“Sobrando”.
É o termo que resume como está o Flamengo no cenário nacional depois que passou a ter o comando do treinador português Jorge Jesus e da chegada dos (“novos velhos” e muito bons) laterais Rafinha e Filipe Luís e do (quase esquecido, podemos dizer?) meia Gerson.
Cinco???
A goleada sobre o Grêmio, depois de 25 minutos iniciais mais equilibrados, não foi a única demonstração de superioridade e maturidade da equipe. Cinco a zero em plena semifinal de Libertadores não pode ser obra do acaso.
Obsessão pelo gol
Essa dinâmica de jogo da equipe, depois que se encaixou, ninguém conseguiu parar. A campanha surreal quase só de vitórias – empates contra São Paulo e Grêmio foram as únicas “exceções” nessa trajetória – vem coroar quem joga em função do gol e, mesmo que abra vantagem no placar (como ocorreu na quarta-feira) não altera a sua vocação.
O mérito maior é que, além de ser muito difícil de ser marcado o tempo todo, consegue ser combativo a ponto de transformar uma roubada de bola em seu campo em manobra vertical – e muitas vezes fatal. A habilidade de Éverton Ribeiro e Arrascaeta e o entrosamento e oportunismo de Gabriel e Bruno Henrique mostram-se “imarcáveis”.
E essa “poupação” gaúcha?
Nos dois embates diante do Grêmio, especificamente, o volume de jogo infinitamente maior demonstrou que o time carioca acertou em não poupar jogadores, na comparação com o gaúcho, que abriu mão do Brasileiro sem pudor.
Tudo bem que a qualidade dos elencos não se compara. Nesse ponto, o omelete do português sai mais gostoso.
O Grêmio cumpriu, de fato, boas atuações na temporada, mas não conseguiu regularidade. É aqui que podemos questionar essa “poupação” exagerada do Renato, em que às vezes até o reserva imediato não entra em campo. Sem a escalação dos considerados titulares com maior frequência, como alcançar e manter a regularidade?
Éverton “Cebolinha” viveu grande momento recentemente, até na seleção, mas a impressão nestes dois jogos da semi é que ficou praticamente sozinho para tentar fazer a diferença.
Sem conjunto…
Se nas peças individuais o Flamengo já é superior ao Grêmio, só a força do conjunto adversário, em duas noites de muito brilho e quase erro zero, poderia fazer a diferença. Em 180 minutos – e no jogo de volta sem as aborrecidas paradas de VAR – o Fla foi superior tanto na qualidade técnica como na força do conjunto.
Estilo Telê
Curioso. Quando Jorge Jesus estava chegando ao Brasil, disseram que ele tinha algumas “manias” semelhantes ao do saudoso Telê Santana: que era “caxião”, que passava quase o dia inteiro no clube, inclusive controlando horários e alimentação do elenco, entre outras coisas.
E por enquanto é esse “chato” que consegue, assim como Telê, proporcionar a uma equipe brasileira atuar em função do ataque, com jogadas envolventes e atletas que executam bem os fundamentos, tornando a arquibancada não um palco de tensão e receio pelo um a zero milagroso e magro, mas um espaço para quem acredita ser o esporte também uma manifestação de arte e cultura.
Texto: Ivan Elias – Editor Toque de Bola
Foto: Marcelo Cortes – site oficial do Flamengo