundo da modalidade, com 60 dias seguidos de jogos”, explica.
Estourou
Um dos professores atualmente trabalhando no centro de futevôlei de Marculino, Inácio Ribeiro, de 20 anos, ou apenas Menino Inácio para os mais chegados, disputa as principais competição do Brasil. Ele participou da expansão da modalidade em Juiz de Fora e, nos últimos anos viu o esporte tomar a cidade.
“Jogo futevôlei desde os 14 anos. Há dois anos comecei a levar o esporte a sério. Participo do circuito nacional há um ano. Disputei um Brasileiro em Recife, fiquei em quarto. Também já atuei no Team Águia Footvolley Cup (TAFC), Mikaza Open, Jogo Contra, que são os maiores eventos do Brasil. O Marquinhos, do Gonzagão, vem nesse processo há seis anos, tentando fazer o esporte virar aqui em Juiz de Fora. Nesses últimos dois, estourou. É tudo fruto do evento criado por ele, o Brasileirão Gonzagão de Futevôlei. É o maior da cidade, na verdade de Minas Gerais e, no país, quase nenhum tem a estrutura que temos por aqui”, atesta Inácio.
Perfil
Pela falta da praia, o futevôlei não é tão massificado como no litoral, mas nem isso impediu sua expansão. Apenas moldou o perfil de seus praticantes, como explica Inácio. “O esporte tem crescido muito na cidade. Tem muita gente praticando. O público atualmente são empresários, profissionais liberais, que gostam mais e podem dedicar um tempo pagando para praticar. Não há um projeto social, por exemplo, para as crianças que querem praticar, têm vontade de aprender. No Rio, por exemplo, qualquer um pode praticar. Chega na praia, joga. Aqui não. Em qualquer lugar que você for jogar, tem que pagar porque não há quadra pública. Então tem que ser quem já tem uma condição financeira melhor.”
Professor da modalidade há quatro anos, Jeferson “Nenem” Cardoso, não vê restrições para quem quiser praticar a modalidade. “Futevôlei é sem restrições. É só chegar. Não tem idade, não tem nenhuma contra-indicação. É o esporte que mais cresce no Brasil, e em Juiz de Fora não seria diferente. As aulas a gente faz em grupo, mas pode ser individual também. No máximo aqui, damos aulas com seis pessoas simultaneamente. Também aliando a trabalhos específicos de personal. Tem treino para quem está começando, com os fundamentos, e também para quem quer disputar torneios, e qualquer objetivo podemos adaptar a prática”, diz o fundador do Team Neném da modalidade que tem como sedes de treinos o Tupi, a Pé na Areia e a Baby Shark.
Democrático
Os alunos de Neném provam que realmente há espaço para quem quiser praticar a modalidade. A técnica em enfermagem Aline Venerando, de 34 anos, conheceu recentemente o esporte e se apaixonou. “Vai fazer cinco meses que eu pratico. Antes, fazia futebol, mas tive um lesão e tive que parar. Foi aí que descobri o futevôlei. Aqui, comecei a fortalecer mais a musculatura que eu precisava, até para me recuperar da lesão. Apaixonei! Agora, não quero parar de jogar mais. É para todo mundo. Qualquer um que quiser jogar, pode entrar. Crianças, adultos, quem nunca jogou ou já joga futebol. Não tem restrição nenhuma.”
Já o empresário Josias Silva, de 21 anos, chegou do mundo da bola, e explica que mesmo quem não tem vivência com os treinos e peladas pode se dar bem na areia. “Pratico deve ter uns três anos. Eu era do futebol, vim e migrei para o futevôlei. Comecei na Zona Norte, e o esporte é espetacular, cresce cada vez mais na cidade. Já está espalhado, e a tendência é só crescer. Falo para todos os meus amigos e quem me pergunta sobre o futevôlei: é para todos. Não é só quem veio da bola. A maioria pensa que só é para quem veio do futebol. Pelo contrário. A pessoa que nem jogava futebol e vem jogar futevôlei aprende até mais fácil. Por conta de vícios. Convido todos a praticarem este esporte que é maravilhoso.”
Para quem quer jogar, em qualquer nível, Inácio tem apenas um conselho. “A dica que eu dou é: comece a treinar. É um esporte viciante. Quanto mais você treinar, evolui, aprende coisas novas, todos os dias. Até hoje eu aprendo. Então é treino, dedicação, que dá certo”, afirma o jogador.
Evolução e sucesso
Além depois do sucesso do primeiro torneio, Marculino desenvolveu recentemente uma nova competição. “Depois do sucesso do Brasileirão de Futevôlei Gonzagão, desenvolvi um outro torneio. Chama UEFA Champions League do Gonzagão, que é o mesmo modelo da competição de clubes europeus. Só que este é disputado em duas semanas. Atraindo também muita gente de fora. Porque ele é mais curto. Transmitimos para toda a Europa, porque integro, através do Facebook, a torcida de praticamente todos os times de lá. No momento, estou nos Estados Unidos para tentar desenvolver esse torneio da UEFA aqui.”
O sucesso dos torneios também pode ser medido em audiência.”Não tenho interesse financeiro no esporte. Só divulgar a modalidade para Juiz de Fora e, agora, fora também. Em 2020, tivemos 1 milhão e poucas pessoas assistindo as transmissões. Novamente, em 2021, batemos esse número. Contando só os acessos mesmo, tivemos mais que 1 milhão. Ou seja, a audiência foi muito maior que esse número, porque as pessoas agora vêem YouTube, por exemplo, na própria televisão. Quando comecei a fazer o Brasileirão, não existia transmissão de torneios de futevôlei ao vivo. Não tinha narração, nem torneios com melhor de três sets. Eram todos em um set só. Atualmente as finais do TAFC são disputadas em melhor de três. Isso tudo nasceu aqui”, conta.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: divulgação/Gonzagão; arquivo pessoal/Inácio Ribeiro; e Toque de Bola