Em função do incrível número de acessos que o Toque de Bola tem verificado desde a divulgação, na tarde desta terça-feira, 19, do distrato entre Sport e Tupynambás e da nova parceria entre o Baeta e a Associação Desportiva Juiz de Fora (ADJF), o Portal decidiu apresentar a íntegra da entrevista coletiva que contou com a participação dos presidentes de Tupynambás, Francisco Carlos Quirino (Chiquinho), Sport, Jorge Ramos, ADJF, Guilherme Facio e do Conselho Municipal de Desportos, Antônio Pereira Filho, do representante do Conselho Deliberativo do Leão do Poço Rico, João santiago de Oliveira, e do radialista e presidente da Liga de Futebol de Juiz de Fora, Ricardo Wagner.
Em tempo: para os nossos leitores/internautas mais jovens, lembramos que Baeta e Leão do Poço Rico são denominações atribuídas ao Tupynambás, clube do bairro Poço Rico, em Juiz de Fora, que no futebol disputava com Sport e Tupi clássicos tradicionalmente empolgantes e com casa cheia nos tempos das competições locais e regionais.
Seguem as transcrições dos depoimentos e respostas às perguntas na entrevista, na ordem em que foram feitas. Vamos deixar em negrito alguns trechos que chamam mais a atenção.
Jorge Ramos – presidente do Sport: “O projeto do shopping não faz parte da minha pauta como presidente”
“São momentos da minha passagem como presidente do Conselho Deliberativo. Naquele momento em que houve aquela proposta da construção de um shopping no Sport, feita pelo grupo Zafir, fizemos uma assembleia entre os associados em dia, e a assembleia delibera através dos sócios pela aceitação deste empreendimento. Mas nós temos impedimentos para que essa obra fosse realizada: a arquibancada e a sede social do clube que são tombadas. Antes, no nosso entendimento o tombamento era só a fachada da arquibancada, mas eu tive uma reunião no gabinete do prefeito (Bruno Siqueira, prefeito de Juiz de Fora) e ele me entregou uma cópia do processo. Lá tomei conhecimento de que é toda a volumetria, tanto da sede social como da arquibancada. Então não é aquilo que você faz uma desconstituição do tombamento e que você simplesmente mantém a fachada e desfaz o resto. Na época, tenho que ser honesto, fui favorável ao investimento. Eram 10 mil empregos na fase de obras e depois quase quatro mil por conta das lojas. Mas, coincidentemente, estávamos vivendo dois momentos em Juiz de Fora: a construção do shopping no Sport e a construção do shopping Jardim Norte. Como nosso processo retardou por conta do tombamento, já que não é um processo fácil, que você abre um precedente para destombar e desconstituir uma obra, o investidor desistiu do processo. E naquele momento os clubes se uniram. O Tupynambás com a direção anterior, junto com a direção do Sport, e decidiram que naquele momento, caso o projeto se concretizasse, os sócios do Sport estariam usando as instalações do Tupynambás. Como isso não ocorreu, voltamos ao status quo, cada um segue a sua vida. O projeto do shopping no Sport para mim é matéria vencida, não faz parte da minha pauta como presidente, da minha visão empresarial para o clube. Seria um ganho para Juiz de Fora? Seria. Mas hoje eu analiso que para nós, sócios do Sport, não é válido. Então enquanto eu for presidente farei uma gestão de sócio para sócio, além da dificuldade de abrir esse precedente para desconstituição de tombamento.
Jorge Ramos, presidente do Sport: “Cada um segue a sua vida”
O contrato com o Tupynambás não tinha tempo pré-determinado. Era um projeto que estava iniciando em proposta de uma situação futura. Caso ela viesse a se concretizar, nós estaríamos usando o Tupynambás, no bom sentido. Então não havia tempo determinado no contrato. Gostaria de deixar registrado, e serei repetitivo, que havia uma cláusula no contrato que caso não se tenha dado cabo ao projeto de fusão, junção, parceria, seja lá o nome que queiram dar, ele podia ser desfeito. Foi aí que eu me ative a essa cláusula contratual quando fui procurado, e agora cada um segue sua vida. Foi um momento em que cada um viveu, mas que agora cada um viva seu caminho. Falávamos dessa tradição no futebol, o Tupynambás tem uma história, o Sport tem uma história, o Tupi tem uma história, Juiz de Fora tem uma história, e isso é muito importante. Não sou tão velho assim, mas também não sou tão novo que não tenha vivido essa história. Meu pai foi goleiro do Tupi e do Tupynambás, Leo Maroca, mas não tem nada a ver comigo, ele tinha dois metros e eu tenho 1,50m.
