Desta vez, não deu para contar nos dedos as chances criadas pelas duas equipes. Pelo contrário. A necessidade de vitória de ambos tornou Tupi 5 x 1 Paysandu a partida mais movimentada e com maior volume de jogo entre as três disputadas pelo Tupi em sua inédita participação na Série B.
Por incrível que possa parecer – e o treinador carijó Ricardo Drubscky manifestou essa opinião na entrevista coletiva, o placar elástico mascara uma partida difícil e equilibrada, o que pode ser atestado em duas situações – com o placar em 3 a 0, o Paysandu diminuiu aos 29 do segundo tempo e criou boas chances para diminuir ou igualar. E o quarto e o quinto gols do Tupi foram assinalados depois dos 43 minutos da etapa complementar.
Salto na tabela e saldo positivo
Para o torcedor alvinegro, os números e as estatísticas (o Papão teve 67% de posse de bola, conforme dados do site Soccer Way) pouco importam. A vitória levou o Tupi a um salto na tabela, deixando a zona de rebaixamento para ocupar a 13ª colocação. Além disso, a fartura de bolas na rede adversária garante um saldo positivo, fator fundamental nos critérios de desempate numa competição que promete ser equilibrada até a 38ª rodada, com jogos em ida e volta.
Gosto especial
Além da importância do momento – nas duas derrotas iniciais por 1 a 0, o nível de competitividade do Tupi para a sequência foi questionado, o torcedor teve a chance de comemorar um “troco” no adversário, algoz na tentativa de acesso para a Série B em 2014 – o Papão venceu os dois jogos do mata-mata, ignorando, então, a melhor campanha do time juiz-forano na fase de classificação.
Começo acelerado
Depois de duas partidas “mornas”, diante de Goiás, em casa, e do Vasco, fora, os primeiros movimentos da partida já indicavam que a jornada poderia ser diferente.
A opção carijó em iniciar a partida com o “italiano” Sacilotto mostrou-se acertada logo aos 3 minutos. Em jogada bem trabalhada, coube a ele invadir a área pela esquerda e dar a assistência, consciente, em retribuição a um passe de Thiago Silvy. Próximo à marca do pênalti, Silvy pegou de primeira, sem deixar a bola cair, e acertou o canto direito de Emerson, batido no lance.
Se os dois times já entraram pressionados pela necessidade do primeiro triunfo – o Tupi com a carga maior por estar diante da torcida, o gol definitivamente “abriu” o jogo. Forçando e levando vantagem quase sempre pela esquerda de ataque, o Paysandu apresentava um volume de jogo que nem de longe lembrava a postura que Goiás e Vasco haviam demonstrado.
Lá e cá
E o Tupi, mesmo com as dificuldades de encaixar a marcação, não abdicou do ataque quando conseguia roubar a bola. Mesmo passando sufoco nas oportunidades que não foram poucas do adversário, o torcedor se via diante de uma partida em que os dois times buscavam o gol a todo instante, sem se preocuparem com faltas ou anti-jogo.
Mudança já
O Tupi preferiu não correr o risco de esperar o intervalo para tentar consertar o problema em seu setor direito defensivo. Aos 25, mostrando que a noite era de decisões acertadas, o técnico carijó sacou Formiga da lateral-direita e lançou Vinícius Kiss, fechando a avenida principal por onde o Papão costurava o gol de empate – Formiga não conseguia conter os avanços pelo setor e a cobertura do meio-campo também não funcionava. Kiss e Henrique se alternavam na lateral, e o coringa que vestiu a camisa 10 ainda ficou incumbido, sem a bola, de “colar” nas peças de criação do adversário. No final do primeiro tempo, o ritmo diminuiu um pouco, deixando para a etapa complementar novas doses de emoção.
Kiss amplia
O Paysandu voltou já com alteração – um Leandro pelo outro – e seguiu pressionando. Quando parecia que o contra-ataque carijó estava perdendo a força, ele ressurgiu em grande estilo. Jogada trabalhada novamente com velocidade, mas sem afobação, até que, aos 16 minutos, em jogada com passe de Bruno Costa, que trocou para a perna direita da lateral esquerda antes de cruzar, Sacilotto fez nova assistência precisa, desta vez para Vinícius Kiss, já na pequena área, encostar o pé na bola e sair comemorando.
Serrato faz pintura
Aos 22, Marcos Serrato, considerado pela torcida um dos reforços com melhor desempenho técnico em campo, decidiu ser protagonista. Veio com a bola dominada pela direita de ataque, aproveitou com inteligência os espaços criados pela postura adiantada do Papão e quando se viu diante de Emerson, abdicou da opção de fazer o passe e bateu “com nojo” na bola, como dizem alguns torcedores. De chapa. Na rede: 3 a 0.
Papão reage
Se quando o placar estava mais equilibrado o Paysandu já pressionava desde o início, imaginem agora, tendo que diminuir ou tirar uma diferença de três gols… Com novas mudanças no time, o time paraense partiu com tudo. Aos 31, depois de exigir boas intervenções de Glaysson, conseguiu diminuir a vantagem depois de mais uma bola alçada na área: scanteio da esquerda e Lucas concluiu com o peito, já quase dentro dom gol, mas em posição legal: 3 a 1.
Torcedor olhou para o relógio, viu que faltavam 14 minutos e acréscimos. Quando voltou os olhos para o campo de novo, a bola já estourava no travessão de Glaysson, após um lançamento da esquerda que quase se transforma naquele gol direto.
