Juiz de Fora (MG), 3 de abril de 2011
Quando o árbitro apitou o final de partida entre Tupi e América, o clima que tomou conta do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, neste sábado, 2, foi de final de campeonato. Afinal, com a derrota por 1 a 0, o Galo Carijó está matematicamente eliminado no Campeonato Mineiro 2010. Além disso, o Alvinegro corre sério risco de perder a vaga para a Série D do Brasileirão. Minutos depois do jogo, o técnico Leonardo Condé concedeu entrevista coletiva à imprensa, quando deixou no ar que os dias no comando do Carijó estão chegando ao fim, sobretudo após mais um jogo em Juiz de Fora marcado pelos protestos da torcida.
Sobre a apresentação diante do América, Condé a classificou como lamentável. “Tivemos uma postura boa no primeiro tempo, quando a bola não estava chegando para o Fábio Júnior e no Thiago Silvi. No final do primeiro tempo, aconteceu uma fatalidade, assim como no campeonato inteiro. O Léo [Devanir], um zagueiro experiente, foi tirar a bola, que bateu nas costas do jogador do América e acabou sobrando para outro fazer o gol. No segundo tempo, conseguimos até fazer uma pressão, mas não conseguimos fazer o gol”, comentou o treinador, acrescentando que apesar da eliminação todos no grupo vão manter a seriedade para o jogo diante do Ipatinga, último compromisso do Tupi no Campeonato Mineiro 2011.
Questionado sobre o porquê de as coisas não terem saído conforme o planejado, Condé assumiu ter parcela de culpa na eliminação do Tupi. “Eu assumo aquilo que é de minha responsabilidade, que é treinar e escalar equipe. Mas tenho que dividir também. Infelizmente, os recursos para fazer futebol em Juiz de Fora são pequenos. Não adianta esperar uma equipe brilhante que você não vai conseguir montar. Tivemos também algumas infelicidades. Hoje, por exemplo, os caras chegaram duas vezes do nosso gol e marcaram. Tivemos quatro oportunidades de gol e não conseguimos. Tivemos um pênalti que não foi marcado. Na semana passada, tivemos um pênalti duvidoso contra que foi marcado. Tem essas coisas que fogem ao nosso controle. Assumo aquilo que é da minha responsabilidade, mas tenho que dividir um pouquinho também”, comentou Condé.
Sobre a classificação para a Série D, o treinador disse que as possibilidades são remotas, mas que ainda não desistiu da competição nacional, mesmo que ele não permaneça no Tupi. Condé confirmou que recebeu sondagens de clubes da Série B do Campeonato Brasileiro e, com o desgaste na relação com a torcida, deixou no ar que a saída do Carijó está próxima. “Se eu não fosse de Juiz de Fora e tivesse um carinho tão especial pelo Tupi e uma admiração e respeito muito grande pela diretoria, eu já tinha saído. Às vezes é preciso achar um responsável e o escolhido neste momento fui eu. Mas eu estou carregando um peso, os jogadores nem tanto já que as cobranças vêm todas em cima de mim, de uma história de cem anos do Tupi. Eu acho que tem que ser revisto o futebol de Juiz de Fora. O América, de Teófilo Otoni, tem o dobro de folha de pagamento que o Tupi. A Caldense tem o dobro do orçamento que o Tupi. O Democrata tem o dobro do orçamento do Tupi. O Ipatinga, que está lutando para não cair, tem o triplo do orçamento que o Tupi. O América tem orçamento dez vezes maior que o Tupi. É isso que precisa ser revisto. Não tem como fazer mágica. Futebol se faz com orçamento também. A diretoria é culpada? Não é! Acho que é uma série de situações que precisam ser revistas em Juiz de Fora. Temos um belo estádio, mas que tem um gramado que há 23 anos não é trocado. Mesmo assim não transfiro para ninguém a minha responsabilidade”, finalizou Condé, acrescentando que se o campeonato não fosse de tiro curto, talvez o Tupi conseguisse a recuperação.
O JOGO
O Tupi foi derrotado pelo América de Belo Horizonte por 1 a 0 neste sábado, 2, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, e não tem mais chances de alcançar uma vaga entre os quatro primeiros, que disputarão as semifinais do Campeonato Mineiro. O gol foi marcado por Camilo, aos 37 minutos do primeiro tempo, em partida de baixo nível técnico.
O Tupi começou a partida dando a impressão de que iria pressionar. Passe de Fabrício Soares para Fabiano e cruzamento na área, defendido pelo goleiro Flávio. Aos 7, depois de escanteio pela esquerda, Paulo Roberto cabeceou à direita do goleiro. O América só ameaçou Rodrigo aos 13, em chute cruzado de Camilo para fora, e aos 17, quando Marcos Rocha tabelou com Fábio Júnior e só não marcou graças à boa colocação de Rodrigo.