Jorge Ramos, presidente do Sport: não concretização do shopping não tem nada a ver com o distrato”
Não acho que o fiel da balança tenha sido o não andamento da obra do shopping no Sport. O fato de não ter acontecido a concretização do empreendimento no Sport não tem nada a ver com o momento do distrato. São pensamentos, ações diferenciadas, que naquele momento as duas diretorias acharam que deveria ser tomada, e hoje nós não pensamos assim. Não tem esse vínculo de que a não concretização do empreendimento da empresa Zafir em Juiz de Fora seja o fato do distrato. Foi uma decisão das partes.
Jorge Ramos, presidente do Sport: “Conselho Deliberativo aprovou distrato por 11 votos a 5”
Eu enquanto presidente olho de acordo com o estatuto. Nós fizemos uma assembleia e ela apontou que tivesse o empreendimento do grupo Zafir. Só que até sair desse momento do grupo Zafir e até chegar o momento do empreendimento propriamente dito, existe um lapso temporal e esse lapso se da pela desconstituição do patrimônio, que, pelo que pudemos tomar pé, não vai existir. Quando eu assumi a presidência, eu não fiz campanha, não prometi que esse empreendimento teria continuidade na minha gestão. Aliás, é bom que se registre que eu não fiz promessa nenhuma a nenhum sócio do Sport. Prometi fazer uma gestão de sócio para sócio, que na minha visão é manter o clube como está lá, e tentar melhorar. O fato do empreendimento não ter saído não justifica o distrato. São ações distintas de pensamento. E o Chiquinho, como presidente do Tupynambás, eu como presidente do Sport, ouvi meus diretores – lógico que teve resistência, isso é normal, porque a democracia se faz no processo de discutir, ouvir e debater, segui a determinação do Conselho Deliberativo que decidiu por 11 votos a 5, este foi o resultado em uma reunião extraordinária que pedi ao Ronaldo para organizar. A reunião foi dia 28 de abril.
Ricardo Wagner: fusão dependeria de assembleias entre sócios
Ainda haveria outro momento que seria uma possível fusão entre os dois clubes, como já acompanhamos no Paraná Clube, que teria uma situação muito jurídica, que é passar por uma assembleia geral no Sport e no Tupynambás, que não basta só o Tupynambás ou só o Sport não aceitar por maioria, teria que ser as duas assembléias gerais dos sócios dos dois clubes, por maioria de votos, de acordo com o estatuto de cada um aprovassem uma fusão de patrimônio, só administrativa, o que fosse.
Jorge Ramos, presidente do Sport, sobre votos na reunião do Conselho: “Estatutos não estabelecem quorum qualificado”
Os estatutos às vezes são frágeis. Eles determinam apenas que você convoque o Conselho Deliberativo, mas não estabelecem um quorum qualificado. Só por exemplo: eu quando fui presidente do Conselho sempre me preocupava com o baixo quorum, mas está estabelecido pelo estatuto, e você decide a vida de um patrimônio com um voto. Então o quorum que havia tinha 16 conselheiros, um era suplente e por isso o voto dele não foi computado. O estatuto é frágil nesse sentido, o que protege o patrimônio é a assembleia geral. A fusão demanda um terceiro. Ou seja, é unir dois para formar um terceiro. É preciso que a personalidade jurídica dos dois se desfaça, aí você se junta, e cria outra personalidade, com novo CNPJ, passa recibos ativos e passivos. Não é uma coisa simples de se fazer.
Francisco Carlos Quirino, presidente do Tupynambás: “Eu via a insatisfação dos sócios pelo clube: ‘Vai entregar o Baeta para o Sport?’