Dois gols e gritos de olé
O torcedor na arquibancada já não demonstrava a mesma paciência com o time. Sorte dele é que a equipe carijó ainda tinha armas para apresentar no combate. O quarto gol, aos 45 cravados, surge de uma bolaroubada pelo meia Recife, que “estica” o passe na esquerda e corre para a área, para receber o presente de volta e chutar colocado, no canto esquerdo do goleiro, novamente sem defesa.
Desta vez o relógio tornava-se amigo carijó. Exatamente quando ele marcava 45 minutos, veio a “cereja do bolo”. E que cereja saborosa para o torcedor do Tupi! O Tupi trocava passes sem permitir a roubada de bola e a arquibancada em peso passou a gritar olé. Na sequência dos gritos de olé, um lançamento em profundidade do iluminado Sacilotto encontrou Kiss em posição legal, e sem marcação. Emerson saiu no desespero, foi parar quase na intermediária. Para não desmanchar a tradição da noite, de gols bem trabalhados e bonitos, Kiss ignorou o relógio e, como se estivesse no primeiro minuto de partida, arrancou em direção a bola, chegou na frente, driblou o goleiro em velocidade: 5 a 1.
Valeu taça
Para prorrogar o estado de espírito renovado do torcedor do Tupi para a sequência da competição, o clube recebeu, logo após a partida, um troféu comemorativo aos 104 anos de fundação, que serão completados nesta quinta-feira, 26.
Está bem. Foi só a terceira rodada. O Tupi não é o Barcelona e o Paysandu não é o Bayern de Munique. Mas a partida da noite desta terça-feira mostrou um Tupi e também um Paysandu, apesar da derrota acachapante, dignos de seus torcedores, voltados para o ataque., de formas diferentes. E pela bela construção dos cinco gols assinalados numa competição tão equilibrada e por ter alcançado a maior goleada da edição 201 da Série B, o Tupi pode levar com orgulho essa taça para sala de troféus da sede social.
Presente aos “fieis”
O chamado “torcedor fiel” do representante da cidade no futebol profissional foi para casa com a sensação que a goleada veio como um presente para ele. Por sua presença constante na arquibancada, seja no ingrato horário das 21h30, na temperatura baixa que cai ainda mais na região do Estádio Mário Helênio. Por seus apelos e cobranças nas redes sociais, por suas tentativas – até agora sem sucesso – de fazer a cidade respirar com mais orgulho a participação inédita do clube. Para este torcedor fiel, já acostumado a cobrar mais envolvimento da cidade e mais ações efetivas do clube que possam cativar novos adeptos, o triunfo de mão cheia soou também como uma conquista individual, por sua fidelidade sem tréguas.
FICHA TÉCNICA
TUPI X PAYSANDU
TUPI: Glaysson; Formiga (Vinicius Kiss, 30’ 1T), Heitor, Rodolfo Mol e Bruno Costa; Rafael Jataí (Recife, 28’ 2T), Gabriel Sacilotto e Marcos Serrato; Henrique, Thiago Silvy (Michel Henrique, 33’ 2T) e Giancarlo
Técnico: Ricardo Drubscky
PAYSANDU: Emerson; Roniery (Edson Ratinho, 14’ 2T), Gualberto, Pablo e João Lucas; Augusto Recife, Lucas, Rafael Costa e Celsinho (Raphael Luz, 24’ 2T); Leandro Cearense (Leandro Carvalho, INT) e Alexandro
Técnico: Dado Cavalcanti
Gols
TUPI: Thiago Silvy aos 3 minutos do primeiro tempo, Vinícius Kiss, aos 16 e aos 47, Marcos Serrato, aos 23, e Recife, aos 45 minutos do segundo tempo
PAYSANDU: Lucas, aos 32 minutos do segundo tempo
Local: Estádio Mário Helênio, em Juiz de Fora (MG)
Data: 24 de maio, terça-feira
Horário: 21h30 (de Brasília)
Árbitro: Celio Amorim (SC)
Assistentes: Rosnei Hoffmann Scherer (SC) e Diogo Carvalho Silva (RJ)
Cartões Amarelos: Vinícius Kiss, Rafael Mol, Serrato, Recife, Rafael Jataí e Silvy (Tupi); Augusto Recife e Rafael Costa (Paysandu)
Estatísticas (fonte: Soccerway)
O Paysandu perdeu, mas teve maior domínio de posse de bola na partida, com 63% contra apenas 17% do Tupi. Em escanteios o Papão também foi superior: 8 contra 4. Finalizações foram 10 do Bicolor e oito do Carijó. Os donos da casa fizeram 21 faltas e sofreram 14. O ataque paraense foi flagrado em impedimento em sete oportunidades, enquanto o mineiro esteve “na banheira” em apenas uma. As estatísticas foram publicadas no site Soccerway.
Série B 2016 Terceira rodada (arte: Toque de Bola. Se preferir, clique sobre a imagem para ampliar)
Classificação Série B (fonte: CBF. Se preferir, clique sobre a imagem para ampliar)
Texto do jogo: Ivan Elias – Toque de Bola
Informações do jogo: Ivan Elias e Cérix Ramon – Toque de Bola
Informações da competição: site CBF
Fotos: Divulgação e Toque de Bola
Artes: Toque de Bola
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