Nervoso, o Tupi errava passes simples e irritava o torcedor, que, aliás, demonstrou impaciência desde o início, talvez pela derrota inesperada para o então lanterna Funorte, na rodada anterior. Sem conseguir chegar ao gol adversário em jogadas bem trabalhadas, o Tupi pelo menos se aproximou aos 29 e 30, com duas faltas próximas a área. Na primeira, Paulo Roberto cabeceou mais perto do gol e na segunda, na sequência do lance, Felipe Cordeiro arriscou de fora da área e Flávio colocou para escanteio.
Aos 32, Yan errou um cruzamento e o treinador Leonardo Condé, que estava sentado, levantou-se para aplaudir o atacante e reclamar dos outros jogadores que não acompanharam o lance.
O América não se atirava ao ataque e parecia esperar um erro do Tupi. E a situação ocorreu. Aos 37, Fabrício Soares dominou a bola no campo de defesa e atrasou para Leonardo Devanir. Querendo tirar o perigo, chutou mas a bola desviou num jogador do América, e caiu nos pés de Fábio Júnior. Da meia-lua, com um toque Fábio lançou Camilo, que invadiu a área sem marcação e raspou na bola, “matando” o goleiro Rodrigo, que ficou sem ação: América 1 a 0.
Muito vaiado, o Tupi seguia errando os passeis mais simples mas ainda teva uma boa chance de empatar aos 43. Michel Cury tocou de calcanhar para Edílson, que invadiu a área pela direita e bateu, para mais uma boa defesa de Flávio.
No intervalo, alguns torcedores foram para o alambrado e gritaram “time sem vergonha” e hostilizaram os jogadores, especialmente Edilson, que não voltaria para o segundo tempo.
O atacante Cassiano entrou em seu lugar e tentou dar mais rapidez à troca de passes carijó. Cassiano até foi bem em alguns lances, tocando bem a bola e se deslocando, mas o panorama da partida não se alterou muito.
O América seguia sem se expor, para não colocar a vantagem em risco, e o Tupi desperdiçava bisonhamente as oportunidades criadas, principalmente com Yan. Ele teve dois momentos em que ficou sozinho diante do goleiro, mas não mostrou qualidade para concluir.
Aos 19, o América tentou sair jogando e a bola desviou em Felipe Cordeiro, se oferecendo a Yan. Ele bateu em cima de Flávio . Na chance mais clara, aos 38, Yan recebeu em profundidade na direita mas pegou muito mal na bola, isolando por cima do gol.
Antes, as equipes promoveram várias alterações mas o torcedor não viu resultados práticos. Além da fraca atuação da equipe, que pareceu ter “jogado a toalha” mesmo antes de a bola rolar, o torcedor deixou o estádio lamentando mais um erro de arbitragem. Aos 11 minutos do segundo tempo, houve pênalti claro de Otávio em Yan, e Ronei Candido Alves, mandou o jogo seguir.
Antes do apito final, alguns torcedores do Tupi ainda gritaram olé quando o América trocava passes sem ser incomodado. Foi uma despedida melancólica do Tupi pelo Estadual em casa. Aliás, das seis partidas em casa, o Tupi só venceu uma, 4 a 3 sobre o Democrata-GV. Nos outros jogos, foram empates diante de Villa Nova, América de Teófilo Otoni e Cruzeiro, e perdeu para Caldense e América.
Sinal de que o time “bom, bonito e barato” nem sempre terá sucesso no futebol profissional.
Tupi: Rodrigo; Leonardo Devanir, Fabrício Soares e Paulo Roberto; Felipe Cordeiro, Assis (Ramon), Claudinho Baiano, Edílson (Cassiano), Michel Cury e Fabiano (Vítor Hugo); Yan. Treinador: Leonardo Condé.
América: Flávio; Marcos Rocha, Otávio, Gabriel e Rodrigo; Nando, Leandro Ferreira, Luciano e Camilo (Davi Ceará); Fábio Júnior e Thiago Silvy (Daniel Lovinho) . Treinador: Mauro Fernandes.
Árbitro: Ronei Candido Alves, auxiliado por Marconi Helbert Vieira e Pedro Araújo Dias Cotta.
Público pagante: 1.478.
Público presente: 2.015
Renda: R$ 8.924,00
Textos: Ivan Elias e Thiago Stephan
Foto: site do América Mineiro
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