Em meio à pandemia do novo coronavírus, Juiz de Fora perdeu uma das grandes figuras do esporte local e que estava à frente da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL), Júlio Gasparette. Nesse contexto, assume interinamente o cargo aquela que era o braço direito do então secretário, Leila Machado.
Com a difícil missão de conduzir a SEL em meio a uma crise de proporções mundiais, os projetos e atividades da Secretaria parcialmente paralisados, a nova secretária de Esporte e Lazer de Juiz de Fora tem desafios, novos e antigos, a cumprir e sabe disso.
Para saber um pouco mais do que pensa e trazer suas ideias, o Toque ouviu a nova titular da pasta esportiva local e traz a seguir seu perfil e projeções para o cenário das modalidades na cidade.
Perfil
Funcionária pública concursada da secretaria de Educação, Leila Machado está há 26 anos na administração municipal. Desde 2013 na SEL, a nova secretária interina de Esporte e Lazer era secretária de gabinete. Na gestão de Júlio Gasparette, por conta de seu conhecimento dos processos da pasta, de gestão pública e legislação, ganhou mais espaço, assessorando o então secretário em projetos esportivos e reformulação de leis.
Após o falecimento de Júlio, Leila foi naturalmente encaminhada à função. Por enquanto, Leila machado ocupa interinamente a titularidade da pasta esportiva local, mas isso não a deixa de forma nenhuma paralisada, mesmo em meio à pandemia.
– Você assume a SEL em um momento difícil no contexto pessoal e de cidade, estado e país com a pandemia. Como você encara esse desafio? Há um prazo definido para ficar à frente da Secretaria?
– Realmente é um dos momentos mais difíceis e desafiadores da minha vida profissional e pessoal. Porque não tem como separar as duas coisas quando se fica mais no seu local de trabalho do que em casa. Com a pandemia e a suspensão das atividades esportivas, a SEL parou. Então, começar a traçar outros caminhos foi complicado a princípio. Mas rapidamente envolvemos os professores para começarem a gravar vídeos para seus alunos e criamos o #SelemCasa. Deu muito certo, mas nesse meio tempo Júlio (Gasparette) é internado e, em alguns dias nos deixa subitamente. Novamente uma insegurança e agora somada à dor da perda do nosso maior incentivador. Eu encaro esse desafio como um grande marco na minha trajetória profissional, principalmente por estar levando à frente um legado de um homem apaixonado pelo esporte. Estou como secretária de Esporte e Lazer interinamente, então não posso precisar o prazo que estarei à frente da SEL.
– Quais suas principais metas?
– Minhas principais metas, dentro do que podemos traçar em meio à atual situação de pandemia e dentro do que for possível realizar a nível de administração pública, já estão em fase de construção: memorial esportivo da SEL; Plano Municipal de Esportes; Projeto do Ginásio Poliesportivo Jornalista Antônio Marcos; atualização de algumas leis esportivas que encontram-se em desencontro com a atual situação; protocolo de retorno das atividades esportivas; mapeamento dos alunos do grupo de risco; projeto de restauração de equipamentos esportivos; formação profissional para os professores.
– A SEL teve, por ordem da Saúde, que paralisar atividades presenciais. Mas descobriu formas novas de interagir nos núcleos e no esporte de participação, não é?
– Assim como outras atividades o esporte sofreu muito com a pandemia, tendo suas atividades completamente paralisadas. Mas a SEL, através de seus professores se reinventou e criamos #SelemCasa, onde os professores disponibilizavam seus vídeos de atividades possíveis de serem realizadas com segurança pelos alunos, disponibilizados na página da PJF e YouTube, tentando suprir um pouco da falta das atividades que eram desenvolvidas nos mais de 60 núcleos esportivos da SEL. Além disso, são realizadas lives com nomes de destaque no esporte local e nacional, vídeos e questionários para os alunos no Whatsapp.
– No cenário atual, quais as possibilidades e perspectivas de retorno das atividades esportivas na cidade? Do que depende esse retorno?
– No cenário atual, as possibilidades e perspectivas de retorno das atividades esportivas na cidade dependem da evolução das ondas do Minas Consciente, bem como da avaliação do Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à pandemia. Ambos seguem os critérios epidemiológicos e alguns indicadores assistenciais.
– No contexto da pandemia, o Toque fez uma série com os clubes esportivos e sociais em Juiz de Fora, que vivem um drama. Há perspectiva para a volta das atividades, tanto de treinamento como de frequência social em lugares como AABB, Bom Pastor, Sesi, Cascatinha, Sport, etc? Como a SEL pode colaborar com as associações locais no sentido de não fecharem de vez as portas?
