Em sua primeira vez fora do Rio, Aílton diz que Ricardo Leão vai “tocar o barco” no início e foca nos três próximos jogos

Assim que chegou ao estádio Salles Oliveira, novo técnico Aílton já enfrentou um “corredor polonês” ao passar entre os jornalistas que o aguardavam para a coletiva

Passava das 15h quando ele chegou ao estádio  Salles Oliveira, em  Santa Terezinha. Com vários jornalistas ocupando o espaço que  ele teria obrigatoriamente que passar, próximo ao vestiário da equipe visitante do antigo alçapão carijó, o novo treinador  carijó, ex-jogador Aílton Ferraz, brincou com a situação: “Poxa, mal cheguei e já estou num corredor polonês?”  E abriu um largo sorriso, antes de se preparar para  a primeira sabatina.

   O ex-meia tem uma carreira como jogador marcada por muita entrega em campo e por participar de  gols decisivos, históricos e consecutivos –  os mais lembrados são a jogada espetacular que resultou no gol de barriga do Fla-Flu de 1995 – título estadual para o Fluminense – e o tento do título brasileiro um ano depois, com a camisa do Grêmio, quando entrou no segundo tempo e anotou o  gol da conquista  já nos instantes finais, contra a Portuguesa (SP), no então Estádio Olímpico, em Porto Alegre.

  Como treinador, brincou com sua disponibilidade para aceitar o convite – “treinador  desempregado assiste a todos os estaduais”, respondeu quando questionado se vinha acompanhando o Campeonato Mineiro recentemente – e disse  que vai cobrar dos jogadores um pouco mais da entrega que o caracterizou como jogador –  até citou como exemplo o Tricordiano, próximo adversário carijó, que  ele viu na primeira rodada –  derrota para o Cruzeiro. Revelou que, em sua primeira experiência extra-campo fora do estado do Rio de Janeiro, num primeiro momento, vai dividir as responsabilidades com o auxiliar técnico Ricardo Leão, que esteve cotado para assumir a vaga de Éder Bastos.

 Se o torcedor, preocupado com a pontuação que hoje deixa a equipe na zona de rebaixamento, mira os dois próximos jogos  – depois do Tricordiano, o time recebe a URT, Aílton incluiu o terceiro compromisso da  sequência também como jogo-chave – Caldense, em Poços de Caldas. Lembrou a passagem do filho, o atacante Crys, no elenco carijó campeão brasileiro da Série D em 2011, e disse que viu váarios jogos, meio que escondido, na arquibancada  do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio.

   Sobre o relacionamento com os jogadores, disse que não gostava, enquanto atleta, do “será que eu vou jogar”? Adiantou, ainda, que embora tenha por norma o respeito e o diálogo, não terá problemas em ser enérgico quando a situação exigir.

   Fim de papo, o novo comandante já seguiu para o campo. No primeiro coletivo, com as alterações indicadas por Ricardo Leão,   os titulares trabalharam com Lucas na lateral-direita, na vaga do improvisado Euller. Os experientes Leandro Ferreira  e Jajá, que entraram no segundo tempo na derrota para o Cruzeiro, também estavam na equipe principal, saindo Juninho e Carlos Júnior.  Com as mexidas, o primeiro  esboço da nova formação ficou com:Lucas, Elivelton, Edmário e Bruno Santos; Marcel, Leandro Ferreira e Bonilha; Matheus Pato, Jajá e Caça-Rato. Quanto ao goleiro, o  revezamento não deixou pistas sobre  um eventual afastamento de Gideão, camisa 1 que ficou muito tempo afastado dos gramados antes de vestir o uniforme carijó nesta temporada.

   Apresentação de  Aílton pelo dirigente José Roberto Maranhas 

Desde sábado fomos procurando, pesquisando, trocando ideias com toda a diretoria, e com o Francis (Melo), que tem nos ajudado muito nesse sentido também nesse ano. Chegamos nesse consenso. O nome do Ailton foi extremamente bem-vindo. É um perfil de treinador que vocês já estão acostumados no Tupi como: Léo Condé, Felipe Surian e Ricardo Drubscky. Ele tem esse perfil de treinador, tranquilo e sereno. Extremamente educado, não só com a imprensa, mas, como toda a diretoria e jogadores. É um profissional de um conhecimento muito bom, um cara que está fazendo curso, atualizado, e é um treinador que já está galgando alguns espaços do Rio. Teve um trabalho muito interessante no Resende, que é um clube muito parecido no futebol com o Tupi.”

Treinador e o dirigente José Roberto Maranhas    

   Entrevista coletiva de apresentação de Ailton Ferraz–  Treinador do Tupi

 Como que você chega e assume a equipe que após a terceira rodada teve um treinador que foi mandado embora? E o poder de reação tem que ser rápido. Todo mundo fala que o Campeonato Mineiro é tiro curto. Como você assume o tupi?