Quando eu assumi o clube no dia 9 de janeiro, já estava participando da comissão que discutia a possível fusão dos clubes. Então nesse estudo, eu e a Dra. Scheila, que é a jurista do clube, vimos que não seria tão fácil assim. Isso não depende do presidente, nem da diretoria, quem decidiria isso seriam os sócios, através da assembleia geral. Então eu conheci o Jorge e disse que precisava conversar com ele e que estava querendo acabar com a fusão porque acho que tanto eu, como ele, que nossos clubes podem andar com as próprias pernas. Eu via a insatisfação dos sócios pelo clube: ‘Vai entregar o Baeta para o Sport?’ Então decidi com o Jorge de forma amistosa, acertamos tudo que tínhamos que acertar com muita transparência.
Jorge Ramos, presidente do Sport:
Todo momento, desde que fui contactado pelo Chiquinho, foi de total transparência. A nossa conversa nunca foi a dois, sempre com assessoria jurídica, com outras pessoas, nada feito entre eu e Chiquinho dentro de uma sala. O distrato foi analisado pelas duas assessorias jurídicas, então estou muito tranquilo com a decisão que tomamos, com a deliberação do Conselho Deliberativo, que para mim é matéria votada, e vamos tocar a vida. Vamos agora fazer dos dois clubes o melhor para Juiz de Fora, é isso que precisamos. Precisamos recuperar essa baixa frequência, hoje é muito cultural, todo mundo quer seu pedaço de terra, sua granjinha, a moçada está cada vez mais na internet, senta em um restaurante e não conversa, só fica no celular. Então qual é o público que você tem dentro do Tupynambás? Qual o público que você vê no Sport? É raro ver a juventude frequentando. Eu tenho essa visão dentro do Sport, vejo os meninos de até 8 anos lá, mas quando chega em uma fase de 12 e 13 ele quer voar. Então precisamos recuperar os nossos clubes, são clubes sociais. Podemos fazer futebol? Profissional eu não me arrisco, mas fazer um amadorzinho, super sênior, é preciso tentar fazer, mas uma andorinha só não faz verão. É preciso que a gente tenha parceiros.
Francisco Carlos Quirino, presidente do Baeta, sobre a dívida do Baeta com o Sport: Só quando assumi, vi quanto era”
A dívida com o Sport, quando o ex-presidente fez lá com o Paulo (Paulo Cezar Gasparette, ex-presidente do Sport), eu não estava presente. Só quando assumi que vi o contrato e quanto era.
Jorge Ramos, presidente do Sport:
Foi uma parceria. Foi um momento em que eu não hesitarei amanhã se precisar pedir ajuda ao Tupynambás. Espero que nunca precise passar por essa situação, mas não me embaraçarei nem um pouco se precisar. Os clubes hoje têm um problema muito sério que é o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiro (AVCB), que eu respeito como cidadão, mas estamos ficando inviabilizados de fazer qualquer evento, promover qualquer coisa, porque precisamos cumprir o Auto. Nós temos que sentar com o Corpo de Bombeiros para entender que temos uma capacidade mínima, um suporte, que pudemos fazer algo de uma forma diferenciada. Depois do ocorrido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul (incêndio de gravíssimas proporções com 242 mortes e 680 feridos em boate na cidade gaúcha em janeiro de 2013), as coisas tomaram outra proporção, certíssimo, é o princípio da precaução, entendo perfeitamente, mas nós não temos condição de fazer da noite para o dia, um processo de AVCB, que para nós no Sport ficaria em torno de R$ 400 mil. É um conjunto de obras que você precisa fazer. Por exemplo, se você tiver um corredor de 90cm de largura, não pode ter, tem que quebrar. Mas e se esse corredor for estrutural, como é que faz? Temos que reavaliar essa situação, um projeto total com fases de execução, fase um, fase dois, fase três. Qual é o que tem mais risco? E assim a gente vai trabalhando aos poucos, tanto o Sport, como o Cascatinha, o Tupynambás, todos. Porque aí nós vamos trabalhando isso, porque como está sendo colocado nós não temos a menor condição.
Francisco Carlos Quirino, presidente do Tupynambás, adiantando o que seria a entrevista da ADJF
O Tupynambás não dispõe de dinheiro para ajustar a iluminação do ginásio, que está precária, o piso também precisa de reforma, o AVCB não posso fazer porque não tinha dinheiro, mas agora a ADJF vai assumir isso.
Texto, informações e fotos: Toque de Bola
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