Estádio Mário Helênio: prioridade de uso causa polêmica entre SEL, Tupi e Baeta. Veja todas as posições

Estádio Municipal Radialista Mário Helênio
Foto: Prefeitura de Juiz de Fora/Divulgação

A participação de Tupi e Tupynambás no Módulo 2 do Campeonato Mineiro 2022  foi o pontapé inicial de uma polêmica em Juiz de Fora: a prioridade do uso do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio.

A tabela prevê que na 5ª rodada, prevista para o dia 14 de maio, os dois times joguem em casa: o Tupynambas contra o União Luziense e o Tupi contra o Varginha.

As partidas não poderão ser no Estádio Municipal, que entre os dias 8 e 20 de maio será palco da Festa Country 2022 – autorizado pela Prefeitura.

E ainda referente ao local, em 4 de março deste ano, a SEL publicou no Atos do Governo, que é o Diário Oficial do Municipio, a portaria 5.439, que normatiza o uso do Estádio Municipal por terceiros.

O secretário Marcelo Matta disse em entrevista ao Portal Toque de Bola e à webradio Nas Ondas do Toque que a proposta veio para organizar as diferentes relações de interesse a cessão e o uso de um bem público com potencial multiuso. “Hoje existe uma norma transparente, publicada, onde vai ter um processo a que todos vão ter acesso”.

Em posicionamento enviado ao Toque de Bola, o presidente do Tupynambas, Claudio Dias, considerou que faltou “sensibilidade” e um aviso prévio ao clube sobre a indisponibilidade do local durante um fim de semana na principal competição estadual do clube.

Em nota oficial, o presidente do Tupi, Eloisio Pereira de Siqueira, disse que está tentando um diálogo com a Prefeitura sobre o assunto e defendeu que a prioridade de uso do local é para o esporte.

(nota da redação: O Toque de Bola entrou em contato com a Front Produções, organizadora da Festa Country, e com a Secretaria Municipal da Fazenda, para saber informações sobre o valor cobrado para a cessão do estádio.
O papo com a Front está no final deste post.
O termo de compromisso foi divulgado nesta quinta-feira, dia 10 – veja a seguir)

SEL: “encontrar uma harmonia nessas relações de interesse”

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Foto: Carlos Mendonça/PJF

De acordo com o secretário, Marcelo Matta, a portaria 5.439 é uma iniciativa inédita nos 33 anos de existência do Estádio Municipal, foi construída a partir do levantamento de dados junto aos servidores que atuam no local, com a finalidade de ser um instrumento “transparente e justo” para tratativas institucionais.

O texto prevê quem pode usar o Estádio, em quais condições, os deveres e direitos dos usuários, em quais casos o espaço é cedido e em quais será alugado, além de discriminar o valor a ser pago. Questionado se houve conversas prévias com os possíveis interessados no local, Marcelo Matta, respondeu que a normatização é uma prerrogativa da administração municipal. No entanto, há espaço para diálogo e o texto pode sofrer adaptações.

“É um ato do governo. É uma portaria do governo tentando criar normas iguais para todos, baseado numa lei, numa portaria. Estamos estudando ainda possíveis alterações, o que é normal. Se a gente verificar algum prejuízo, nada nos impede de fazer alguma alteração”.

Festa Country no Mário Helênio

De acordo com a SEL, os organizadores manifestaram pela primeira vez no final de dezembro de 2021 o interesse realizar a Festa Country no Estádio. Foi avaliado por diferentes setores da administração ate ser aprovado, por considerarem que atende à medida anunciada no início da gestão de transformar o local em uma arena multiuso, que repercuta em diferentes setores municipais.

“O desafio nosso hoje é encontrar uma harmonia nessas relações de interesse, de promotores de eventos de clube de futebol, seja da base, seja profissional. A gente não quer prejudicar ninguém, pelo contrário, a gente quer fomentar a cidade. A gente quer fazer o estádio municipal ser mais rentoso. Aquele aparelho não pode ficar parado por tanto tempo, ele gera custo para a Prefeitura. E fazer um evento ali de grande vulto onde você movimenta o hotel, o comércio, o restaurante, os taxistas, isso gera vida pra cidade. Isso gera economia, até o comercio de roupa é movimentado. As pessoas querem ir para a festa com roupa nova, com um adereço novo. Entendo que seja um beneficio para todo mundo”

A festa será nos dias 13 e 14 de maio. O espaço estará fechado entre os dias 8 e 20 para a montagem e desmontagem da infraestrutura necessária para o evento. A festa ocorrerá na área interna e o secretário disse que os organizadores prometeram uma ação específica para proteger o gramado.

