Após o fim das Olimpíadas, o Toque de Bola perguntou a três professores do Centro Universitário Estácio de Juiz de Fora e de São Paulo que acompanharam os Jogos Olímpicos de Tóquio quais foram as lições que a competição deixou para o país.
Ao final da disputa, que inverteu o fuso horário dos torcedores, o Brasil terminou com 21 medalhas: sete de ouro, seis de prata e oito de bronze. No total, a melhor campanha da história, superando os 19 pódios na Rio 2016. E igualando o número de ouros também conquistados há cinco anos.
O professor de História, Celso Ramos e o coordenador do curso de Educação Física da Estácio em São Paulo, Marcelo Lourenço; além do professor do curso de Direito do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Ricardo Braida, avaliaram o evento esportivo para o Toque Livre, da webradio Nas Ondas do Toque. Confiram os destaques apontados por eles.
Amor entre Brasil e Japão
O melhor desempenho da história brasileira nas Olimpíadas ocorre no país asiático. O Doutor em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor do curso de Direito, Ricardo Braida ressalta os laços existentes entre os dois países
“O Brasil se supera faz um ciclo olímpico que tem uma melhora que, para nós, é significativa. E mais uma vez, isso se dá no Japão. Se a gente lembrar, o Brasil foi campeão do mundo em 2002 no Japão, o Ayrton Senna tinha uma relação muito própria com o Japão, de fanatismo na época da McLaren. O Brasil tem essa relação quando vai em jogos nesse país asiático”, afirmou.
Mulheres, sexismo e saúde mental nos Jogos Olímpicos
Os três aspectos positivos elencados pelo professor de História Celso Ramos se referem a temas que ganharam os holofotes: o desempenho das mulheres, o questionamento sobre tradições das modalidades e o fato de que os atletas são humanos.
“Com relação a aspectos positivos, eu destaco o protagonismo feminino: Rebeca Andrade, a Martine e a Kahena, Ana Marcela, a Rayssa, a Mayra, Laura e Luisa, o vôlei feminino, a Beatriz Ferreira. Além disso, a equipe alemã de ginástica, ao mudar os trajes e usar vestes que cobriam mais o corpo, fez um protesto contra a exploração do corpo, sobretudo o feminino”.
Ele também apontou a constatação óbvia da humidade dos atletas entre os pontos positivos das Olimpíadas de Tóquio.
“Foi importante a Simone Biles ter chamado a atenção para a sobrecarga que os atletas de alto rendimento sofrem. A gente tem a impressão de que são super-heróis, mas são seres humanos, sujeito à pressão como todos nós”, ressaltou Celso Ramos.
Espaços para mais esportes
O futebol masculino ganhou o ouro, no entanto, o coordenador do curso de Educação Física da Estácio, Marcelo Lourenço chama a atenção para o interesse despertado por esportes que também trouxeram bons resultados.
“O balanço é extremamente positivo. A gente tem um desenvolvimento melhor de diversas modalidades que não estão na mídia, que não têm tantos adeptos nem tanta divulgação. É fundamental esse desempenho dos jogos olímpicos porque ganhando esse tipo de exposição, conseguem mais adeptos, mais praticantes e, consequentemente, os resultados no futuro podem acontecer”, afirmou Marcelo Lourenço.
Falta de público
O professor de História Celso Ramos ressalta que, apesar de inevitável diante da necessidade de restrições contra a covid-19, os espectadores fizeram falta nas arenas, quadras, estádios e piscinas nas Olimpíadas.
“Chamo a atenção negativamente para a ausência de público. Não tinha como impedir que esse fato acontecesse por conta justamente da pandemia. A minha sensação enquanto espectador é que isso esfriou um pouco as competições. Diferentemente da Rio-2016, basta lembrar da situação do salto com vara em que o francês que disputava medalha com o brasileiro chegou a se queixar da participação do público, que intervinha como se estivesse numa partida de futebol, que é o perfil da torcida brasileiro”, disse Ramos.
Avaliar resultados nas Olimpíadas sem ufanismo
O professor de História Celso Ramos observa o resultado do quadro de medalhas diante de uma perspectiva mais crítica. Para ele, é necessário ponderar as variáveis que levaram às 21 medalhas.
“Evidenciou o fracasso do nosso projeto olímpico. Se não o fracasso, pelo menos, nós não aproveitamos adequadamente todo o investimento feito para Rio-2016 no intervalo até estas Olimpíadas. Não podemos ver de maneira muito ufanística esse desempenho de medalhas. São quatro medalhas a mais, mas de esportes que entraram: o surfe e as três medalhas do skate. Se não, o desempenho seria menor até que o de 2016”, analisou.
E o futuro?
O coordenador do curso de Educação Física da Estácio, Marcelo Lourenço, disse que o país não pode se iludir acreditando que está tudo ótimo relacionado aos esportes olímpicos no Brasil. Ele destacou a necessidade de investir e potencializar os pontos positivos da campanha em Tóquio-2020 visando Paris-2024.
“Pensando no olimpismo do Brasil, é um estímulo, mas a gente ainda está longe das grandes potências, porque a gente não tem uma cultura esportiva. Agora é trabalhar o esporte de base, principalmente o esporte escolar, para fomentar todas essas modalidades que tiveram apelo na mídia e ganharam muitos seguidores. A gente precisa pensar o que a gente vai fazer com todo esse benefício e não ficar encostado, porque se não a gente vai continuar no mesmo lugar ou até cair”, comentou.
O professor Ricardo Braida também ponderou sobre o que o Brasil poderia ser se o esporte estivesse entre as prioridades sociais das autoridades.
“Sempre fica a questão quando encerra os jogos: qual seria a nossa potência se de fato investíssemos no esporte, no esporte como um elemento essencial da nossa cultura, da nossa educação, do nosso lazer, como uma forma de mudança da própria sociedade? A gente não consegue ter essa resposta. Mas é sempre muito bom pensar e levar de alguma forma a esperança de que um dia possamos demonstrar essa nossa potência com a devida dignidade que os atletas merecem, porque todos que participaram dos Jogos são bravos”, finalizou.
Medalhistas do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio 2020
Ouro
- Ítalo Ferreira – surfe;
- Rebeca Andrade – salto;
- Isaquias Queiroz – canoagem C1 1.000m;
- Martine Grael e Kahena Kunze – vela classe 49er FX;
- Ana Marcela Cunha – maratona aquática;
- Hebert Conceição – boxe na categoria peso-médio 69-75 kg;
- Futebol masculino.
Prata
- Rebeca Andrade – individual geral;
- Beatriz Ferreira – boxe peso leve feminino até 60 kg;
- Rayssa Leal – skate street;
- Kelvin Hoefler – skate street;
- Pedro Barros – skate park;
- Vôlei feminino.
Bronze
- Abner Teixeira – boxe na categoria pesada 91 kg;
- Alison dos Santos – atletismo 400 metros com barreira;
- Laura Pigossi e Luisa Stefani – tênis dupla feminina;
- Thiago Braz – atletismo salto com vara;
- Fernando Scheffer – natação 200 metros livre;
- Bruno Fratus – natação 50 metros livres;
- Mayra Aguiar – judô na categoria até 78 kg;
- Daniel Cargnin – judô na categoria até 66 kg.
Texto: Toque de Bola – Roberta Oliveira
Fotos: Jonne Roriz/COB; Daniel Ramalho/COB; COB/Divulgação