Entrevista exclusiva: Giovane abre o jogo para o Toque de Bola

Juiz de Fora (MG), 21 de maio de 2011

O juiz-forano Giovane Gávio está comemorando de novo. Agora no comando da equipe do Sesi, na capital paulista, é campeão da Superliga Masculina de Vôlei – o primeiro brasileiro a vencer a competição como atleta e como treinador.

Como jogador, o currículo impressiona. Considerando só a seleção brasileira, foi bicampeão olímpico (1992-2004) e várias vezes campeão da Liga Mundial e campeão da Copa do Mundo, Individualmente, foi eleito Atleta do Ano do vôlei (COB – 2003), melhor atacante do mundo (Copa do Mundo de 2003), melhor jogador do mundo (Liga Mundial de 1993) e melhor bloqueador do mundo (Copa do Mundo de 1989).

É esse Giovane predestinado, que talvez não por acaso nasceu num 7 de setembro e não parou mais de cantar o hino nacional no pódio, que concedeu entrevista exclusiva ao blog, numa forma que encontramos para agradecer à imensa receptividade de todos ao novo veículo de comunicação do esporte local.

Ele começou a praticar esportes com o judô no Colégio dos Jesuítas e na Ameiji e depois seguiu para o vôlei, no Jesuítas e no Clube Bom Pastor. Do Bom Pastor ao Banespa, aos 16 anos, dali para as seleções de base, e dali para esse currículo todo.

TB: Quando você decidiu que seria treinador? Foi amadurecendo a decisão aos poucos ou nos últimos anos como jogador de certa forma se preparou para isso?

Giovane: Pouco antes de encerrar minha carreira de jogador tinha já a idéia de me tornar técnico. Quando parei recebi uma proposta da Unisul, em Santa Catarina, para gerenciar um projeto de esporte e fiz por um ano e meio. Então veio a oportunidade de me tornar treinador e assim assumi a equipe da própria Unisul em Joinville (SC).

TB: O que você fez especificamente em relação a cursos ou estágios para assumir a função de técnico?

Giovane: Fiz um curso de treinadores da CBV, que me proporcionou a chance de receber a carteira do CREF.

TB: Há quantos anos você é treinador?

Giovane: Essa última foi minha quarta temporada como técnico.

TB: Como foi a sua conversa com o pessoal do Sesi/Fiesp. Foram colocados prazos, metas, o que foi conversado e o que foi atingido?

Giovane: O Sesi tem uma visão muito diferente de todos os patrocinadores que já tive, aqui o resultado dentro das quadras é importante mas não o principal, fazemos um trabalho muito bonito com as escolas do Sesi espalhadas por todo o estado de São Paulo. Através do exemplo é que realizamos nossa maior missão aqui no Sesi. Passamos valores a quase 190 mil crianças. Valores que o esporte tem e que acreditamos serem muito fortes para a juventude.

TB: Percebemos, especialmente na partida final da Superliga, que em muitos pedidos de tempo você escutava mais os atletas que propriamente falava. É o seu estilo, ocorreu mais por ter sido o jogo final? Fale um pouco sobre isso, por favor, que chamou a atenção de quem viu pela TV.

Giovane: Tenho o privilegio de comandar uma equipe muito boa, com alguns dos melhores jogadores do mundo. Estávamos jogando bem a final e não precisava mudar nada no esquema tático, os tempos técnicos foram usados para potencializar o que eles estavam fazendo de certo, por isso todos compartilharam suas idéias. De uma certa forma sou muito democrático com minha equipe, não poderia ser diferente com a qualidade dos jogadores que tenho. Ter a ajuda deles nesse momento é muito importante para meu crescimento.

TB: Você já teve problemas com ex-companheiros como comandante de equipes? Foi coisa mais séria ou normal, do dia a dia do esporte mesmo?

Giovane: Às vezes tenho que tomar decisões que não agradam e estou sujeito a esse tipo de situação. Pelo grupo faço o que tiver que ser feito, para o melhor andamento do time.

TB: Você disse, em entrevista ao Jornal Nacional, que aprendeu um pouco com cada treinador: Jorjão (Jorge Barros), Bebeto de Freitas, José Roberto Guimarães e Bernardinho. Poderia destacar uma característica marcante em cada um deles?

Giovane: Tive a oportunidade de trabalhar com os melhores técnicos do Brasil. Jorjão, grande treinador, muito bom no trabalho do dia a dia. Bebeto, um grande estrategista. José Roberto, muito humano e amigo. Bernardo não tem conversa, muito treino e muito trabalho.

TB: Qual característica que você gostaria que as pessoas identificassem nas equipes que você dirige? Por exemplo, os times de Giovane são “rápidos”, “frios”, “inteligentes”, alo assim?

Giovane: Minhas equipes têm características de guerreiras, que lutam muito pelo jogo, que conversam muito e resolvem os problemas com trabalho.

TB: E Juiz de Fora? Você nunca escondeu que gostaria de “tocar” algum projeto ligado ao vôlei na cidade. Acha que é viável, ou hoje seria um sonho distante?

Giovane: Tenho muito carinho por Juiz de Fora, mas nunca consegui realmente eu próprio tocar algum projeto, estou aberto sempre a ajudar mas minha vida me obriga a manter quase 100% do meu foco aqui no projeto do Sesi. Quem sabe no futuro!

TB: O que mais você lembra dos seus tempos de jogador em JF, na escola ou no clube?

Giovane: Lembro de tudo. Foi uma época muito importante e divertida da minha carreira, tive sorte de ter professores de Educação Física que me incentivaram na prática do esporte. Do meu primeiro professor de judô Jeferson (Vianna), da Ameiji, o Dario (Dario Pereira da Silva Filho), no Colégio dos Jesuítas e o Flávio Villela no Clube Bom Pastor. Realmente essas pessoas foram especiais na minha vida.

TB: Na mesma entrevista, você toca no assunto treinar a seleção, mas reconhece que falta muito. Acha que em quanto tempo estaria preparado?

Giovane: Todo o aprendizado de um técnico é através de experiências vividas, leituras e do dia-a-dia, sendo assim tenho que rodar, seguir em frente e, quem sabe um dia, a oportunidade de comandar uma seleção chegue.

TB: Desde a geração anterior à sua, o vôlei masculino brasileiro está no topo. Por quanto tempo você acha que dá para manter essa liderança? Acha que está condicionado à permanência de Bernardinho, ou é mais a seriedade das seleções de base que dá continuidade?

Giovane: O vôlei no Brasil atingiu a excelência em todos os aspectos e teremos bom voleibol por muito tempo. O Bernardo é um dos melhores técnicos do mundo e enquanto ele estiver no comando da seleção é uma certeza que teremos bons resultados.

TB: Quais os próximos passos do Giovane treinador? Pensa em ser dirigente mais adiante ou o “escritório” seria muito sem graça para quem se acostumou com a adrenalina?

Giovane: Os próximos passos são seguir com o projeto do Sesi rumo ao Mundial de Clubes, e continuar com minha universidade!

TB: Algum (ns) de seus filhos está jogando (bem) vôlei?

Giovane: Meus dois filhos, a Giulia, 14 anos, e Gianmarco, 13, estão jogando vôlei no Flamengo no Rio e acredito que tem futuro!

TB: Valeu, Giovane, obrigado pela entrevista e (mais) sucesso.

Giovane: Um forte abraço a todos e muito obrigado pela torcida!

Edição: Ivan Elias

Fotos: Site da Confederação Brasileira de CBV e web

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