Anúncio da Festa Country no Estádio Municipal @frontproducoesjf/ Instagram

“A empresa vai contratar uma outra empresa para cobrir todo o estádio com um tablado de alta tecnologia protegendo todo o gramado. E esse tablado cobrindo todo o gramado, todo aquele espaço interno vai ficar coberto três dias. O piso é o ultimo a ser feito justamente para diminuir o tempo que a grama ficará sem luz. Ele vai ser o ultimo a ser montado e o primeiro a ser desmontado. Acabando a festa, no sábado (14) para domingo (15), já inicia o desmonte. Segundo a empresa promotora do evento, é muito rápido e é muito seguro.”

Marcelo Matta explicou que o contrato, assim como a portaria, preveem as responsabilidades dos organizadores em caso de algum dano à estrutura do Mário Helênio.

“É a primeira vez que isso vai acontecer. Vai servir de exemplo, de estudo de caso. Lá no dia 21, 22, 23 de maio a gente vai ver se teve ou não algum prejuízo. Se tiver, está no contrato que eles são responsáveis pela revitalização do gramado”.

No caso de realização de eventos, que não sejam futebol ou esportivos, o valor da cessão do Estádio Municipal é decidido na Secretaria de Fazenda. Detalhes do contrato ainda não foram divulgados.

“Faltou uma solicitação dos clubes”, aponta secretário

Marcello Matta lembrou que já trabalhou tanto no Tupi quanto no Tupynambas e que não tem nenhum problema com os dois clubes, além de conhecer os bastidores para disputar competições profissionais. E que a situação envolve equilibrar diferentes interesses no local.

“Eu entendo os clubes da cidade, a dificuldade que encontram para participar é compreensível. Mas o papel nosso aqui, vou repetir, é encontrar uma harmonia nessas relações de interesse. É de interesse da Prefeitura realizar um evento dessa magnitude. Os clubes da cidade jogam ali sem onerar, eles não pagam para usar o estádio. A gente sente muito, mas, naquele final de semana, eles vão ter que jogar fora”.

Módulo 2: Tupi joga, vai ter hexagonal
Representantes dos clubes se reuniram em BH

O secretário explicou que não houve uma manifestação prévia da utilização do estádio pelos clubes antes da oficialização no Arbitral do Módulo 2, no dia 23 de fevereiro.

“Em momento nenhum, antes do arbitral, não houve solicitação nenhuma por parte dos dois clubes para o empréstimo para o uso daquele estádio. Tem que deixar claro que aquele espaço é da Prefeitura, não é da Festa Country, não é do futebol, não é dos empreendedores que podem fazer outros eventos. Faltou uma solicitação dos clubes, o pedido de utilização do estádio para levar para o arbitral. Eu já participei de muito arbitral e lá eles perguntam qual estádio seu clube indica para o jogo. Eles indicaram o Mário Helênio, mas em momento algum eles enviaram um oficio, solicitando. Quando eu vi no dia seguinte à ocorrência do arbitral, o mais rápido possível, fizemos um oficio comunicando a previsão e a ocupação do dia 8 ao dia 20-de maio do Estádio Municipal”.

Na entrevista, o secretário disse que organizadores e promotores estão em contato com a Prefeitura para novos eventos no segundo semestre. Já houve demonstração de interesses, mas ainda não há nada definido. Ele reforçou que as portas estão abertas para a busca de um consenso para datas futuras com os clubes.

“Nos próximos anos, existe o interesse, vamos encontrar uma harmonia nessas relações, o estádio é uso misto. Vamos encontrar uma harmonia entre as relações para a realização de eventos culturais como também para eventos esportivos, justificando um aparelho daquele tamanho”.

Tupynambas: “Faltou um pouco de sensibilidade com o tema” 

Em contato com o Toque de Bola, o presidente do Tupynambas, Claudio Dias, explicou que o clube não é contra o multiuso no Estádio Municipal, desde que se preserve o gramado.

Baeta jogou no Mário Helênio no Módulo 2 de 2021

A reclamação é que a Secretaria não avisou aos times antes do arbitral sobre a indisponibilidade de jogos no segundo fim de semana de maio, quando a tabela prevê o jogo em casa contra a União Luziense. “Faltou um pouco de sensibilidade com o tema”, disse ao Toque de Bola.

Sobre não ter solicitado o uso do Estádio, o dirigente reforça que o clube dependia da oficialização da tabela do torneio, que só ocorre após o arbitral, como determina o Estatuto do Torcedor.

