Filho de peixe, peixinho é. Guilherme, de 12 anos, é filho de Claudinho, ex-ponta direita do Tupi e do Sport, e hoje atua no Vasco da Gama. O garoto juiz-forano que busca seguir os passos do pai e se tornar um atleta profissional garantiu ao Toque de Bola ser melhor que o ex-atleta com a bola dos pés. E Claudinho concordou.

Claudinho
Luiz Cláudio de Carvalho, 49 anos, é ex-atleta profissional. Claudinho começou a jogar nos campos do bairro Alto Santa Rita, até que em 1984 resolveu fazer um teste no Tupi e foi aprovado. Em 1989 se profissionalizou no rival, Sport, e em sua carreira voltou a vestir a camisa do alvinegro de Santa Terezinha, passou pelo futebol capixaba, carioca, e paulista, onde em 1995 foi obrigado a encerrar a sua trajetória dentro de campo por conta de uma lesão na perna.
“Recebi uma ligação do meu empresário em uma quinta-feira dizendo que tinham clubes do Japão e de Portugal interessados em me contratar, no domingo fui para o jogo e fraturei a tíbia e o perônio. Desde então nunca mais joguei profissionalmente”, conta Claudinho.

Tal pai, tal filho
Com apenas 26 anos, Claudinho viu sua carreira encerrada precocemente e resolveu voltar às origens. Retornou para Juiz de Fora e iniciou uma escolhinha de futebol no Alto Santa Rita, que rapidamente alcançou a marca de 180 garotos cadastrados. Guilherme deu seus primeiros chutes lá, mas logo com 5 anos ingressou no futsal do Sport, com o técnico Gérson William. Dois anos depois, Claudinho resolveu trocar o filho do salão para os gramados e o colocou para treinar no Bonsucesso com os professores Walmir de Lima e Bruno Piuí, que brincaram dizendo que Guilherme é melhor que Claudinho.
E ele concorda: “Eu concordo com o Walmir e com o Bruno, apesar de ser pai, que no meio do futebol a gente diz que é o mais suspeito de todos, que o Guilherme é melhor do que eu. Eu evito analisar o desempenho dele, mas começou muito mais cedo do que eu, teve uma base que eu não tive e tem tudo para ser um ótimo atleta. Ele tem muito mais habilidade do que eu, porque na minha época explorava-se mais a velocidade do que a habilidade. Eu era ponta-direita, o verdadeiro, que ia no fundo cruzar. O Guilherme sabendo do meu jeito de jogar seguiu isso também, jogando mais pelas beiradas. Mas lá no Rio, por conta da estatura dele e esquema de jogo com linha, quadrado, alguns treinadores acabam escalando ele como centroavante”, comenta.

Ayupe ajudou
Com o bom desempenho no Bonsucesso em 2013, Guilherme chamou atenção em uma partida contra o time de São João Nepomuceno, comandado por Marco Aurélio Ayupe, ex-lateral do Vasco da Gama, que conseguiu uma oportunidade de teste para o jovem no clube. Em 15 minutos de avaliação, Guilherme foi aprovado.

A partir de então começou a trajetória do garoto no Gigante da Colina. Nos primeiros anos, Claudinho levava o filho para as partidas, até que foi abordado por um dos mandatários vascaínos: “Ano passado, o filho do Eurico, Álvaro Miranda, entrou em contato comigo e disse que queria que o Guilherme ficasse lá no Vasco para vivenciar o futebol. Porém, pela idade dele, não é permitido que ele fique sozinho no clube. Então eles alugaram uma casa pertinho de São Januário e o Guilherme entra no clube sete horas da manhã, toma café, almoça, estuda, treina, janta e só volta para casa para dormir. A minha esposa, Sueli Carvalho, está morando com ele no Rio de Janeiro e o Vasco ainda dá uma ajuda de custo para que se mantenham lá”, revela.
Claudinho: “Só depende dele”
Com todo o apoio do clube e da família, Claudinho acredita que o filho tem tudo para se tornar um profissional, mas sem deixar de lado o que para ele é o mais importante: “Temos uma expectativa muito grande em cima dele, porque tudo depende só dele. Antes de ser um atleta profissional, ele tem que ter uma boa formação e isso está acontecendo. Ele está em um clube que dá o total suporte para que ele possa só jogar, então, se ele seguir focado, ouvir meus conselhos, prestar atenção nos treinadores de cada categoria, tem tudo para ser bem sucedido. Mas existem etapas, e o futebol é meio carrasco com os atletas. No meu tempo de categoria de base de Tupi passaram excepcionais atletas que não vingaram. Então tudo depende de cada um. Vou dar total apoio para ele. Enquanto ele quiser jogar, vou apoiar; se ele quiser parar, também vou apoiar. E esse apoio é muito importante, porque no meu tempo era muito mais difícil se tornar jogador. Eu mesmo, quando resolvi ser profissional, tive que sair de casa. Meu pai dizia que ser jogador de futebol era profissão de vagabundo que não queria trabalhar, havia muito preconceito, que só foi rompido depois de conquistas de títulos, aparecer em jornais, TV, aí todo mundo passou a reconhecer”, explica.

Mal necessário
Em relação ao assédio sobre a carreira do seu filho, Claudinho afirma que desde que chegou ao Vasco, Guilherme possui empresário, que segundo ele é um mal necessário no meio do futebol: “Desde que ele chegou lá, no primeiro dia, ele já tinha um empresário. Nós nunca gastamos um centavo com despesa como gasolina, hospedagem, nada disso. Porque têm coisas que são caras, então quando tem qualidade, não tem como fugir dessa situação. A gente fala que é um mal necessário, precisa ter, porque hoje o atleta que está dentro de um grande clube e não tem empresário fica para trás. Lá no Vasco, por exemplo, do sub-11 ao profissional boa parte tem empresário. Tem garoto lá no Vasco com 16 anos que ganha 45 mil reais. Então é necessário ter alguém para auxiliar na carreira”, afirma Claudinho, que hoje deixa os cuidados da carreira do seu filho com o juiz-forano Kim, ex-jogador de futebol, também revelado pelo Bonsucesso.

Guilherme: “Meu objetivo é jogar no Barcelona”
Atacante, Guilherme, assim como o pai, torce para o Botafogo, mas sua referência é outra: Neymar: “Quis ser jogador de futebol por causa do meu pai, apesar de jogar mais do que ele. Eu torço para o Botafogo, mas lá no Vasco ninguém sabe disso, porque digo que sou Vasco. Nesse tempo lá joguei Copa Light, Copa Cidade Verde, no Rio Grande do Sul, Campeonato Sul-Americano, em São Paulo, todos pela categoria sub-11 e agora subi para a sub-13, onde já disputarei o Estadual. Quero continuar no Vasco até o profissional e depois ir para grande clubes. Se tiver uma proposta boa no final da carreira gostaria de jogar no Botafogo, mas meu objetivo mesmo é chegar no Barcelona, assim como minha referência no futebol, o Neymar”, declarou em tom descontraído.
Texto: Guilherme Fernandes, estagiário do Toque de Bola, sob supervisão de Bruno Kaehler – Toque de Bola
Fotos: Divulgação e Arquivo Toque de Bola
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