Estórias do Tupi – parte 2

Juiz de Fora (MG), 11 de dezembro de 2011

Leia a segunda parte das “Estórias do Tupi”, que revelam bastidores e curiosidades da campanha vitoriosa do campeão brasileiro da Série D. O texto é do jornalista Ailton Alves, assessor de imprensa carijó.

  Lembre a primeira parte das estórias.

10 – Os desconfiados

Sob inspiração do técnico Ricardo Drubscky, o Departamento de Imprensa do Clube produziu um vídeo motivacional para ser exibido aos jogadores na véspera de Tupi x Volta Redonda (jogo de volta). O filme continha basicamente depoimentos de parentes dos atletas: as esposas de Luciano Ratinho, Augusto e Sílvio gravaram no hotel; a de Marcel, grávida, em casa; as namoradas de Michel e Vitinho em seus locais de trabalho, e a mãe de Adalberto recebeu a equipe também na sua casa; a esposa de Allan foi a Santa Terezinha, assim como os pais de Wesley Ladeira, que se deslocaram de Piraúba (MG); As esposas de Henrique e Felipe Cordeiro gravaram por telefone, respectivamente, da Bahia e da Paraíba; as de Jefferson e Chrys direto do Rio de Janeiro, assim como os pais de Rodrigo; o pai de Douglas Borges falou direto de Franca (SP), a mãe de Denilson, de Viçosa (MG), a de Cassiano, de Cataguases (MG), a de Marquinhos, de Curitiba (PR); e a mãe e a irmã de Assis mandaram um vídeo, via internet, de Assis (SP).

Só que, para montar todo esse painel, era preciso conseguir os telefones dos parentes, e esses dados foram pedidos aos jogadores com a desculpa bastante esfarrapada de que “era necessário montar um arquivo”. Os atletas ficaram, compreensivamente, um pouco chateados com essa intromissão em assuntos particulares, mas cederam. E pensaram algumas coisas indevidas, como bem definiu o goleiro Douglas Borges: “Pô, eles não confiam na gente” (o Galo tinha perdido o primeiro jogo, em Volta Redonda), “já estão preparando a rescisão do contrato”.

 

11 – Homem não chora

O vídeo ganhou um tom bastante emocional e foi exibido pouco antes da subida para o Estádio Radialista Mário Helênio. O que mais se viu foi marmanjos escondendo o rosto na camisa e com os olhos cheios d’água. Ninguém admitiu, é claro, afinal “homem não chora”.

 

12 – Dennis, o matador do time de Juniores

Dennis, o caçula do elenco, jogou algumas partidas como titular e marcou um gol muito importante (o do desempate, contra a Anapolina – 3 a 1 Galo). Porém, no decorrer do campeonato foi “emprestado” ao time de Juniores do Tupi que disputava o Hexagonal Final do Campeonato Mineiro da categoria. Nas viagens, nas concentrações, as perguntas dos demais jogadores, antes mesmo de resultados da Série D, eram as mesmas: Quanto ficou o Galinho? O Dennis fez gol? A resposta a primeira questão era variável, mas a segunda pergunta tinha quase sempre a mesma resposta: sim. Dennis balançou as redes adversárias em quatro das cinco partidas que jogou pelo time de Juniores.

 

13 – O rato e o gato

Intervalo do jogo-treino contra o Cruzeiro, na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, e Luciano Ratinho faz questão de cumprimentar o ex-goleiro Raul Plasmann, que foi seu técnico no Juventude (RS), no início da década passada. Terminados os abraços, reiniciada a partida, Raul pergunta à assessoria de imprensa do Tupi:

– Quantos anos o Luciano tem?

– Por coincidência, está fazendo 32 hoje – foi a resposta

Raul pensou um pouco e decretou:

– É, faz tanto tempo que fui técnico do Juventude que acho que o Luciano não é Rato e sim “gato” (gíria no futebol que denomina aquele jogador que esconde a idade).