Leia a íntegra do posicionamento do Baeta:

O Tupynambás não é contra o Estádio se tornar uma estrutura multiuso, pelo contrário, desde que se preserve o gramado, acho justo, pois é mais uma forma de se beneficiar a população de Juiz de Fora.

Nosso único questionamento é da Secretaria não ter avisado a respeito desta agenda no estádio antes do arbitral, já que o Secretário disse em entrevista que o evento está marcado desde o ano passado. Fomos surpreendidos.

Sendo o Secretário ligado ao futebol, conhecedor das normas da Federação Mineira, e da dependência dos clubes locais, em relação ao estádio, acho que faltou um pouco de sensibilidade com o tema.

Só um detalhe importante, o Tupynambás não pediu a liberação do estádio antes, pois dependemos do Arbitral, que segue o Estatuto do Torcedor, onde consta que a data de início da competição não pode ser inferior a 60 dias após a realização do arbitral. Portanto, não é possível solicitar algo que não é oficial, a não ser que fizéssemos um ofício solicitação o estádio para o ano todo, até sair a tabela oficial”. 

Tupi: “Não somos contra ao que está sendo feito, discordamos sim, de como está sendo feito”

O Tupi divulgou nesta terça-feira, 8, um comunicado oficial assinado pelo presidente Eloisio Pereira de Siqueira sobre a indisponibilidade do Estádio Municipal para jogos de futebol por 12 dias em maio. Na tabela, está previsto que o Carijó receba o Varginha, em partida válida pela 5ª rodada.

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No texto, assim como o Tupynambas, o Carijó disse que foi surpreendido com a suspensão do uso em maio, que poderia ter sido avisada aos clubes. O presidente também afirma que tenta se reunir com a prefeita Margarida Salomão (PT) desde 24 de fevereiro, mas ainda não conseguiu agenda. Reforçando em diferentes pontos que está aberto ao diálogo com a SEL ou a administração municipal sobre a situação.

Eloisio Pereira de Siqueira disse que a portaria 5.439 foi outra surpresa e que impede o time de jogar no Estádio Municipal. Lamentou que o clube não foi ouvido na confecção das normas.

“Uma série de regras e condições foram impostas sem que ao menos nosso clube fosse procurado para apresentar alguma proposta e contribuirmos para que fosse construída uma solução amigável, democrática, participativa, justa e que favorecesse a todos os atores envolvidos com o esporte em geral na cidade. Continuamos em busca do diálogo não havido até a presente data e também em busca de solução das causas que nos impedem, desde a publicação da Portaria 5439-SEL, de 04 de março de 2022 de realizar os jogos do Tupi Foot Ball Club no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio”.

No texto, o dirigente Carijó afirma que não é contrário às medidas, mas à forma como estão sendo feitas. Defende que a prioridade do Estádio Municipal deve ser dada ao Esporte e reforça o impacto de ter que jogar fora para o clube. 

“Um bem público precisa ter seu uso discutido e debatido pela população. Um equipamento público, construído para o esporte, precisa ter essa destinação como absoluta prioridade. (…) Não mandar seus jogos em Juiz de Fora, nesse momento de retomada do clube, nos implicará em incalculáveis prejuízos técnicos, de competitividade e financeiro. O cenário de incertezas nos limita em ações de marketing e relacionamento com o nosso torcedor e reduz a melhoria de receitas para que o clube possa honrar seus compromissos”.

Confira a íntegra do comunicado oficial do Tupi:

Desde o último dia 24 de fevereiro, quando fomos surpreendidos com a notícia de que o Estádio Municipal Radialista Mário Helênio estaria indisponível no período de 8 a 20 de maio, fizemos contato com a Prefeitura Municipal solicitando uma agenda com a chefe do executivo para tratarmos desse e de outros assuntos relevantes para o futebol da cidade como um todo, contudo ainda estamos aguardando a marcação dessa agenda. 

Nesta mesma esteira de surpresas, vimos ser publicada uma portaria da SEL que regula o uso do Estádio Municipal. Uma série de regras e condições foram impostas sem que ao menos nosso clube fosse procurado para apresentar alguma proposta e contribuirmos para que fosse construída uma solução amigável, democrática, participativa, justa e que favorecesse a todos os atores envolvidos com o esporte em geral na cidade. 

Continuamos em busca do diálogo não havido até a presente data e também em busca de solução das causas que nos impedem, desde a publicação da Portaria 5439-SEL, de 04 de março de 2022 de realizar os jogos do Tupi Foot Ball Club no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. 