– O planejamento é fazermos uma reunião on-line com os clubes esportivos e sociais para, primeiramente, acolher suas angústias e expectativas e também para construirmos juntos sugestões de protocolos de retorno, para quando chegarmos na onda que nos permita esse avanço. Acho importante que cada um dentro de sua realidade possa contribuir na construção desses protocolos. Entendemos as dificuldades econômicas pelas quais os clubes estão passando, e ainda da importância dos clubes esportivos e sociais na saúde física e psíquica de seus associados. Mas precisamos ter responsabilidade social para pensarmos em um retorno seguro para todos.
– Especificamente, os dois clubes de futebol profissional da cidade, Tupynambás e Tupi, teriam competições a cumprir a partir de meados de setembro. Em um futuro próximo é possível liberar treinos e jogos de ambos em Juiz de Fora? Do que depende isso?
– Com relação ao futebol profissional, a SEL construiu uma sugestão de protocolo para os jogos, baseada nos protocolos oficiais da FMF e CBF, que deverá ser submetido à apreciação do Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19.
– Como está a situação das competições promovidas tradicionalmente pela SEL, com destaque para o Ranking de Corridas de Rua, os Jogos Intercolegiais, a Semana Paralímpica e as copas de futsal e futebol? Ainda há possibilidade de serem realizadas em 2020, mesmo em formatos diferentes? Ou só deverão voltar a ocorrer após uma vacina, possivelmente em 2021?
– É altamente emblemático falarmos em retorno de eventos e competições como Ranking de Corridas de Rua, Corrida da Fogueira, copas de futebol, futsal e outros eventos esportivos que envolvem grande aglomeração de pessoas. Assim como fica difícil pensar na realização dos Jogos Intercolegiais com as escolas fechadas. Mas ainda assim, os técnicos da SEL estão pesquisando e elaborando sugestões de protocolos e sugestões de adaptações na forma virtual para o que for possível de realizar e de atingir seu público alvo.
– Em entrevista recente à Rádio CBN, você citou a evolução e quase término do Plano Municipal de Esportes na cidade como um dos avanços proporcionados por essa paralisação da pandemia. Como ele caminhou? Em que fase se encontra? Quais os principais pontos deste planejamento e como coloca-los em prática?
– O momento, embora crítico para o esporte, oportunizou essa retomada do Plano Municipal de Esportes, a partir de uma atualização do diagnóstico esportivo traçado anteriormente. Mas requer ainda um caminho a ser percorrido até chegarmos ao texto final para aprovação. Nossa meta é entregá-lo ao prefeito antes do final do ano. O Plano baseia-se em eixos norteadores tais como: políticas públicas e sociais de incentivo ao esporte e ao lazer; infraestrutura esportiva; formação, capacitação e valorização profissional; esporte de alto rendimento; esporte paralímpico; Fundo Municipal de Apoio ao Esporte (Fumape); e desenvolvimento social, econômico e científico do esporte e do lazer. O Plano Municipal de Esportes será um instrumento legal de grande importância para o esporte da cidade, e colocá-lo em prática deverá ser uma ação conjunta entre a SEL, o Conselho Municipal de Desportos (CMD) e o poder público municipal.
– Como a SEL pode atuar para que a política esportiva, em consonância com o CMD, consiga gerar financiamento perene para as iniciativas locais? Dentro deste contexto, como está o Fumape? Com que verbas ele conta atualmente? Qual processo esportistas e equipes devem cumprir para fazer jus ao financiamento através dele?
– A Lei de Criação do atual CMD foi uma iniciativa da SEL, com o objetivo da cidade receber recursos do ICMS Esportivo, uma vez que o CMD encontrava-se regido por um decreto. Outro avanço foi torná-lo paritário, com metade dos membros da sociedade civil e metade dos membros do governo. A consolidação de um Conselho ativo e participativo é de grande importância para implementar políticas públicas para o esporte da nossa cidade. Quanto ao Fumape, atualmente ele conta com os recursos advindos das cobranças da alíquota prevista na Lei, dos eventos esportivos que têm interveniência da SEL. Para que os atletas e entidades possam inscrever seus projetos, o CMD deverá aprovar um edital com os critérios para a inscrição.
Texto: Toque de Bola – Wallace Mattos
Fotos: arquivo pessoal; e Facebook SEL