 

14 – Árbitro conhecido, craque nem tanto

Primeira partida contra a Anapolina, fase de mata-mata, árbitro de primeira linha, de Série A: Cleber Wellington Abade. Tupi na frente do placar, e o atacante Allan catimbando, cavando faltas, fazendo cera, reclamando da arbitragem, irritando os adversários. Abade, da FIFA, perde a paciência com o Carijó e o adverte severamente: “Eu te conheço! Eu te conheço! Está tumultuando o jogo, eu te conheço, está querendo aparecer. Eu te conheço. Está fazendo isso porque está jogando em casa. Eu te conheço”. Allan não se fez de rogado: “Conhece de onde? Eu nunca joguei a Série A”. Abade riu.

 

15 – Quem pede, recebe

Na primeira partida contra a Anapolina, fase de mata-mata, Ademilson estava iluminado. Já tinha feito três gols e aos 41 minutos do segundo tempo recebeu uma bola em profundidade. “Minha vontade era partir para cima dos zagueiros e tentar o quarto gol”, confessou o craque mais tarde, “mas o Henrique passou correndo e gritando ‘me dá a bola, aqui, me dá logo, para mim’. Para ficar livre da gritaria passei a bola para ele, mas avisei: se perder o gol eu te mato”. Henrique marcou o quarto gol e ficou livre dos cascudos de Ademilson.

 

16 – Dupla identidade

O meio-campista Vitinho foi, durante o campeonato, um homem de “dupla personalidade”. Era chamado em Juiz de Fora de simplesmente Vitinho e na imprensa nacional e entre os adversários de Victor Hugo. O fato causou uma grande confusão em Anápolis e quase deu briga entre dois repórteres de um veículo de comunicação local. Um insistia que – já havia se informado – “Vitinho não jogaria na segunda partida da fase de mata-mata contra a Anapolina e sim um tal de Victor Hugo”; o outro rebateu dizendo que havia consultado o site do Tupi e que “Vitinho jogaria sim, e que Victor Hugo era o goleiro reserva Carijó – e que a confusão foi ‘plantada’ pela assessoria do Galo para desnortear a tática goiana”.

 

17 – Todos iguais

A chegada da delegação Carijó ao Estádio Jonas Duarte, em Anápolis (GO), para a partida decisiva contra a Anapolina foi precedida de uma certa tensão, pois alguns torcedores rivais cercaram o ônibus do clube para, aparentemente, cercear o atacante Ademilson (autor de três gols na partida de ida) na esperança de desestabilizar o craque Carijó. Esses torcedores mostraram, no entanto, que tinham apenas uma vaga idéia do aspecto físico do alvo. O zagueiro Adalberto desceu do ônibus e foi xingado, até que alguém disse: “não, esse não é o Ademilson”; em seguida, o também zagueiro Sílvio desceu do ônibus e foi xingado, até que alguém disse: “não, esse não é o Ademilson”. Desistiram. “Pô, nesse time do Tupi todo mundo é negro, careca e se parece com o Ademilson”, constatou um torcedor.

 

18 – Quem avisa, amigo é

Segundo tempo do jogo em Anápolis (GO), partida de acesso à Série C, e o Tupi perdendo a partida e gols. Um, dois, três, quatro, cinco gols perdidos de forma inacreditável. Allan sofre uma falta, não marcada, e vai reclamar com o árbitro. Heber Roberto Lopes aproveita para dar um conselho ao atacante Carijó: “Mata o jogo, vocês ficam perdendo gols, não matam o jogo e depois vão reclamar da arbitragem”.

19 – O troco

Final de jogo em Anápolis (Tupi 2 x 2 Anapolina, e classificação à Série C garantida), o zagueiro Sílvio, antes de partir para a comemoração, foi até ao banco de reservas do time rival, apontou para o técnico Nivaldo Lancuna e disse: “Você fala demais”, complementando com o gesto característico do movimento dos dedos à altura da orelha. Era o troco ao falastrão Lancuna, que disse que o “Villa Nova era muito melhor que o Tupi e que a Anapolina já estava, antes de jogar, na Série C”. O técnico ficou atônito com a atitude do zagueiro Carijó, mas alguns reservas da equipe goiana não gostaram e partiram para cima de Silvio. Sorte é que a turma do “deixa disso” chegou antes e empurrou o jogador do Galo para longe da confusão – e para a comemoração.

 

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