O Estádio Municipal, um bem público e que pertence a todos os juiz-foranos, precisa sim ter seu uso otimizado, contudo não se deve desprezar a sua essência. A sua concepção inicial foi para o futebol e até a presente data esse foi seu principal uso. 

Fazer diferente é algo que também pertence a atual gestão de nosso clube. Deixamos claro, no entanto, que não somos contra ao que está sendo feito, discordamos sim, de como está sendo feito. 

Um bem público precisa ter seu uso discutido e debatido pela população. Um equipamento público, construído para o esporte, precisa ter essa destinação como absoluta prioridade. 

A Secretaria de Esportes, órgão da Administração Direta, subordinada ao chefe do Poder Executivo é responsável pela execução da política municipal de esportes. Cabe a secretaria sugerir e implantar medidas que fortaleçam o esporte no município. A Secretaria necessita lutar pelo esporte da cidade. 

Não mandar seus jogos em Juiz de Fora, nesse momento de retomada do clube, nos implicará em incalculáveis prejuízos técnicos, de competitividade e financeiro. O cenário de incertezas nos limita em ações de marketing e relacionamento com o nosso torcedor e reduz a melhoria de receitas para que o clube possa honrar seus compromissos. 

Sobre a indisponibilidade de maio, conforme nota da própria Secretaria, tal situação já estava definida desde o ano de 2021, entendo o clube que, numa situação de deferência e respeito com a entidade tal situação já poderia nos ter sido comunicada. 

Salientamos também que, a partir da publicação da já citada portaria, jogos importantes do nosso clube e de outras equipes profissionais da cidade poderão ser realizadas em outras cidades, em razão do não uso prioritário do estádio para atividades esportivas. 

A colocação em pé de igualdade para uso de um equipamento público concebido para o esporte, notadamente o futebol, em relação a eventos diversos, na realidade, nos coloca em situação de desigualdade, tendo em vista que citados eventos podem ser realizados em diversos outros lugares, diferentemente do futebol que exige-se no mínimo um campo de futebol. 

Importante salientar que as chamadas “Arenas Multiuso” existentes em nosso país são bens privados ou, quando públicos são repassados através de concessões pelo poder público a entes privados que são os responsáveis, na maioria dos casos, pela construção e  total manutenção daquele espaço por determinado período, diferente do nosso ESTÁDIO MUNICIPAL. 

Por derradeiro, reitero nosso posicionamento de estar aberto a um diálogo respeitoso, que contribua sempre para a evolução do futebol em nossa cidade.

Fraternalmente,

Eloisio Pereira de SiqueiraFP:

Presidente

Front: nova possibilidade

Confira as respostas da Front Produções, por meio da assessoria, ao Toque de Bola:

Toque de Bola (TB): Como surgiu a ideia de levar a Festa Country para o Estádio Municipal?

Front Produções (FP): O Estádio é um dos equipamentos locais possíveis de abrigar o tamanho da festa. Diante da inviabilidade estrutural do Parque de Exposições, tivemos que buscar essa nova possibilidade.

TB: Como foram as negociações com a Prefeitura?

FP: A organização da Festa Country seguiu todos os trâmites legais junto à Prefeitura  de Juiz de Fora para solicitar e viabilizar a realização do evento no Estádio Municipal.

TB: Qual será o valor a ser pago pelos 12 dias que o Estádio está cedido aos organizadores para a montagem, evento e desmontagem da infraestrutura? 

FP: O contrato firmado com a Prefeitura é público e se encontra publicado no portal oficial do órgão municipal.

TB: Como veem a Portaria 5.439 da Prefeitura sobre o uso do Estádio e a proposta do governo municipal de que o local seja um estádio multiuso?

FP: A cidade só tem a ganhar com mais esse espaço

TB: Quais as expectativas para a realização do evento?

FP: Vamos entregar uma Festa Country inédita para a cidade.

TB: Há possibilidade de levar para lá outros festas?

FP: Estamos empenhados em construir uma Festa Country surpreendente e esse é nosso foco hoje. Mas está em nosso core trazer sempre eventos diferenciados e, com o Estádio liberado agora para multiuso, vamos passar sim a considerá-lo para novas oportunidades, mas nada ainda concreto.

 

Texto: Toque de Bola (atualizado 13h48 do dia 9 de março) – Ivan Elias e Roberta Oliveira

Fotos: Prefeitura de Juiz de Fora/Divulgação; Carlos Mendonça/PJF; @frontproducoesjf/Instagram; FMF/Divulgação; TVNSports/reprodução; Ivan Elias/Toque de Bola

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