       “Bem, eu acho que não é só o Mineiro que é curto, o Carioca está mais curto ainda, porque são cinco jogos. Eu venho muito motivado sabendo o que vou enfrentar. Não é desesperador, falei isso para o pessoal, mas também não é um momento de tranquilidade. Acho que é um momento de trabalho, de alerta. A luz vermelha piscou para que a gente consiga sair dessa. Temos três decisões: primeiro jogo contra o Tricordiano, depois URT em casa, e depois a Caldense. Esses três jogos são fundamentais para nós, temos que trabalhar bem na semana para obter os resultados.”

Você tem acompanhado os jogos do Tupi?

      “Treinador desempregado assiste todos os campeonatos, tem que estar ligado em tudo, sem duvida é um campeonato misturado. Eu comparo o Mineiro a um pouco do (Campeonato) Gaúcho e um pouco do Carioca, é uma pegada com qualidade. É um campeonato forte, muito diferente do Carioca, eu já acompanho há um bom tempo. Sempre tive um sonho de sair do Rio de Janeiro. Fiz bons trabalhos no Rio, chegou meu momento fora da cidade carioca. E eu espero que possamos conseguir ter êxito como tive em outros clubes, sem dúvida aquilo que eu falei, o trabalho.  Colocando na cabeça dos jogadores, porque o foco maior são os atletas. Eles precisam focar mais para os jogos, e isso vai ser passado também, para que a gente consiga os resultados.

      Eu estou muito feliz, muito empolgado mesmo. O ruim para o treinador é quando está em casa, mas quando ele vem trabalhar pode ter certeza que não vai faltar trabalho. Não vai faltar o diálogo com a imprensa, graças a Deus sou muito educado para isso. E como foi falado, estudando bastante. O  tempo que estive sem clube terminei a licença A da CBF, fiz curso de Coach, estava começando o de gestão. Agora, se a bola não entrar, nada disso adianta. Sabemos que podemos dar o melhor treino, ser o melhor gestor, mas se a bola não entrar, nada disso conta. Então vamos trabalhar para que a bola entre.”

Como sua experiência de um jogador que teve muita rodagem pode ajudar um clube com muitos garotos?

       “Acho que está bem mesclado. No plantel temos, se não me engano, entre dez a onze atletas de 29 a 30 anos e um de 36 anos. Essa mesclagem foi muito boa, gostei bastante. Temos um pouco de experiência dentro de campo e fora de campo também para poder ajudar a equipe. Eu vim para Juiz de Fora para tentar ajudar, sei da importância que é fazer um bom campeonato e esse bom campeonato nunca se faz sozinho.

       Falei com Ricardo (auxiliar Ricardo Leão, que já estava no clube com o ex-treinador Éder Bastos) da importância dele nesse primeiro momento. Assim que conversamos pelo telefone, falei com ele: “Meu amigo, você pode tocar o barco que vou estar junto nesse momento inicial”. Mas, eu sou sereno no momento que tem que ser sereno, tem horas que temos que ser mais firme, mas não ignorante. Acredito que tem a maneira de você ser firme  com o atleta sem mexer com a parte que vai desanimá-lo. Procuramos muito estar focado nisso, em termos da mente do atleta, para que ele sempre esteja focado para o alto e nunca com o foco em outras coisas, como: “Será que vou jogar? Será?” Esse será é muito ruim para o atleta, como eu fui. Eu tinha muita dificuldade nisso.”

Trabalho com Ricardo Leão

     “Eu conversei muito com o Ricardo.  Ricardo tem total confiança em mim e eu também, eu confio muito nas pessoas, e o que eu puxei para mim do  Ricardo é que ele é um cara muito íntegro e muito sério.  E nesse primeiro momento vou deixar ele tocar, mas sempre estando junto, a responsabilidade é minha. Vou deixar ele ficar a frente porque ele já conhece bastante o grupo e eu vou ficar um pouco observando mais, para ver o que a gente tira. Conheço alguns atletas, é lógico, estamos no futebol há muito tempo, mas nesse primeiro momento eu vou deixar com que o Ricardo faça essa situação.”

  O fato de você ter sido um jogador com uma história, de gols decisivos. faz com que você seja mais respeitado pelos jogadores?

Atacante Crys, filho do técnico, defendeu o Tupi em 2011 e hoje é pastor

       “Existe um respeito. Quando ele (jogador) vê alguém de peso, existe um respeito até na hora de cobrar uma situação, porque quando você cobra dele você vai lá e faz,executa. Então, você vê um respeito maior sobre isso. Mudando um pouco de assunto, é uma alegria estar aqui porque meu filho jogou aqui, ele foi campeão pelo Tupi em 2011. É uma total alegria, ele ficou muito feliz e falou: “Poxa pai, legal, passei por lá e fui campeão”. Então, juntando tudo isso, eu tenho certeza que pegando a parte positiva dele trazendo para o clube, vamos fazer uma boa campanha” (Depois da coletiva, ele confirmou ao Toque de  Bola que o filho, atacante Crys, que integrou o elenco campeão da Série D pelo Carijó, deixou a carreira há dois anos e hoje é pastor) .

 

 

 

Texto: Ivan Elias – Toque de Bola

Fotos: Toque de  Bola e Divulgação

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